Rio Grande do Sul

Coluna

Uma frente unitária para as eleições de 2020 em Porto Alegre

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"Vitórias expressivas dos partidos e candidatos de ultradireita representarão passe livre para o aprofundamento das políticas de supressão de direitos" - Reprodução
Os movimentos sociais propõem uma frente unitária por Porto Alegre e pelo combate ao fascismo

As eleições municipais deste ano, além de momento de discussão e busca de soluções para os problemas municipais, será oportunidade de resistência ao avanço da extrema direita neo-fascista ou de consolidação dessas mesmas forças. 


Vitórias expressivas dos partidos e candidatos de ultradireita representarão passe livre para o aprofundamento das políticas de supressão de direitos, de reafirmação da discriminação racial, da homofobia e da misoginia, da entrega do patrimônio nacional, estadual e municipal. Vitórias expressivas dos partidos de esquerda e de centro sinalizarão que a sociedade está disposta a impor limites à imbecilidade e ao arbítrio.

As grandes capitais serão peças chave nesse embate e São Paulo e Porto Alegre, o serão mais do que as demais, por terem sido as primeiras a terem administrações de esquerda desde a redemocratização do país e, no caso de Porto Alegre, por ter sido onde o Partido dos Trabalhadores, o maior da esquerda, e seus aliados permaneceram 16 anos no governo, onde surgiu o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial. Uma derrota das forças de esquerda ou centro esquerda em PoA será um aval importante para o avanço neofascista. 


Há três eleições as esquerdas não vão ao segundo turno em Porto Alegre, apesar de somar votos para tal, pois disputam em chapas isoladas. Quebrar esse ciclo é urgente e fundamental nos dias de hoje. As esquerdas têm mantido uma curva de perda de votos acentuada em Porto Alegre desde o ano de 1996, quando sua votação atingiu o ápice e começou a decair. Tudo indica que em 2020 acontecerá o mesmo, caso a divisão se mantenha nessa eleição.


Votos válidos nos partidos de esquerda nos primeiros turnos em Porto Alegre (1996-2016) / TRE-RS, elaboração do autor

PT e PSOL insistem em apresentar candidatos e isso aumentará os riscos de ambos se manterem fora do segundo turno. Ambos os partidos estão certos, vistos pela ótica da manutenção de espaços eleitorais e sociais, no caso do PT, ou da ampliação desses espaços, no caso do PSOL, e suas estratégias seriam adequadas em situações de normalidade democrática. Ambos os partidos estão errados, vistos pela ótica da sociedade e do bem estar coletivo, em uma situação de emergência, como a atual. 


PCdoB está correto quando afirma que "não apresenta candidata" e que apenas "oferece o nome de Manuela para consideração", estando aberto  para "aceitar outro melhor, se ele existir". Esta posição, no entanto, torna-se apenas retórica neste momento do processo de decisão. 


Quando se deseja realmente se construir uma frente política nenhum dos possíveis parceiros pode apresentar nomes e definir em quais cargos deverá deter prioridade. Também o programa da frente tem que estar aberto para a construção conjunta pelos parceiros. Uma pauta mínima deve ser acordada em consenso e, a partir daí, cada integrante fica livre para defender seus projetos, propostas e pontos de vista. Fora disso, o que se propõe e se espera é adesão e/ou cooptação e não aliança. 


Os movimentos sociais propõem uma frente unitária por Porto Alegre e pelo combate ao fascismo. Essa frente precisa ser ampla o suficiente para barrar o fascismo e a barbárie que o acompanha e, para isso, deve se abrir para a possibilidade de incluir os partidos de centro e também da direita democrática, sem preconceitos e sem pré-condições. Na impossibilidade disso, ela deve ser ampla e flexível o suficiente para possibilitar a conquista e adesão dos eleitores do centro e da direita democrática, o que implica na elaboração de um programa mínimo a ser compartilhado por todos os partidos e movimentos integrantes da frente e a abertura para a avaliação de nomes que possam ampliar o arco de adesão a esses princípios e possibilitar a sua vitória eleitoral.


O método e o processo de construção desse programa mínimo comum e da definição dos nomes que melhor o represente política e eleitoralmente deverão ser descobertos e construídos em conjunto pelos partidos políticos e movimentos sociais dispostos a integrar a frente unitária em defesa de Porto Alegre e contra o fascismo. Uma fórmula que terá o efeito pedagógico de politizar a forma de construção do programa e a escolha do(a)s candidata(o)s e de levá-los até mais amplas parcelas da população, da periferia e dos bairros centrais, consolidando a plataforma política eleitoral da frente e firmando e divulgando os nomes que a representam e, assim, aumentando as chances de uma vitória eleitoral.

Edição: Katia Marko