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DESENVOLVIMENTO

Paulo Cayres: “Se continuar nesse ritmo, em breve não teremos mais indústria”

Presidente da CNM fala sobre a política de enfraquecimento da indústria nacional e o impacto no aumento do desemprego

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Cayres falou sobre o aumento do número de desempregados após o golpe e a política de enfraquecimento da indústria nacional
Cayres falou sobre o aumento do número de desempregados após o golpe e a política de enfraquecimento da indústria nacional - CNM/divulgação

O Brasil de Fato entrevistou Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM). Na conversa, ele falou sobre o aumento do número de desempregados após o golpe, a política de enfraquecimento da indústria nacional que vem sendo tomada pelo atual governo e sobre a perseguição que o ex-presidente Lula vem sofrendo pela direita. Além dos ataques à democracia, que rebate diretamente na vida da classe trabalhadora.

Brasil de Fato – Como você avalia o aumento do desemprego no País?

Paulo Cayres – Na verdade, o desemprego na indústria tem sido cruel. E isso tudo se deve, na minha visão, à Operação Lava Jato. Por exemplo, nas acusações infundadas ao presidente Lula, na retirada de uma presidente legitimamente eleita, comprovadamente que não fez pedaladas. Trabalhamos com provas, não com convicção. O que eles fizeram foi mudar a história desse País. A indústria hoje é uma tragédia do ponto de vista não só do desemprego que está colocado. Foram 250 mil postos de trabalho fechados no ramo metalúrgico. Na indústria como um todo chegou a 1 milhão de desempregados.
E a Operação Lava Jato, só ela, nesse universo de 14 milhões de desempregados no Brasil, é responsável por algo em torno de três milhões de desempregos. Porque ela pega um corrupto dentro de uma empresa, vamos dizer, a JBS, e processa a empresa toda. Então o meu questionamento com a operação Lava Jato é que ela atacou a indústria brasileira. Hoje a indústria de transformação no Brasil é responsável por cerca de 8% do PIB. Em breve nós não teremos mais indústria, se continuar nesse ritmo.

Qual o impacto desse cenário que você descreveu aqui em Pernambuco, no Complexo de Suape?

Nós resolvemos denunciar a desconstrução que eles estão fazendo da política de inclusão social e conteúdo local dos governos Lula e Dilma. Começamos com 2 mil empregos em 2003. Chegamos no auge em 2013 com 90 mil postos e agora estão desconstruindo. O efeito em Suape é o mesmo de Niterói (RJ), lá você tinha cerca de 12 mil trabalhadores e hoje tem 800. Naquela lógica da operação Lava Jato de atacar a empresa, em vez de prender o diretor corrupto e manter as empresas funcionando. E elas perdem o contrato com a Petrobrás, nessa lógica de acabar com o conteúdo nacional.

Então, como eles não planejam continuar com a política de conteúdo nacional, nossas empresas ficam fragilizadas, e aí o efeito vai ser desemprego. Tem que se cobrar do governo do estado, foi ele que estimulou a vinda das empresas para cá, ele que dá benefícios, ele recebeu uma população. Suape necessitaria de R$ 1 bilhão de financiamento. E não dá pra dizer que isso é muito dinheiro, porque quem investia R$ 25 bilhões no Itaú, que é um setor econômico, rentista, que não ajuda em nada nosso País, poderia muito bem colocar esse empréstimo para recuperar Suape.

Quais seriam as saídas de emergência para recuperação da indústria?

Revogar essa medida da reforma trabalhista é um elemento para fortalecer a indústria. O presidente Lula gerou praticamente 20 milhões de empregos sem mudar uma vírgula na CLT. E os efeitos dessa reforma de imediato que era para gerar emprego, segundo eles, são demissões. Então onde estão os efeitos positivos dessa reforma? Um segundo elemento é dialogar com os empresários sérios que querem fortalecer o parque industrial, reestabelecer o crédito, tanto para o povo poder comprar, quanto as indústrias, aquelas que estão em dificuldade. O próprio Estaleiro de Suape é um exemplo de que se colocar uma grana ele fecha as contas e começa a produzir novamente. E o mais importante é reestabelecer a democracia no País, para que a pauta da classe trabalhadora, a pauta dos eleitores e do povo brasileiro seja recolocada. Eu defendo diretas já, eleições de 2018, porque tem esse risco de eles não quererem a eleição.

Sobre a condenação de Lula e a possibilidade de ser candidato no ano que vem...

Sobre o presidente Lula, já está mais do que provado que a condenação dele tinha um objetivo claro: condenar aquele que incluiu a classe trabalhadora, que distribuiu renda, que fez o pobre ascender nesse país, que elevou a classe média. A própria peça de acusação com mais de 295 páginas do Sérgio Moro não mostra nada que seja provado contra o presidente. Quando você tem um estado de exceção, você condena sem provas.

Então no meu entendimento, se o tribunal for fizer a justiça que tem que ser feita, baseada no diz a Constituição, o presidente Lula terá essa condenação de primeira instância cancelada. Porém, como eu disse, não está se fazendo justiça, está se fazendo politicagem, está se desconstruindo um mito, que é o que o presidente Lula se tornou. Ele, na minha opinião, tanto este ano quanto no ano que vem, se tiver eleição ele já ganhou. Se eles [justiça] por acaso fizerem a coisa correta, que é inocentá-lo, a elite vai buscar um outro mecanismo. Não pense que eles vão parar.

*Com a colaboração de Vanessa Gonzaga

Edição: Catarina de Angola