Rio Grande do Sul

PANDEMIA

Artigo | Espanha: o futuro começa agora

O novo vírus não só mudou o estilo de vida dos espanhóis, mas obrigou a todos a pensar no futuro

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Rua deserta em Valência na Espanha - Valéria Calvi

Desde o dia 14 de março, quando foi decretado o estado de alerta, Madri está irreconhecível. A cidade cosmopolita, vibrante, colorida, multicultural, está silenciosa e deserta.

A chegada de uma ameaça que ninguém esperava mexeu com todos, mudou os hábitos, limitou a vida social, balançou a economia e afastou os milhares de turistas. Já não podemos desfrutar da capital espanhola como antes, na rua, nos museus, nos cinemas, nos bares; tudo fechado.

Infelizmente, pela tomada tardia de decisões mais duras pelo governo central, somos hoje o segundo país da Europa com o maior número de contaminados pelo Covid-19. Em menos de duas semanas, já chegamos à cifra de 1.000 mortos e quase 20.000 contaminados. Metade desses, hospitalizados. E ainda não chegamos ao pico da doença.

O número de casos positivos aumenta, em média, 20% ao dia, e as pessoas maiores de 60 anos, com doenças pré-existentes, ainda são as maiores vítimas. O sistema de saúde começa a não dar mais conta de atender a toda demanda, por falta de leitos ou pelo esgotamento dos profissionais de saúde. Até hotéis e um grande centro de convenções foram desalojados para atender aos contaminados.

O surgimento de novos casos a cada dia é tão grande que, em caso de colapso, a ordem é priorizar a atenção de casos potencialmente mais recuperáveis. E com tantos casos suspeitos ainda, em caso de apresentar algum sintoma da doença, o atendimento é feito somente pelo telefone.

No começo, ninguém deu muito crédito à nova doença, demorou para que a população tomasse consciência de que todos são transmissores do novo vírus. Até que o pior aconteceu. O Covid-19 chegou adoecendo os mais vulneráveis, tirando vidas e exigindo um esforço coletivo para reverter a onda de contágio.

Os chamamentos diários na imprensa assustaram, mas deram resultado. Hoje, a maioria da população está seguindo as orientações de ficar em casa e intensificando os cuidados com a higiene. E se não ficar, leva multa.

Além disso, as empresas também se adaptaram à crise e muitos funcionários estão trabalhando em casa. Economistas ainda não conseguem prever qual será o tamanho do prejuízo em cifras, porque alguns negócios já fecharam as portas e demitiram empregados. O presidente Pedro Sanchez anunciou medidas para aliviar a crise como moratória para hipotecas e aluguéis, ajuda financeira a desempregados e autônomos, mas não sabemos como será o futuro. Há pessoas que, se não trabalham, não ganham. E se não geram renda, não pagam as contas no fim do mês. É duro, ninguém sabe como será o futuro, a única certeza é que tudo vai mudar depois dessa crise.

Agora, o momento exige cabeça fria, responsabilidade, esforço coletivo e muita fé, para que tudo volte à normalidade o mais rápido possível. É momento de união, de empatia e solidariedade. Logo, logo, teremos muitas lições a fazer.

 

Thaís Baldasso é jornalista e produtora de conteúdo. Caxiense, mora em Madri com a família há um ano e três meses.

Edição: Marcelo Ferreira