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É, o golpe foi golpe mesmo

A declaração de Temer saiu como se ele falasse que tomou um pingado com pão na chapa

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
“Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe", afirmou Temer no programa Roda Viva
“Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe", afirmou Temer no programa Roda Viva - Reprodução

A entrevista do ex-presidente Michel Temer (MDB) no programa Roda Viva escancarou o que todo mundo sabia, mas que uma parte dos formadores de opinião não tem coragem de assumir: o golpe de 2016 contra a presidente Dilma Rousseff (PT) foi golpe mesmo. Nada dessa coisa de pedaladas fiscais ou qualquer desculpa arranjada para dar ar constitucional ao impedimento dela. 

“Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe. O jornal Folha (de São Paulo) detectou um telefonema que o ex-presidente Lula me deu em que pleiteava para impedir o impedimento. Eu tentei. Mas eu confesso que a movimentação popular era tão grande que os partidos já estavam vocacionados para a ideia do impedimento. Eu não era adepto do golpe”. 

Surpreende que a “confissão de culpa” foi encarada com naturalidade pelos jornalistas da bancada, aliados, possivelmente, do golpe. A declaração de Temer saiu como se ele falasse que tomou um pingado com pão na chapa. O ex-golpista declarou com a segurança de que não será punido por seus atos. Aliás, Temer usa Lula como seu álibi ao mencionar conversas que teve com o líder petista antes da votação, como revela reportagem da Vaza Jato. Para ele, o golpe foi parlamentar, popular e midiático. A presidência caiu no seu colo porque ele era a pessoa certa no lugar certo. Aham, acredite quem quiser. 

A “coragem” de Temer três anos após a derrubada de Dilma não é a mesma que se observa na imprensa, aliada do golpe. Vai demorar muito para que os patrões da comunicação admitam que inflamaram na população um sentimento que somente o impedimento de Dilma – golpe mesmo – poderia retomar o crescimento econômico. Em 2016, o argumento contra as pedaladas era que a ex-petista promoveu estelionato eleitoral ao usar bancos públicos para ajustar as contas. Então, nesse sentido, a imprensa brasileira cometeu estelionato editorial ao dizer, por exemplo, que se Dilma saísse o PIB dobraria. 

Edição: Lia Bianchini