Desigualdade

Artigo | O teto de vidro e as mulheres nos espaços de poder, por Yanne Teles

Parte das recentes transformações sociais são encampadas pelas mulheres reivindicando direitos ou no mercado de trabalho

Brasil de Fato / São Paulo |
Há anos mulheres em todo o mundo se ferem quebrando tetos de vidro para que outras mulheres sintam-se fortes - Fernando Frazão / Agência Brasil

Todos os espaços de poder são espaços significativos de desigualdades persistentes de gênero. A desigualdade de gênero é um dos eixos da estrutura das diferenças sociais não só no Brasil, mas no mundo todo. 

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No entanto, parte das recentes transformações sociais são encampadas pelas mulheres, pela forte atuação feminina nas ruas reivindicando direitos ou no mercado de trabalho.

Ainda que a maioria delas esteja no mercado informal, base de uma pirâmide, onde no topo estão homens brancos, ricos, de ternos bem passados, justamente por estas mulheres da informalidade, essas mulheres alicerces. 

Segundo dados divulgados em agosto de 2019, pelo IBGE, no que diz respeito à taxa de subocupação, há um crescimento mais expressivo para as mulheres do que para os homens.  

O IBGE ainda revela que, no segundo trimestre de 2019, existiam no Brasil 28,4 milhões de pessoas cuja força de trabalho está subutilizada, sendo a maioria mulheres (55,3%).

Essa maioria na informalidade é sedimentada diariamente pela globalização que agrava a competitividade de gênero advinda culturalmente de uma sociedade que costuma questionar a capacidade da mulher, impedindo que ela atinja o céu do seu sucesso.

É este o céu sob o teto de vidro que se avista e não se alcança.

Teto de vidro ou teto de cristal é um fenômeno utilizado para fazer referência às barreiras que sofrem as mulheres no âmbito laboral.

Tal teto é o responsável pela condenação e faz com que elas permaneçam na base da pirâmide econômica,  impedidas de ascender a um cargo diretivo. É simplesmente uma precariedade do trabalho feminino.

Quando as mulheres decidem quebrar o teto, crescer mais do que a sociedade permite, são temidas e muitas vezes taxadas de “mulher-macho", a mal amada ou ainda amante que não consegue nada por competência. 

Há anos mulheres em todo o mundo se ferem quebrando tetos de vidro para que outras mulheres sintam-se fortes, não sejam agredidas, não sejam mortas apenas por serem mulheres, para que outras possam ter empregos, possam votar, possam ser votadas e participar das decisões politicas do pais, possam ser o que elas quiserem e possam estar onde elas quiserem.

O 8 de março certamente é um dia de luta, sobretudo um dia para lembrar que mesmo passadas décadas de protestos das mulheres e celebração desta data, a evolução ainda não é suficiente para resolver problemas como a própria diferença salarial, a violência sexista, o feminicídio e todas as questões que cercam a igualdade de gênero.

*Yanne Teles é professora, advogada e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD. 

Edição: Leandro Melito