Há uma desordem de pensamento e uma imprevisibilidade de palavras. Muros e descaminhos são construídos de dentro para fora. A energia que congrega o equilíbrio e a vida do país se desmancha na liquidez, como diria Zygmunt Bauman.
Tomemos a questão do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Somos o epicentro dos debates e das críticas. A opinião pública mundial nos aponta o dedo.
O desmatamento na bacia do Rio Xingu cresceu 44% em maio e junho deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são do Sirad, boletim publicado a cada dois meses.
O INPE aponta que, entre janeiro e o dia 19 de agosto último, houve um aumento de 83% das queimadas em relação ao mesmo período de 2018, com 72.843 focos de incêndios. Em efeito dominó, as chamas se alastram pela Amazônia.
Quando uma árvore é derrubada e o fogo destrói a floresta, quando as águas são contaminadas e os rios secam, quando sonhos viram desertos e os pássaros deixam de voar, quando não há mais sombras e nem horizontes... milhões de vidas se perdem pelos olhos desumanos da estupidez e da ignorância. A quem interessa sangue verde derramado?
Os Três Poderes devem estar à altura do assunto. Devemos priorizar a construção de leis e de políticas públicas eficazes de preservação, proteção e fiscalização ambiental que possibilitem o desenvolvimento sustentável com soberania. É preciso atenção urgente, não só para com a Amazônia, mas também para com os biomas Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. Meio ambiente é questão de Estado.
Aceitar a ajuda financeira internacional não significa perda da soberania. Leia-se aqui o Fundo Amazônia. Temos que ter humildade e sabedoria para compreender a nossa dimensão e a nossa responsabilidade para com o planeta Terra.
Tudo está conectado: pessoas, meio ambiente, cidades, diversidades, liberdade, justiça, garantias sociais, previdenciárias e trabalhistas, bases angulares de uma sociedade humanista e humanitária que perseguimos. O elo é a velha e boa democracia, mesmo com seus problemas, desafios e agressões que lhe fazem todos os dias. Tal qual o seu nascimento, na Grécia antiga,, está a certeza de que cada vez mais temos que acariciá-la e deixá-la seguir o seu rumo.
A democracia é a única certeza que temos para combater a miséria e as desigualdades do nosso Brasil. Esse é o segredo.
* Senador (PT/RS)
Edição: Marcelo Ferreira