Rio Grande do Sul

Renúncia

Permanência de Bolsonaro é visto como risco adicional no combate ao coronavírus

Lançado no dia 30 de março, Manifesto de líderes da esquerda recebe novas adesões

Porto Alegre | BdF RS |
"Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia", afirma manifesto. - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Negacionismo, truculência, irresponsabilidade e uso de notícias falsas fazem parte do cotidiano do presidente da República. Neste sábado (4), por exemplo, Jair Bolsonaro fez chegar aos seus milhões de seguidores no Twitter uma declaração do seu ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, dizendo que os países que adotaram o isolamento social não conseguiram achatar a curva de crescimento dos casos da covid-19. O fato de ser contrário às orientações da Organização Mundial de Saúde, colocam Osmar Terra na condição de oráculo científico do bolsonarismo, enquanto o astrólogo Olavo de Carvalho mantém a condição de oráculo político e filosófico.

Instagram, Facebook e Twitter já tiveram que excluir postagens de Bolsonaro por considerarem que elas estavam contra as normas das autoridades de Saúde de combate ao coronavírus. Um dos principais jornais alemães, o "Frankfurter Allgemeine", destacou que Bolsonaro é "o último negacionista do corona". A "Economist", uma das revistas mais importantes do mundo, chamou o presidente brasileiro de "BolsoNero", O inglês “The Guardian” disse que a resposta anticientífica de Bolsonaro assusta.

Diante de tamanha insanidade, a postura mais cautelosa do general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, parece ser menos inadequada para o momento que vivemos. O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB), após reunião com Mourão, citou que o encontro teve um diálogo “técnico, respeitoso e sensato”. Dino disse ainda que “se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.

A postura civilizada de Mourão foi criticada por outro grande expoente do bolsonarismo. Carlos Bolsonaro cobrou do vice-presidente uma explicação sobre a reunião com “o maior opositor socialista do governo”. O presidente Bolsonaro não fez nenhum reparo ao posicionamento do filho.

Lideranças assinam manifesto

Flávio Dino é um dos signatários do Manifesto “O BRASIL NÃO PODE SER DESTRUÍDO POR BOLSONARO”, publicado no último dia 30. Nos últimos dias, o documento recebeu a adesão de líderes do PV e da Rede Sustentabilidade.

O Manifesto também está recebendo apoio de fora dos partidos. A filósofa Marilena Chaui, em artigo publicado no portal A Terra é Redonda, destacou que os efeitos da pandemia atingem de forma mais devastadora às famílias de menor renda, pois são as que dependem mais dos serviços públicos e das garantias trabalhistas, e que o fortalecimento e utilização dos programas sociais criados e executados pelos partidos de esquerda são apontados como solução para a atual crise. “O Manifesto acerta ao propor a renúncia de Bolsonaro e não seu impeachment, pois este acrescentaria à crise atual mais uma crise (longa e de resultado imprevisível) que abriria espaço para divergências e lutas num momento em que a sociedade brasileira clama por clareza de objetivos e de ações”, escreve Marilena.

O jornalista e escritor Flávio Aguiar elogiou o movimento político que construiu o documento: “a coleção de elementos postos na mesa política pode não ter novidades; o elemento novo está em reuni-los numa agenda unificada e multipartidária, significando, na prática, também a suspensão do caótico programa neoliberal que o governo pretende implantar através deste prestidigitador de segunda mão chamado Paulo Guedes”.

Além de minimizar a gravidade do coronavírus, Bolsonaro mostra preocupação com as dificuldades que terá nas eleições de 2022, caso chegue até lá. Sua predisposição para criticar governadores, em especial o de São Paulo, revela a estratégia eleitoral do bolsonarismo.

Também em artigo, o professor Paulo Capel Narvai salienta que essa é a única luta que orienta o bolsonarismo: “Bolsonaro deveria tirar seu olhar das urnas de 2022 e se colocar à frente disso, comandando o enfrentamento do problema. Mas nada fez desde janeiro, quando chegaram da China as primeiras informações sobre a gravidade do que viria nos próximos meses. Era urgente, então, avaliar a situação do país e, com base nisso, realizar as ações que deveriam nos assegurar recursos e condições para cuidar dos doentes. Isto implicaria negociar com o setor produtivo e reverter linhas de produção, com vistas a garantir os insumos que seriam necessários. Mas o governo federal ficou refém do ‘negacionismo’ com origem no ‘gabinete do ódio’. O resultado é o que se vê atualmente: o marasmo do Planalto não foi capaz de assegurar que a indústria nacional produza e disponibilize nem mesmo... máscaras!”.

O Manifesto é firme ao defender que ao cometer crimes, fraudar informações e incentivar o caos, Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar a crise.

Leia a íntegra do manifesto e a atualização dos signatários:

O Brasil e o mundo enfrentam uma emergência sem precedentes na história moderna, a pandemia do coronavírus, de gravíssimas consequências para a vida humana, a Saúde pública e a atividade econômica. Em nosso país a emergência é agravada por um presidente da República irresponsável. Jair Bolsonaro é o maior obstáculo à tomada de decisões urgentes para reduzir a evolução do contágio, salvar vidas e garantir a renda das famílias, o emprego e as empresas. Atenta contra a Saúde pública, desconsiderando determinações técnicas e as experiências de outros países. Antes mesmo da chegada do vírus, os serviços públicos e a economia brasileira já estavam dramaticamente debilitados pela agenda neoliberal que vem sendo imposta ao país. Neste momento é preciso mobilizar, sem limites, todos os recursos públicos necessários para salvar vidas.

Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável. Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um presidente que contraria as autoridades de Saúde Pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários. Basta! Bolsonaro é mais que um problema político, tornou-se um problema de saúde pública. Falta a Bolsonaro grandeza. Deveria renunciar, que seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao país. Ele precisa ser urgentemente contido e responder pelos crimes que está cometendo contra nosso povo.

Ao mesmo tempo, ao contrário de seu governo - que anuncia medidas tardias e erráticas - temos compromisso com o Brasil. Por isso chamamos a unidade das forças políticas populares e democráticas em torno de um Plano de Emergência Nacional para implantar as seguintes ações:

- Manter e qualificar as medidas de redução do contato social enquanto forem necessárias, de acordo com critérios científicos;

- Criação de leitos de UTI provisórios e importação massiva de testes e equipamentos de proteção para profissionais e para a população;

- Implementação urgente da Renda Básica permanente para desempregados e trabalhadores informais, de acordo com o PL aprovado pela Câmara dos Deputados, e com olhar especial aos povos indígenas, quilombolas e aos sem-teto, que estão em maior vulnerabilidade;

- Suspensão da cobrança das tarifas de serviços básicos para os mais pobres enquanto dure a crise,

- Proibição de demissões, com auxílio do Estado no pagamento do salário aos setores mais afetados e socorro em forma de financiamento subsidiado, aos médios, pequenos e micro empresários;

- Regulamentação imediata de tributos sobre grandes fortunas, lucros e dividendos; empréstimo compulsório a ser pago pelos bancos privados e utilização do Tesouro Nacional para arcar com os gastos de Saúde e Seguro Social, além da previsão de revisão seletiva e criteriosa das renuncias fiscais, quando a economia for normalizada.

Frente a um governo que aposta irresponsavelmente no caos social, econômico e político, é obrigação do Congresso Nacional legislar na emergência, para proteger o povo e o país da pandemia. É dever de governadores e prefeitos zelarem pela Saúde pública, atuando de forma coordenada, como muitos têm feito de forma louvável. É também obrigação do Ministério Público e do Judiciário deter prontamente as iniciativas criminosas de um Executivo que transgride as garantias constitucionais à vida humana. É dever de todos atuar com responsabilidade e patriotismo.

ASSINAM (por ordem alfabética):

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB.

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

Ciro Gomes, ex-candidato à Presidência pelo PDT.

Edmilson Costa, presidente nacional do PCB.

Fabiano Contarato - REDE.

Fernando Haddad, ex-candidato à Presidência pelo PT.

Flavio Dino, governador do estado do Maranhão.  

Guilherme Boulos, ex-candidato à Presidência pelo PSOL.

Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT

José Luiz Penna, presidente do PV

Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.

Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB.

Manuela D'Avila, ex-candidata à Vice-presidência (PCdoB).

Randolfe Rodrigues - Líder da Oposição e REDE no Senado.

Roberto Requião, ex-governador do Paraná.

Rogério Carvalho, líder do PT no Senado.

Sonia Guajajara, ex-candidata à Vice-presidência (PSOL).

Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul.

Veneziano Vital do Rego - Líder do Bloco PSB/REDE/PDT/Cidadania.

Weverton Rocha - Líder do PDT no Senado.

Edição: Katia Marko