RISCO

Privatização da Petrobras vai na contramão do resto do mundo, afirma especialista

Venda da empresa compromete economia e segurança energética do país, segundo professor de relações internacionais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A Petrobrás é a sétima maior produtora de petróleo do mundo, com produção de 1,9 milhões de barris por dia
A Petrobrás é a sétima maior produtora de petróleo do mundo, com produção de 1,9 milhões de barris por dia - Divulgação/ Petrobras

A Petrobras é uma das empresas que está na mira do pacote de privatizações do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Em agosto deste ano, o presidente afirmou que "estuda privatizar qualquer coisa no Brasil", incluindo a estatal petrolífera, que completa 66 anos nesta quinta-feira (03).

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O cientista político e professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC) Igor Fuser apontou, em entrevista à Rádio Brasil de Fato, que o movimento realizado pela atual gestão coloca em risco a segurança energética do país.

Ele explica que o Brasil se situa na contramão do que fazem outros países, principalmente os de grande porte e que exercem influência internacional, como China, Estados Unidos e Rússia. Essas nações, segundo Fuser, ao contrário do que faz o governo brasileiro, têm buscado fortalecer seu posicionamento na questão da energia.

“A Petrobras conseguiu, ao longo dos anos, resolver os problemas de abastecimento de energia do Brasil. A energia é vital para a economia, para segurança e para o bem-estar de qualquer país no mundo.Você não encontra em nenhum outro lugar uma política de destruição da própria empresa nacional de petróleo como a que é feita no Brasil”, critica.

A Petrobrás é a sétima maior produtora de petróleo do mundo, com produção de 1,9 milhões de barris por dia. Nos últimos cinco anos, de todo patrimônio estatal privatizado no Brasil, 50% pertencia à Petrobras.

Fuser classifica o processo de privatização da estatal como um “crime contra o Brasil”. Ele ressalta que a empresa é um patrimônio do povo brasileiro e que sua defesa não é uma bandeira política ligada somente à esquerda.

Sua criação, como lembra o cientista político, foi resultado de mobilização que envolveu diversos setores da sociedade, entre estudantes, conservadores, intelectuais e militares.

“Estão destruindo o maior patrimônio econômico do povo brasileiro. É um esquartejamento, um desmonte total, que envolve a venda de dutos, das distribuidoras, de postos de gasolina e unidades do setor petroquímico”, pontua.

O pioneirismo da Petrobras no desenvolvimento de tecnologias próprias para a exploração do pré-sal também foi ressaltado por Igor Fuser para demonstrar a importância da empresa no cenário nacional. As reservas situadas em águas ultraprofundas estão entre as mais importantes descobertas em todo o mundo na última década.

“Até agora o único lugar do mundo onde existe esse tipo de petróleo, nas profundezas do subsolo do mar, é no litoral brasileiro, e a Petrobras foi pioneira. O resultado é que, em poucos anos, a Petrobras estava obtendo mais da metade do petróleo fornecido e consumido no Brasil do pré-sal”, acrescenta.

A intenção de privatizar a estatal do petróleo remonta ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O plano foi interrompido durante os governos petistas (2003-2016) e retomado após o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Sob o governo Michel Temer (MDB), a possibilidade de venda começou ainda em 2016 na gestão de Pedro Parente e, agora, o discurso segue adiante com o pacote de privatizações do governo Bolsonaro, encabeçado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Confira a íntegra da entrevista aqui

Edição: Guilherme Henrique