Rio Grande do Sul

Literatura

Biografia sobre Frei Betto será lançada no SindBancários na próxima terça-feira (12)

A jornalista Evanize Sydow e o historiador Américo Freire autografam o livro sobre religioso e militante político

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Livro revela hábitos, carreira  literária, e traz sua participação na Teologia da Libertação e atuação nas greves do ABC paulista
Livro revela hábitos, carreira literária, e traz sua participação na Teologia da Libertação e atuação nas greves do ABC paulista - Foto: Divulgação

Filho de uma tradicional família mineira, com mãe católica e pai avesso aos homens de batina, Frei Betto teve uma infância e adolescência agitadas em Belo Horizonte na década de 60. Com um primo, se fantasiava de Zorro para entrar na casa dos amigos à noite e assustar as “vítimas”. A dupla fazia dublagens de artistas como Elvis Presley e Maurice Chevalier e chegaram a marcar uma apresentação na TV Italocomi, da qual Frei Betto desistiu. Sua carreira artística não decolou, mas a paixão pelos livros já era latente e o talento para escrever, também. Foi na mudança para um colégio público, onde estudava à noite e com colegas de várias classes sociais, que Betto começou a mudar. Logo depois, conheceu e entrou para a Juventude Estudantil Católica e percebeu que tinha uma vocação: a religiosa.

Sindicato dos Bancários

Essas e tantas outras histórias saborosas estão na biografia “Frei Betto”, escrita pela jornalista Evanize Sydow e o historiador Américo Freire e publicada pela Civilização Brasileira. A obra será lançada no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre no próximo dia 12 de novembro, às 19h, com a presença de Frei Betto, Evanize Sydow e Américo Freire.

Lançamentos internacionais

O livro foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e lançado em Cuba durante a Feira Internacional do Livro, pela Editora José Martí. Em 2020, a biografia será lançada no Reino Unido pela Sussex Academic Press.

Os dois autores revelam detalhes da vida e da obra de Frei Betto, passando por momentos-chave como a descoberta de sua vocação, a militância na educação e na Igreja e o engajamento na luta contra a ditadura militar no Brasil, a partir de 1964. Sua resistência lhe rendeu uma prisão, mas também um dos seus principais livros: “Batismo de sangue”, em que conta a participação dos frades dominicanos do Convento das Perdizes na Aliança Libertadora Nacional e na captura e morte de seu principal líder, Carlos Marighela.

Temas polêmicos

Os autores fizeram longas entrevistas com Frei Betto para o livro e não deixaram temas polêmicos de fora da obra, como o fato do biografado não ter sofrido tortura na prisão por ser sobrinho de um general que tinha ligações com os militares no poder. A controversa saída de Frei Betto do governo Lula, registrada no livro “A mosca azul”, e as críticas que recebeu dos petistas por isso também estão registradas. Os autores mostram como Frei Betto mantinha relações com vários setores da sociedade e também circulava com desenvoltura e tinha bom diálogo com pessoas de classes sociais diferentes.

O livro traz a sua participação na Teologia da Libertação, corrente mais progressista da Igreja Católica, e sua atuação nas greves do ABC paulista, onde estreitou a amizade com Lula, na criação do Partido dos Trabalhadores e nas campanhas petistas à Presidência da República. Revela também seus hábitos simples, sua carreira literária e a sedução que exerce sobre as mulheres. Para Frei Betto, que, segundo a obra, já experimentou o Santo Daime e se consultou com cartomantes, o celibato proporciona a liberdade de poder ter várias amigas, sem o compromisso de um casamento.

Ajuda aos amigos

A sua vocação para ajudar os amigos e pessoas em dificuldades materiais ou espirituais é uma característica ressaltada na biografia de Frei Betto. Na doença e na morte de Tancredo Neves, por exemplo, Betto era uma presença frequente no hospital e, por ordem de dona Risoleta Neves, viajou no avião que levava o corpo do então presidente para Minas – mesmo com a contrariedade da cúpula militar, recém-saída da ditadura, da qual Frei Betto era considerado um dos inimigos. Muito próximo à família Buarque de Hollanda, batizou uma das filhas de Chico Buarque, Helena, a pedido da própria, com a qual manteve longas conversas sobre religião.

Fidel Castro

Também foi a religião que o aproximou definitivamente de Fidel Castro, que escreveu o prefácio desta biografia. O brasileiro é autor de um dos maiores best-sellers da história editorial cubana, “Fidel e a religião: conversas com Frei Betto”, no qual o ex-presidente de Cuba afirma, para surpresa dos compatriotas, a necessidade de união entre cristãos e comunistas. Frei Betto acompanhou a visita de dois Papas católicos a Cuba e é uma espécie de consultor e traço de união da Ilha com Roma.

Com depoimentos de escritores, como Luiz Ruffato e Raduan Nassar, e personalidades como o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, “Frei Betto – Biografia” revela o significado histórico da vida e do trabalho desse personagem que fez da religião, da política, da literatura e da militância instrumentos para a criação de uma sociedade democrática e plural, que possa acolher todos os cidadãos e diminuir as desigualdades sociais no mundo.

Depoimentos para o livro

“Frei Betto é um dos homens mais inteligentes que conheço. Tem qualidades mui­to próprias: consegue defender suas posições com convicção e determinação ao lado de uma enorme capacidade de reunir pessoas, mundos, projetos diferentes.”  – Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo.  

“Uma amizade construída faz anos por antípodas: Frei Betto com seu fervor re­ligioso e um desprovido de fé. A diferença em nada impediu o afeto e a conver­gência do nosso modo de perceber o desvairado mundo que está aí, cabendo ao ativo dominicano uma inquietude no que escreve. Acompanho de perto sua opção pelos pobres, os humilhados e ofendidos, que clamam por justiça e solidariedade, causas a que Frei Betto tem dedicado sua vida.”  – Raduan Nassar, escritor  

“Frei Betto é alma comovente de integridade e entrega à sua convicção. É um apoio à resistência, pela salvação da alma, em meio à emergência da vida comum. Ele é a memória de que, na mesa de jantar, no almoço entre amigos, no plantio do umbigo da minha filha no jardim de rosas da Pampulha, no meu casamento com o Nando, no grupo de oração, na luta pela democracia e justiça, no trabalho e na arte, estamos a serviço do Sagrado em cada gesto singelo do cotidiano. Ele é compromisso com a verdade, com a integridade, com o Amor.”  – Letícia Sabatella, atriz

“Frei Betto é muito fraterno, muito amigo, uma pessoa com quem você pode con­tar na dificuldade. Não é à toa que ele é frei. Várias vezes eu chamei Frei Betto não para resolver problemas meus, pessoais, mas para ajudar pessoas que pre­cisavam, que estavam passando por algum aperto existencial ou religioso. E ele foi sempre solícito, generoso. Não me lembro de o Frei Betto dizer não. Sempre disponível e sempre de bom humor. Ele tem prazer em ser solidário.”  – Chico Buarque, compositor e escritor

“Frei Betto é um dos profetas de nosso tempo que nos faz sonhar com um mundo melhor e transformar esse sonho em realidade.” – Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz

Edição: Marcelo Ferreira