Entrevista

"O racismo é o maior câncer do Brasil", diz atriz Elisa Lucinda

Em entrevista exclusiva, Elisa fala sobre o aumento do conservadorismo no Brasil

Rio de Janeiro |
Atriz ganhou o Troféu Raça Negra de 2010, na categoria Teatro
Atriz ganhou o Troféu Raça Negra de 2010, na categoria Teatro - Divulgação

Nos últimos dias, o Rio de Janeiro vivenciou verdadeiros ataques aos direitos fundamentais. O estupro coletivo a uma adolescente de 16 anos chocou o país e o mundo. Além disso, uma mulher foi presa, no Leblon, acusada de injúria racial. Segundo testemunhas, ela teria mandado o funcionário de um supermercado “voltar para a senzala”.  Para falar sobre esses assuntos, o Brasil de Fato entrevistou a atriz, poetisa e ativista Elisa Lucinda.

Brasil de Fato - Semana passada uma madame do Leblon agrediu o gerente de um supermercado e foi presa por racismo. Qual é o alcance do racismo na nossa sociedade?
Elisa Lucinda - O racismo é o maior câncer do Brasil. Ele está nas escolas, no mercado de trabalho, no mundo artístico, nas relações religiosas. Não há uma área que onde se olhe e o racismo não está. Nunca tive um gerente de banco que fosse negro.  Isso é resultado da escravidão e estamos refém disso.

Brasil de Fato - Como avançar nesse assunto? Por que o racismo continua sendo um problema que o Brasil não consegue superar?
O racismo é um assunto de todos e não apenas dos negros. A escravidão foi onde exercemos a crueldade humana no seu mais alto grau. Está mais do que na hora de honrarmos nossas conquistas democráticas. Temos que fazer como nos Estados Unidos e Europa. Se matarem um negro temos de ir todos para a rua protestar.

Brasil de Fato - Você que a sociedade está mais conservadora? 
Estamos vivendo uma onda de conservadorismo muito grande. Isso é muito consistente no governo do Temer. Logo nos primeiros dias do governo interino ficaram claras quais seriam as prioridades de Temer. Não estavam lá colocadas as questões da igualdade racial, do direito da mulher e dos direitos humanos. 

Brasil de Fato - Vimos nesses últimos dias muitas pessoas acusando a adolescente de 16 anos, vítima de estupro, dizendo que ela teria culpa. Você acha que isso é fruto desse conservadorismo?
A cultura do estupro está impregnada na nossa sociedade. Somos uma sociedade estuprada. Índias e negras foram escravizadas e violentadas de forma sistemática. E também as mulheres brancas, que foram escravizadas e estupradas por seus maridos. Esses assuntos estão todos interligados. 

Brasil de Fato - Para onde estamos caminhando? Você acha que haverá retrocessos na sociedade e nas políticas públicas de igualdade racial e social?
Embora eu tenha muitas críticas ao governo do PT, é preciso reconhecer que houve avanços fundamentais na área social. Ninguém pode deter um Emicida, por exemplo, assim como as ocupações das escolas e outras reivindicações dessa geração de jovens.

Brasil de Fato - O que você achou do fato do governo interino ter recebido o Alexandre Frota no Ministério da Educação e discutir com ele reivindicações para o setor?
As vozes do Alexandre Frota e do Jair Bolsonaro são prejudiciais à sociedade. O Brasil caminha na direção contrária do mundo. As novas políticas e os governos modernos incluem as mulheres e pessoas de outras etnias na sua linha de frente. 

Brasil de Fato - Como você avalia o atual ambiente político?
O brasileiro não está contente com o que está vendo. Quem bateu panela contra a Dilma também não está feliz com o atual governo. Eu não quero ter razão, só quero um Brasil melhor.

 

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