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Artigo | Como conseguimos, em três dias, que o patrão pagasse o salário atrasado

Funcionários do telemarketing se apoiaram na estratégia da greve e no sindicato

Belo Horizonte |
foto assembleia trabalhadores
"Demonstração de força e resistência pode resumir como foram as manifestações" - Sinttel-MG

Os trabalhadores da Ação Contact Center começaram 2020 com uma surpresa desagradável. No quinto dia útil, durante o expediente, a empresa comunicou aos trabalhadores que não pagaria os salários na data correta e que "tentaria" pagar no dia 20 de janeiro.

Vários funcionários passaram por dificuldade para honrar seus compromissos: sem dinheiro para comprar comida, sem conseguir pagar a conta de água, a conta de luz, o aluguel, a mensalidade da faculdade, o FIES (Financiamento Estudantil), tudo isso porque a Ação não pagara o salário.

A empresa é "famosa" por exigir máxima produção dos trabalhadores, estipulando metas difíceis de serem alcançadas, criando um clima de tensão constante que acaba afetando a saúde dos trabalhadores e, simplesmente, dizer que não iria pagar os salários foi o cúmulo do absurdo!

Os trabalhadores reuniram-se em assembleia para decidir se uma greve seria deflagrada, baseada na lei 7.783/89. A votação teve a aprovação esmagadora dos trabalhadores a favor da greve. Esta foi a segunda vez em dois anos que a empresa não pagou o salário na data certa.

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações de Minas Gerais (Sinttel-MG) deu suporte legal e político aos trabalhadores, orientando os grevistas para que não cedessem às ameaças, já que a greve é um direito garantido pela Constituição Federal e o rito do processo legal foi observado.

As manifestações ocorreram durante todo o dia 13 de janeiro, primeiro dia da greve, e, com a gravidade da situação, o Sinttel-MG solicitou uma audiência, marcada para 15 de janeiro na Procuradoria Regional do Trabalho. O segundo dia de greve ficou caracterizado pelo aumento de trabalhadores no movimento grevista. Vendo a participação dos colegas da [avenida do] Contorno, os trabalhadores da [rua] Álvares Cabral e [avenida] Afonso Pena também aderiram à mobilização.

"Sem salário, sem trabalho": ao longo dos protestos, a irreverência foi a nossa tônica. A trilha sonora foi de músicas que denunciavam o abuso que a empresa comete com seus trabalhadores. Todos tinham os versos decorados e a coreografia na ponta do pé!

Demonstração de força e resistência pode resumir como foi o terceiro e último dia de paralisação. Por volta do horário do almoço, todos os trabalhadores se concentraram em frente à empresa, na avenida do Contorno, e partiram em carreata junto ao sindicato para a audiência no Ministério Público do Trabalho.

Pelas avenidas e ruas movimentadas do Centro de Belo Horizonte os trabalhadores puderam soltar o grito de insatisfação e denunciar a situação abjeta e constrangedora a qual foram submetidos.

Ao final da audiência, a empresa confirmou o pagamento dos salários de todos os funcionários, não represália aos trabalhadores corajosos que lutaram na greve e o não desconto dos dias parados. E assim os trabalhadores, mais uma vez, viram que um sindicato forte é feito por trabalhadores valentes!

A greve também foi importante para demonstrar como a atuação do sindicato é vital para os trabalhadores. Principalmente neste momento em que o governo está acabando com os direitos trabalhistas, legitimando o trabalho "escravo" através da Carteira Verde e Amarela, o "fim" da aposentadoria e a extinção do Ministério do Trabalho.

É importantíssimo que os trabalhadores se associem ao sindicato para continuar contando com ele sempre que precisarem. Desde o momento em que os trabalhadores denunciaram o não pagamento do salário, o Sinttel-MG de imediato começou a executar todos os procedimentos para a realização da greve e garantir os direitos para os trabalhadores.

Edição: Rafaella Dotta