Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO

PL que autoriza ensino domiciliar no RS será votado na terça (05) na CCJ

Relatora apresentou parecer contrário ao texto, indicando inconstitucionalidade do projeto

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Deputada Juliana Brizola (PDT) é a relatora do PL 170 2019, de autoria do deputado Fábio Ostermann (Novo)
Deputada Juliana Brizola (PDT) é a relatora do PL 170 2019, de autoria do deputado Fábio Ostermann (Novo) - Foto: Vinicius Reis/Assembleia Legislativa/Divulgação

O Projeto de Lei que trata da educação domiciliar (homeschooling) no Rio Grande do Sul volta a ser apreciado, nesta terça-feira (05), pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Na última sessão da comissão, a relatora, deputada Juliana Brizola (PDT), apresentou parecer contrário ao texto, indicando a inconstitucionalidade por inúmeras incompatibilidades com as constituições Federal e estadual, bem como com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).

De autoria do deputado Fábio Ostermann (Novo), o PL 170 2019 propõe assegurar que pais e mães possam optar entre a educação escolar e o ensino doméstico. O parecer de Juliana Brizola, apresentado na CCJ no dia 29 de outubro, aponta que a legislação trazida para justificativa a legalidade da matéria contraria princípios basilares da legislação.

Para a relatora, a escola, como espaço educacional privilegiado de socialização, de informações e de conhecimento, ainda adquire uma atribuição fundamental na construção de uma cultura de respeito aos direitos da pessoa humana em sua essência. “As funções não se resumem, simplesmente, ao ensino, apontam que a socialização da criança e do jovem, no convívio escolar, tem um papel fundamental em suas vidas, reafirmando que a escola não é necessária apenas pelo conhecimento que transmite, mas pelo contexto no qual ele é transmitido”.

Em meio às discussões na CCJ, Fábio Ostermann pretendia apresentar um “contraparecer” ao relatório, mesmo sem peso jurídico. No entanto, um pedido de vista do deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) travou a manobra.

Entidades na defesa da educação

A posição da deputada é corroborada por diversas entidades da área da educação, entre elas a Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD), a Faculdade de Educação da UFRGS, o ANDES/UFRGS. O Fórum de Combate à Intolerância e ao Discurso de Ódio, que congrega essas entidades, convoca a comunidade para acompanhar a sessão da CCJ, a partir das 9h da terça-feira (5), e pressionar os deputados para que o projeto não seja aprovado na Comissão.

Na interpretação da Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD), que conta com mais de 15 mil participantes no estado, a educação domiciliar não reconhece as crianças e os jovens como sujeitos de direito, privando-os do espaço de convivência escolar, onde podem entrar em contato com a pluralidade de origens sociais e de perspectivas sobre a vida e o mundo. “É uma forma de individualismo extremo que não reconhece a escola como espaço coletivo de participação e de exercício de cidadania, afetando negativamente modelos democráticos de sociedade”, afirma o informativo da AMPD.

Ainda conforme o grupo, o sistema fragiliza o direito à Educação e à escola pública, pois pode servir de disfarce, por exemplo, para a exploração do trabalho infantil doméstico, o comércio informal nas ruas, o trabalho rural, a participação em atividades ilícitas e a exploração sexual de crianças e jovens.

“Parte dos parcos recursos públicos destinados à educação pública deverão ser destinados ao acompanhamento da educação domiciliar, incluindo não só a aplicação de exames de conhecimentos, mas também a fiscalização de situações de violação de direitos humanos. E mais, a escola faz parte da rede de proteção à infância e é o local em que professores atentos fazem o diagnóstico e comunicam ao Conselho Tutelar situações de violência doméstica”, pontua o informativo da AMPD.

Leia aqui a íntegra do parecer da relatora.

* Com informações do ANDES/UFRGS

Edição: Marcelo Ferreira