Rio Grande do Sul

MORADIA

MPF e DPU afirmam responsabilidade da Fraport na realocação da Vila Nazaré

Documento afirma que empresa é responsável pelo reassentamento das 1300 famílias; MTST cobra cumprimento da recomendação

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Área ocupada pelas famílias da Vila Nazaré há 50 anos está situada no trajeto de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho
Área ocupada pelas famílias da Vila Nazaré há 50 anos está situada no trajeto de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho - Foto: Guilherme Santos/Sul 21

Existente há mais de 50 anos, a comunidade da Vila Nazaré, localizada na Zona Norte de Porto Alegre (RS), abriga cerca de 1.300 famílias. A área que ocupam está situada no trajeto de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho, que desde janeiro de 2018 está oficialmente nas mãos da concessionária alemã Fraport. A empresa, que havia exigido a remoção de todas as famílias até o final do ano passado, de acordo com a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU), é responsável pela realocação dos moradores.

A recomendação, que em primeiro momento havia sido expedida em caráter reservado, com o objetivo de preservar as tratativas de mediação junto à empresa, em busca de uma solução habitacional adequada aos moradores da Vila Nazaré, foi tornada pública na tarde dessa quinta-feira (6), após a empresa não apresentar nenhuma solução habitacional adequada.

A empresa alemã foi notificada de sua responsabilidade e obrigação pelo reassentamento, inclusive com relação ao custo, estimado em estudo preliminar da União em aproximadamente R$ 140 milhões, para atender as famílias que residem na Vila Nazaré, abstendo-se de realizar qualquer remoção forçada ou contra a vontade dos moradores do local.

A empresa foi notificada ainda que uma eventual realocação voluntária de famílias da Vila Nazaré para empreendimentos custeados com recursos federais, a exemplo dos empreendimentos habitacionais Minha Casa Minha Vida “Irmãos Maristas” e “Senhor do Bonfim”, não a exime de sua obrigação e responsabilidade de arcar com o valor dessas habitações, tendo em conta ser exclusivamente da concessionária a integral responsabilidade acerca das desocupações. Inclusive de custeio, com total observância aos parâmetros constitucionais e legais relativos a reassentamentos e realocações.

Posicionamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)

Há mais de dois anos acompanhando a luta dos moradores da Vila Nazaré, o MTST lançau uma nota exigindo que a Fraport assuma suas responsabilidades perante os moradores. O movimento afirma que o reassentamento da comunidade deve acontecer conforme as necessidades comunitárias e de acordo com as exigências da legislação brasileira e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, bem como recomendam MPF e DPU. Leia a íntegra da nota:

MPF e DPU afirmam responsabilidade da FRAPORT na realocação da Vila Nazaré, em Porto Alegre. O MTST exige que a FRAPORT cumpra a recomendação

Há mais de 2 anos o MTST acompanha e apoia a luta e a resistência das quase 2000 mil famílias da Vila Nazaré, comunidade na Zona Norte de Porto Alegre. Foram muitas as denúncias sobre as violações de direitos cometidas pela FRAPORT e pelo DEHMAB [Departamento Municipal de Habitação] divulgadas pela comunidade e pelo movimento. A partir destes esforços foi instalado inquérito civil pela Procuradoria Regional de Direitos do Cidadão. Em divulgação oficial nesta quinta-feira (06/06), o MPF [Ministério Público Federal] e a DPU [Defensoria Pública da União] comunicam a quebra do sigilo do Inquérito Civil, onde reconheceram a responsabilidade da FRAPORT, transnacional alemã, no reassentamento das famílias da Vila Nazaré em Porto Alegre.

As obras de ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho ameaçam a Vila Nazaré há muitos anos. Desde 2016 a FRAPORT é a operadora do aeroporto, quando venceu a licitação pública para explorar o seu uso por 25 anos. Uma das primeiras ações da corporação foi contratar a Itazi – uma empresa especializada em remoção, conhecida por trazer agilidade ao processo de extirpação de comunidades. Apesar disso, Stefan Schulte, diretor da FRAPORT, afirmou que não tem “nada a ver" com a realocação da comunidade, durante a reunião dos acionistas da transnacional na Alemanha.

Frente ao posicionamento da FRAPORT, o MPF e a DPU notificaram a empresa sobre sua “responsabilidade" e “obrigação" pelo reassentamento da Vila Nazaré, "inclusive com relação ao custo", estimado em aproximadamente R$ 140 milhões. A recomendação é que a empresa atenda o direito à moradia de todas as famílias que residem no local, sem recorrer a propostas de reassentamento que não estão de acordo com os direitos da comunidade.

Os dois loteamentos apresentados como alternativas de moradia pela prefeitura de Porto Alegre são considerados insuficientes: um deles, mais próximo da Nazaré, tem apenas 364 unidades; o outro, no extremo norte da cidade, para onde iria a maior parte das famílias, é afastado de serviços básicos de educação, saúde e transporte públicos. Além disso, a comunidade não deseja ser dividida - os laços sociais construídos ao longo de seis décadas de convívio devem ser respeitados. Para completar, comércios não estão sendo considerados no realojamento, o que significa, para muitas famílias, perder suas fontes de rendam, desrespeitando seus direitos econômicos.

A desinformação e o medo são alimentados pela FRAPORT e pela prefeitura de Porto Alegre como forma de agilizar a saída das famílias: muitas pessoas souberam que perderiam suas casas apenas por notícias na televisão e no rádio, comprovando que não participaram em nenhum momento da tomada de decisão sobre seus destinos; serviços de atendimento à população foram aos poucos desativados na comunidade - posto de saúde e escola infantil fechados, esgotos entupidos, ruas esburacadas. É importante ressaltar que existem terrenos ociosos – inclusive públicos – em área vizinha a Vila Nazaré que podem ser destinados para a moradia popular.

O MTST exige que a FRAPORT assuma suas responsabilidades perante a Vila Nazaré fazendo com que o reassentamento da comunidade se dê conforme as necessidades comunitárias e de acordo com as exigências da legislação brasileira e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, bem como recomendam MPF e DPU.

EXIGIMOS QUE O DIREITO À MORADIA DIGNA SEJA RESPEITADO!

* Com informações da Assessoria de Comunicação Social do Ministério Público Federal.

Edição: Marcelo Ferreira