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Delegação argentina de solidariedade é recebida na Bolívia com ataques e detenções

Os integrantes da comitiva chegaram ao país na última quinta (28), em uma clima de tensão e ameaças do governo golpista

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Integrantes da delegação chegaram à Bolívia nessa quinta-feira (28)
Integrantes da delegação chegaram à Bolívia nessa quinta-feira (28) - Delegação Argentina em Solidariedade com o Povo Boliviano

“Recomendamos que os estrangeiros que estão chegando ao nosso país como sujeitos aparentemente inofensivos tenham cautela, estão sendo observados e seguidos”. A frase foi dita pelo senador boliviano Arturo Murillo, considerado Ministro de Governo pela autoproclamada presidente Jeanine Áñez, na ocasião da chegada da Delegação Argentina de Solidariedade com o Povo Boliviano nessa quinta-feira (28).

A delegação, composta por integrantes de organizações sociais, movimentos populares e advogados, foi organizada com o objetivo de prestar solidariedade ao o povo boliviano e verificar as graves violações dos direitos humanos cometidas após o golpe de Estado de 10 de novembro

A ameaça de Murillo não foi o primeiro gesto agressivo enfrentado pela delegação. Quando chegaram ao aeroporto internacional Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra, 14 membros da delegação foram detidos pelas forças de segurança e submetidos a interrogatório. Enquanto isso, os outros membros da delegação foram atacados por apoiadores do golpe enquanto esperavam a libertação de seus colegas.

Após o incidente, os argentinos divulgaram um vídeo no qual afirmam que “apesar das provocações, a delegação chegou à Bolívia. Os grupos violentos de [Luis Fernando] Camacho e as forças policiais nos interrogaram ilegalmente e nos intimidaram em Santa Cruz, mas chegamos a La Paz para levar adiante essa tarefa em defesa dos direitos humanos. ”

Evo Morales, que foi deposto durante o golpe e atualmente está exilado no México denunciou os ataques em sua conta no Twitter

“14 membros da delegação argentina foram detidos por violentos grupos de apoio ao golpe em Santa Cruz e submetidos a interrogatório pela polícia. Exigimos que eles cheguem a La Paz para realizar seu trabalho de investigação na área de direitos humanos. A ditadura fascista evidencia seu autoritarismo”, expressou o ex-presidente.

Nos próximos dias, os integrantes da comissão se reunirão com organizações sociais, de direitos humanos, vítimas e familiares e líderes religiosos para recolher declarações e denúncias e preparar um relatório minucioso sobre a situação do país no pós-golpe.

Na manhã desta sexta-feira (29), a delegação se reuniu com familiares de vítimas da ditadura e representantes de organizações em uma igreja em Senkata, onde foi realizado um massacre policial em 19 de novembro, causando a morte de 8 pessoas.

Juan Grabois, advogado e líder social que integra a comitiva e foi atacado fisicamente por apoiadores de golpe no aeroporto e detido pela polícia, comentou as agressões sofridas durante uma coletiva de imprensa realizada nesta tarde.

“Esta delegação não deve ser um incômodo para ninguém se, como eles dizem, realmente não têm nada a esconder. Como tal, o assédio e intimidação que estamos recebendo não faz sentido. Responsabilizamos o governo interino da Bolívia por tudo o que acontece em relação à nossa segurança. Não temos medo e eles não vão nos impedir com esse tipo de ameaça. ”

Edição: Peoples Dispatch | Tradução: Luiza Mançano