Rio Grande do Sul

Coronavírus

Mais de 100 enfermeiras e enfermeiros já morreram no combate à covid-19 no Brasil

Levantamento do Observatório da Enfermagem reporta mais de 14 mil casos de infecção e afastamento

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O maior número de perdas está concentrado entre as mulheres (61,1%) e na faixa etária que vai dos 51 aos 60 anos. - EBC

Mais de 100 enfermeiros e enfermeiras já morreram na frente de combate ao coronavírus no Brasil. Até esta terça-feira (12/05), eram 108 óbitos, conforme aponta o Observatório da Enfermagem, o site implantado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) para acompanhar o quadro nacional da covid-19 e seu impacto na categoria. No país, a taxa de letalidade é de 2,18%. “Nossa taxa é altíssima. Na Europa, ela oscila em torno de 0,15%”, compara o presidente do Conselho Regional de Enfermagem/RS (Coren/RS), Daniel Souza. Aqui, portanto, é 14 vezes maior do que na média dos países europeus.

O Rio de Janeiro aparece com o maior número de mortes com 29 registros, seguido por São Paulo com 27, Pernambuco com 15 e Amazonas com 10. Somente seis estados não perderam profissionais: Alagoas, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Piauí, Roraima e Sergipe. O maior número de perdas está concentrado entre as mulheres (61,1%) e na faixa etária que vai dos 51 aos 60 anos.

Mais de 14 mil infectados

O levantamento monitora também o total de profissionais contaminados pela doença e afastados da atividade. Já haviam sido reportados mais de 14 mil casos de infecção e afastamento. São Paulo liderava a contagem de contaminações com 3.382 pacientes, seguido pelo Rio com 3.068. Além de Pernambuco (991 casos), Ceará, Bahia e Santa Catarina igualmente se aproximavam dos mil casos. Hoje, 273 trabalhadores da linha de frente estão hospitalizados.

Falta de equipamentos

“O Brasil demorou muito para se preparar para enfrentar a covid-19”, acentua o presidente do Coren/RS. Recordou a pressão do governo Bolsonaro para privatizar tudo, inclusive os hospitais públicos e observou que “agora é o SUS que está dando conta da pandemia”. 

Ele critica a escassez de equipamentos de segurança para os profissionais de Saúde, a falta de testagem para os profissionais, de leitos de tratamento intensivo, de capacitação para as equipes, de respiradores e mesmo de máscaras. Ao ponto de enfermeiros e enfermeiras estarem eles mesmos, com dinheiro do seu bolso, comprando material para sua proteção.

Denúncias contra hospitais

“Temos duas ações na justiça federal contra dois hospitais por falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para seus trabalhadores”, diz Souza. O conselho regional já recebeu 98 denúncias sobre ausência de EPIs na rede hospitalar do estado. 

“Nós estamos distribuindo as máscaras N95 (que proporcionam maior segurança) adquiridas pelo Conselho Federal de Enfermagem, o Cofen, para colaborar na proteção contra a pandemia”, citou. As primeiras máscaras foram entregues a hospitais e unidades de pronto-socorro de Porto Alegre, Lajeado, Santa Maria, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Bento Gonçalves.

Medo de contaminar a família

Hoje, Dia Internacional da Enfermagem, Souza foi um dos participantes da live A luta dos profissionais de enfermagem na pandemia, promovida pela Rede Soberania e Brasil de Fato RS, e que também teve a participação das enfermeiras Gerusa Bittencourt, de Porto Alegre, Fabiana Baraldo, do Rio de Janeiro e Patrícia Muller, de Lajeado. 

Todos questionaram as condições de trabalho, muitas vezes precárias. “É uma situação muito triste”, queixou-se Gerusa, mencionando a demissão de profissionais de Saúde em Porto Alegre, a serem mais tarde contratados por salário inferior. Fabiana lembrou o medo de contaminar a própria família que leva os trabalhadores a dividirem o aluguel de uma moradia alternativa para não terem de retornar as suas casas. “Não podemos ficar esperando o poder público”, reparou.

Aplausos não bastam

Diante do estresse, o Cofen instituiu um plantão de saúde mental, a Enfermagem Solidária, que atende os enfermeiros e enfermeiras durante as 24 horas do dia. “Há muita gente doente pelas más condições de trabalho já antes da pandemia”, comenta Souza.

Todos gostam de receber cumprimentos, mas também adverte que aplausos não bastam. “É preciso apoio da sociedade. Somos uma categoria que não tem horário de trabalho nem piso salarial”, aponta Souza. “E, na reforma da previdência, nos tiraram a possibilidade de aposentadoria especial mesmo sendo a nossa uma profissão insalubre”, enfatiza.

“Mas, neste ano de 2020, estamos tirando a invisibilidade da enfermagem”, avalia o dirigente, referindo-se ao fato da sociedade estar olhando, finalmente, para a tarefa essencial que executam aqueles que mais se arriscam no enfrentamento de um inimigo que pode ser mortal.

Edição: Katia Marko