Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Afinal vitórias populares

"Houve uma grande virada na América Latina"

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Candidato Kirchnerista vence e promove a retomada da esquerda na Argentina
Candidato Kirchnerista vence e promove a retomada da esquerda na Argentina - Foto: AFP

Em julho de 2017 estive na Argentina em viagem de férias, conversei com amigos, com militantes e até entrevistei o Juan Grabois, advogado que serve de meio de campo entre o Papa Francisco e os movimentos sociais. Retornei convencido que o peronismo retornaria vitorioso nesta eleição presidencial. Cristina estava retornando à politica pelo Senado e se elegeu em outubro do mesmo ano.

A política neoliberal de Macri já havia levado à miséria o povo do país vizinho quando fez a opção por “honrar” compromissos com os credores internacionais, chamados de abutres pelos peronistas. Já então, até mesmo alguns moradores da Recoleta e Palermo, bairros da elite de latifundiários argentinos, estavam em desacordo com Macri. Sua política era o assunto principal nos cafés e restaurantes de Buenos Aires.

Nas cidades da fronteira com o Rio Grande do Sul, Paso de los Libres e Santo Tome, em frente a Uruguaiana e São Borja, a mão de comércio se invertia. Em vez dos brasileiros irem até o outro lado do rio Uruguai para comprar gêneros alimentícios e alguns eletrodomésticos, como foi comum durante os mandatos dos Kirchner, o comércio brasileiro enchia as burras com argentinos lotando os supermercados em busca de preços mais baratos.

Isto durou até o ano passado, quando nem mesmo fazer compras no Brasil era mais possível. Em março deste ano, um carro pequeno argentino para atravessar a ponte internacional pagava somente de pedágio a importância de $600 (seiscentos pesos). A situação dos trabalhadores estava insustentável. As viagens de férias, que davam um enorme movimento nas aduanas de Paso de Los Libes e Santo Tomé, haviam caído em 80 por cento.

Vários argumentos eram usados pelos defensores do neoliberalismo, principal deles era o mesmo que os adeptos de Bolsonaro usaram aqui, os governos anteriores haviam quebrado o país com a corrupção desenfreada. Nunca provaram nada, embora a grande imprensa argentina tenha feito denúncias contra Cristina, da mesma forma que fizeram contra Lula aqui no Brasil. Nunca provaram nada.

Pois bem, não conseguiram continuar enganando. Houve uma grande virada na América Latina. O modelo chileno foi a bancarrota e, embora com uma economia “acertada”, seu povo estava faminto. O neoliberalismo chegou ao seu final em nossas plagas. Porem temos que ser cuidadosos. As vitórias foram apertadas, ainda existem milhões de brancos que gostam de ser enganados e de sentir-se superiores aos povos originários. É preciso uma agenda de união em defesa das nossas democracias e dos mais pobres. Bolsonaro não perde por esperar. Nas próximas eleições municipais já sofrerá sua primeira derrota.

* Jornalista 

Edição: Marcelo Ferreira