Rio Grande do Sul

Perda

MPA lamenta morte do sociólogo Teodor Shanin

A dedicação aos estudos camponeses foi uma marca na produção do intelectual

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Teodor Shanin e os professores Bernardo, Cliff e Yamila no 3o Simpósio Internacional de Geografia Agrária (SINGA), realizado na Universidade Estadual de Londrina, em outubro de 2007. - Arquivo Pessoal

O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) fez duas publicações nos últimos dias, comunicando e lamentando o falecimento do sociólogo Teodor Shanin, bem como relembrando a sua proximidade com o movimento e a especial dedicação que teve em seus estudos junto ao tema do campesinato. Na terça-feira (04), dia em que o falecimento de Shanin, em Moscou, foi informado pela mídia russa, o site do movimento registrou uma nota de pesar e breve registro biográfico (veja aqui). Já nesta quinta-feira (06), três pesquisadores ligados ao MPA refletiram a respeito da importância de Shanin (veja aqui).

Gerson Antonio Barbosa Borges, Bernardo Mançano Fernandes e Marcelo Leal Teles da Silva*, que assinam o texto publicado nesta manhã, resgatam uma contribuição de Shanin realizada durante o 3º Simpósio Internacional de Geografia Agrária:

É comum dizer que filosofar não resolve os problemas, que a filosofia é só para filósofos. Para mim, isso não é verdadeiro. Enquanto é verdadeira a necessidade de nos mobilizarmos em nível econômico, político, enfim, nos mais diversos níveis, é necessário também a mobilização no nível do conhecimento. Como um grande filósofo inglês disse “saber é poder”. E o poder sempre é necessário se quisermos mundo para melhor, inclusive quando queremos pôr em execução o antigo slogan “TERRA E LIBERDADE”.

Confira na íntegra o relato que segue:

 


"Theodor Shanin, cientista de tradição marxiana, foi o principal estudioso de Alexander Chayanov, um dos clássicos dos estudos camponeses.

Formou-se em 1951 na Faculdade de Serviço Social da Universidade de Jerusalém, em Israel, e até 1964 ele era um assistente social, paralelamente ao trabalho, mais tarde doutorou-se na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, aonde também trabalhou como professor na Universidade de Sheffield  e na Universidade de Manchester.  Nos anos 90 Liderou um programa de pesquisa agrícola na Rússia, sendo mais tarde eleito membro da Academia Russa de Ciências Agrícolas (RAAS). Em 1995, ele fundou a Escola Superior de Ciências Sociais e Econômicas de Moscou ("Shaninka").

Theodor Shanin utilizava um método investigativo que partia da práxis interdisciplinar, construindo Interseções com a sociologia, história, geografia, filosofia e economia política. Realizou pesquisas relevantes no Irã, Índia, México, Brasil, Tanzânia, Hungria, Rússia e EUA, estudando principalmente as questões camponesas destes países. Shanin foi um dos fundadores do Journal of Peasant Studies, uma das principais revistas mundiais de estudos camponeses.

Theodor Shanin esteve no Brasil em outubro de 2007 para participar do Singa e ministrou uma palestra para os pesquisadores do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária – NERA da Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus de Presidente Prudente. Visitou ocupações, assentamentos e cooperativas camponesas no Pontal do Paranapanema.

Theodor Shanin dá relevo a concepção dialética da história em Marx. Evidência em seu “Marx tardio e a via russa” um Marx revolucionário, mais comprometido às realidades dos processos teóricos políticos de transformação, que um teórico tentando encaixar a realidade em sua infalível lógica. Shanin ajuda a desnudar um Marx aberto, não menos rigoroso teoricamente, interessado na periferia do mundo e em suas formações sociais concretas. O alcance da via russa não trata apenas do papel do campesinato nas sociedades periféricas, mas de como as classes sociais realmente existentes na periferia do capital podem tornar-se sujeitos participes da luta emancipatória. As revoluções que sacudiram o século XX e as lutas que animam Latino-america, África e Ásia no presente demonstram sua validade e atualidade histórica.

O pensamento de Shanin é o maior legado que ele nos deixa para compreender o campesinato no mundo."


 

Para conhecer um pouco do pensamento de Teodor Shanin em trabalhos publicados em português, leia:

- Teodor Shanin. A definição de camponês: conceituações e desconceituações – o velho e o novo em uma discussão marxista. Revista NERA – ano 8, n. 7 – julho/dezembro de 2005;

- Questões rurais e campesinato: uma entrevista com Teodor Shanin, entrevista a Débora Assumpção e Lima e Vicente Eudes. Revista NERA – ano 20, n. 44 – setembro/dezembro de 2018;

- Teodor Shanin. Marx tardio e a via russa – Marx e as periferias do capitalismo. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2019.

 

(*) Gerson Antonio Barbosa Barbosa Borges é Militante do MPA e estudante do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, da UNESP. Bernardo Mançano Fernandes é Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento territorial na América Latina e Caribe e coordenador da Cátedra da UNESCO de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial. Marcelo Leal Teles da Silva é militante do MPA.

 

Edição: Marcelo Ferreira