Entrevista

"Estou aqui como exemplo para quem não tem coragem de lutar", diz Elza Soares

Representando o feminismo negro, a cantora fala das expectativas para sua apresentação na Virada Cultural

Redação |
Cantora durante show A Mulher do Fim do Mundo
Cantora durante show A Mulher do Fim do Mundo - Marcos Hermes

A dama do samba, Elza Soares, participa neste final de semana da 12ª Virada Cultural da cidade de São Paulo. A cantora apresenta seu último álbum, A Mulher do Fim do Mundo, em um show gratuito, no Palco São João, à meia-noite do sábado para o domingo. Seu último CD, só de músicas inéditas, foi aclamado pela crítica e considerado o melhor de 2015 pela revista Rolling Stones.

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Em entrevista ao Brasil de Fato, Elza fala de suas expectativas para a apresentação, comenta o sucesso de seu último trabalho e como se relaciona com seu novo público. Após A Mulher do Fim do Mundo, a cantora diz se considerar uma porta-voz do feminismo negro.

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"Eu estou aqui para servir de exemplo para muita gente que não tem coragem de lutar e que para no meio do caminho. Não vamos embora! Não pode parar no meio do caminho, não. A gente tem que deixar as portas abertas para todo mundo", afirma.

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Elza já foi homenageada no carnaval de rua de São Paulo pelas 350 percussionistas do bloco Ilu Obá de Min e é fonte de inspiração às mulheres e feministas negras. Mesmo sendo referência como cantora e mulher, Elza diz que precisa ainda tem muito a aprender.

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Confira a entrevista:

Brasil de Fato: Como será sua participação na Virada Cultural neste final de semana?

Elza Soares: A minha participação vai ser com A Mulher do Fim do Mundo. Vai ser um presente para mim, como sempre é. Mesmo estando muito frio eu acho que o público está muito caliente. O público vai acalentar a gente à vontade lá. Vamos ficar com o povo quente de São Paulo e tudo melhora. O show deve vir com toda a força que teve no Circo Voador e outras lugares. Vai vir com toda a ênfase, muita garotada, muita gente maravilhosa.

O que representa essa Mulher do Fim do Mundo?

Essa Mulher do Fim do Mundo representa tudo: liberdade, a luta contra a homofobia, fala do uso de drogas e dos sacrifícios das mulheres, as mulheres que apanham dentro de casa e ficam caladas. Esse CD veio para libertar muitas coisas que estavam aí presas. Eu acho um CD maravilhoso e de liberdade.

Como se explica o sucesso da música Maria de Vila Matilde?

O sucesso de Maria da Vila Matilde eu não sei explicar muito bem, não. Isso é para ver quantas mulheres ainda estão no sofrimento. Como ainda tem mulher sofrendo calada. A Maria de Vila Matilde veio com uma linguagem de liberdade para as mulheres. Essa música é para elas falarem, gritarem, denunciarem. É esse o sucesso.  

Se considera uma porta-voz do feminismo negro?

Lógico que sim! Eu estou aqui para servir de exemplo para muita gente que não tem coragem de lutar e que para no meio do caminho. Não vamos embora! Não pode parar no meio do caminho, não. A gente tem que deixar as portas abertas para todo mundo. Acho que isso para negritude é muito bom.  

O que você acha desse novo movimento de mulheres feministas?

Sensacional! Só isso que posso te dizer. [Esse movimento] tem que trazer mudanças importantes para as mulheres. Você, como mulher, como se sente no meio disso tudo? Maravilhosamente bem apoiada, né? É isso que a gente tem que dar para a mulherada. Uma mulher é bom, duas mulheres é muito bom, três, então, não te digo, quatro, já perdi a conta…

Com seu último CD você atraiu um público muito jovem. O que acha disso?

Eu acho isso muito bom. Acho que a linguagem do CD é para isso mesmo, para atrair um público jovem. É uma linguagem de guitarras, entendeu? Isso atrai muito a juventude. Eles também querem saber de letras boas e as letras são bem fortes. Eu tenho uma relação muito boa com esse público, ela já vem vindo desde o Do Cóccix até o Pescoço. Tenho uma relação muito boa com essa garotada e agora, então, está falando mais alto.

Como foi a homenagem feita pelo bloco Ilú Oba de Min no carnaval de São Paulo?

Nossa, mãe do céu! Sem palavras. Sem palavras de tão bonito que foi.

Nos últimos meses você tem apoiado a mobilização dos estudantes secundaristas e outros movimentos sociais. Como vê o cenário político atual?

Acho que o momento não está para falar de política. O momento é para ver o que está acontecendo. Você primeiro precisa ver o que vai acontecer. Eu prefiro ficar um pouco silenciosa neste exato momento.

E o fim do Ministério da Cultura?

Triste, né? Simplesmente triste.

Tem algo que você ainda não tenha feito ou dito e gostaria de fazer ou dizer?

Eu estou viva, estou respirando, sendo. Enquanto eu estiver viva, respirando e sendo, ainda vai ter muita coisa para descobrir. Ainda estou aprendendo muita coisa. Eu não sei nada. Tudo o que sei é pouco. Então quero aprender mais ainda. Depois que eu aprender muito, com essa garotada que esta aí, eu vou saber o que eu quero.

 

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