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“Não há democracia sem a reposta para quem mandou matar Marielle", diz Mônica Benicio

A viúva da vereadora executada em 2018 disse que o Brasil passa vergonha nacional ao não solucionar o caso

Curitiba |
A arquiteta e militante dos direitos humanos Mônica Benício participa de conferência sobre os rumos da democracia, em Curitiba.
A arquiteta e militante dos direitos humanos Mônica Benício participa de conferência sobre os rumos da democracia, em Curitiba. - Gibran Mendes

A conferência “Para onde vamos? Desafios da Democracia hoje”, realizada em Curitiba,nesta terça 08,  pela Associação Brasileira Juristas pela Democracia (ABJD), contou com a participação da arquiteta e militante dos direitos humanos Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco. No dia 14 de março de 2018, após uma reunião do mandato, a vereadora do PSOL e o motorista do carro em que ela estava, Anderson Gomes, foram executados no bairro da Lapa, centro do Rio. Há mais de um ano, a pergunta “Quem mandou matar Marielle Franco”, continua sem resposta.

Em entrevista para o Brasil de Fato, Mônica falou sobre as dificuldades em se avistar um horizonte para a democracia na atual conjuntura. Por outro lado, reforçou a importância da resistência e principalmente da mobilização social e divulgação de crimes como o de Marielle. “Minha vida tem sido devotada para essa luta, pela solução deste crime e vai além. Porque lutar por Marielle é lutar por democracia e por uma sociedade mais justa, ” disse.

Confira a entrevista:

No contexto deste evento em que se debate os rumos da democracia, a partir da sua militância e da sua luta neste último ano, o que é lutar por democracia?

É realmente difícil falar sobre a democracia, pois a conjuntura política não favorece, o cenário atual não é dos melhores, muito menos nossas perspectivas. Mas estamos aqui mostrando resistência na luta por nossa frágil e jovem democracia que mais do que nunca tem que ser defendida. Eventos como este nos mostram que não estamos sozinhos, que estamos caminhando de mãos dadas. Porque o neofascismo está aí e nós só vamos conseguir combater com diálogo, empatia e solidariedade.

Todos os dias tem fuzilamento da população negra no Brasil. Tivemos recentemente a notícia do fuzilamento com 80 tiros vindos do Exército brasileiro que mataram o músico Evaldo dos Santos Rosa..., no Rio de Janeiro. Como esse fato se insere na luta da Marielle e no contexto da luta pela democracia?

Sim, fatos como este são uma espécie de rotina em nosso país. Alguns mais divulgados, outros menos. Assim como também são executados diariamente defensores e defensoras de direitos humanos no Brasil, como aconteceu com a Marielle. Há mais de um ano sem saber quem foi que mandou matar Marielle Franco. Isso é uma grande violação na nossa democracia. Não há democracia enquanto não houver resposta para quem matou Marielle. Casos como estes precisam ser divulgados, falados diariamente para que possamos dar conhecimento do nível de barbárie. Não é novidade o genocídio da população jovem negra, não é novidade que que o Brasil é o quinto pais com maior índice de feminícidio.

Estamos há três meses do atual governo e um ano sem solução para o caso Marielle Franco. Como tem sido sua expectativa e atuação no caso?

Muito lamentável que tenhamos o chefe de Estado não se colocando sobre o assunto nem agora e nem durante a campanha eleitoral, quando todos os presidenciáveis foram questionados. Ele foi o único que optou pelo silêncio. Trata-se de um crime contra uma parlamentar, um crime de visibilidade internacional. O Brasil hoje passa vergonha internacional quando não responde quem mandou matar Marielle Franco. E não se trata de direita ou esquerda, pois Marielle era uma parlamentar, a única mulher negra na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro e foi executada no exercício da sua função. Então, o estado brasileiro precisa ter comprometimento.  

Há uma luta constante pela democracia e neste sentido gostaria que você falasse o que é lutar pela democracia a partir dos valores deixados por Marielle?  

A noite de 14 de março de 2018, dia da morte de Marielle Franco, representa um divisor de águas em nosso contexto democrático. Não é à toa que o mundo inteiro se choca com a execução bárbara quando se entende que vivemos num regime democrático. Então, a gente precisa continuar falando sobre este dia. Precisamos também ressignificá-lo com esperança. A imagem de Marielle é inspiração para resistência. Não dá para falar em democracia sem falar de Marielle. Importante que tenhamos este símbolo como farol para luta. Hoje minha vida é devotada para a solução deste crime e vai além, porque lutar por Marielle é lutar por democracia e por uma sociedade mais justa, pela vida e liberdade de todas as mulheres.  Por essa democracia que a gente tem que lutar.

Edição: Redação