Coluna

Tio Bernie vem aí

Imagem de perfil do Colunistaesd

Ouça o áudio:

Derrotado por Hillary Clinton nas prévias de 2016, Sanders voltou ao teatro de operações em 2020 - PAUL RATJE / AFP
Para quem olha o embate à distância resta torcer para o Tio Bernie agora e, muito mais, em novembro

Enquanto a gente aqui andava meio distraída e a pátria continuava sendo subtraída, algo de novo começou a acontecer no Grande Irmão do Norte.

Superando a incredulidade e certa má vontade da mídia, além dos narizes torcidos dos caciques do Partido Democrata, um avô de sete netos, ex-morador de um kibbutz em Israel, judeu progressista e admirador do Papa Francisco avançou como o impacto de uma retroescavadeira nas primárias democratas dos estados de Iowa, New Hampshire e Nevada.

Social-democrata à maneira dos países nórdicos da Europa, aos 78 anos, Bernie Sanders é uma revigorante novidade no panorama político dos Estados Unidos.

Derrotado por Hillary Clinton nas prévias de 2016, Sanders voltou ao teatro de operações em 2020. Desta vez, ainda mais afiado, ameaça arrebatar a indicação para concorrer contra Donald Trump em novembro próximo, o que causa calafrios na ala mais conservadora – a dos bilionários – do seu próprio partido.

Três deles, aliás, estão no páreo contra o velho senador por Vermont e defensor empedernido da adoção de um sistema universal e público de saúde, da melhor distribuição de renda, dos direitos dos trabalhadores e da população LGBTQI+

Super Terça

O grande desafio de Sanders está agendado para o próximo dia 3 de março, a Super Terça, quando 14 estados definirão seus votos. Entre eles, dois muito importantes: California e Texas.

O primeiro coloca em jogo 415 delegados à convenção e o segundo, 228. Em ambos, segundo as pesquisas, Sanders tomou a dianteira. Nos dois há forte presença latina, segmento em que o veterano ativista encontra grande receptividade. Nos 14 estados, as sondagens indicam vitória em até oito para Sanders.

Seu maior perseguidor, por enquanto, é Joe Biden que, até o começo das primárias, despontava como favorito. A esperança do ex-vice-presidente é vencer na Carolina do Sul no próximo sábado (29) o que lhe daria maior fôlego na decisão do dia 3 de março.

Biden recebeu uma boa e uma má notícia sobre suas chances na Carolina do Sul. A boa é que continua liderando as pesquisas. A má é que a diferença sobre Sanders, que já foi de 28 pontos no final de 2019, caiu para quatro.

Será uma encrenca e tanto para Biden se a campanha de Sanders repetir o que fez em Nevada. Lá, militantes de todo canto apareceram para bater de porta em porta pedindo votos para Sanders, ou melhor -- como está nos seus cartazes – para “Bernie” que a juventude engajada prefere chamar de “Tio Bernie”. Foram meio milhão de visitas, informou a direção da campanha ao El País. Sanders levou 50% do voto latino e 30% do voto jovem.

À parte as dificuldades do império de deixar de agir imperialmente, esteja quem estiver na Casa Branca, é impossível deixar de olhar com simpatia para a eleição de Sanders, em tudo oposto à arrogância trumpista.

Vale lembrar que o pré-candidato já declarou que Lula nunca deveria ter sido preso e que ninguém como o ex-presidente “fez mais para diminuir a pobreza e defender os trabalhadores” do Brasil.

Alguém já disse, em tom de brincadeira, que as eleições norte-americanas afetavam tanto a nossa vida, que nós, os latino-americanos, também deveríamos ter direito a votar nelas.

Para quem olha o embate à distância – como os brasileiros – resta torcer para o Tio Bernie agora e, muito mais, em novembro.

Edição: Leandro Melito