Rio Grande do Sul

Coluna

Paixão, Morte, Ressurreição

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"Ai que vontade de rever as amigas e os amigos e festejar a vida em comunhão" - Helena Lopes / Pexels
Bem-aventurados os perseguidos que continuam lutando pela igualdade e pela justiça!

Há 3 semanas não dou um abraço.

Há 3 semanas não aperto uma mão.

Há 3 semanas não dou um beijo.

Há 3 semanas vejo a morte rondando.

Há 3 semanas choro a dor e o sofrimento do mundo.

Há 3 semanas vejo caixões circulando.

Há 3 semanas estou quase calado, os olhos marejados de lágrimas.

Há 3 semanas o tempo parece uma eternidade.

Há 3 semanas vejo a natureza entristecida pela seca.

Há 3 semanas vejo a aflição nos corações e o cemitério nas almas.

 

Há 3 semanas convivo diariamente com mamãe e irmãos, como nunca antes depois de adulto.

Há 3 semanas voltei a ser menino cercado de cuidados.

Há 3 semanas não estou rodeado de solidão na hora do chimarrão.

Há 3 semanas busco goiabas, butiás, bergamotas, laranjas, coquinhos, bananas direto no pé.

Há 3 semanas vou para a roça feito criança que voltou no tempo.

Há 3 semanas como verduras e legumes colhidas nos canteiros ao lado de casa.

Há 3 semanas vejo mãos cheias de bondade por todos os lados.

Há 3 semanas estou cercado de gente e abundância de vida.

Há 3 semanas vejo o mundo enfrentando a morte com coragem.

Há 3 semanas vejo a solidariedade brotando por todos os lados no meio da dor.

Há 3 semanas ouço gente pensando no outro e na outra o dia inteiro.

 

Ai dos que produzem a morte!

Ai dos que não são capazes de compaixão!

Ai dos que desprezam as/os pobres, as trabalhadoras e os trabalhadores!

Ai dos que veneram, adoram, se ajoelham ante o deus Mercado!

Ai dos hipócritas e fariseus dos templos!

Ai dos que pisam nas lágrimas dos fracos e oprimidos!

Ai dos que não choram diante de toda e qualquer injustiça!

Ai dos que usam o ódio e a intolerância como instrumento político!

Ai dos que só pensam em encher os próprios bolsos e guaiacas!

Ai dos que não se compadecem com a fome, a miséria e o desemprego!

Ai dos que tripudiam da justiça e da igualdade!


Felizes os que na dor ainda são capazes de amar.

Felizes os que na paixão e na morte acreditam na possibilidade da ressurreição.

Felizes os que, no sofrimento, armam cestas de alimentos para distribuir.

Felizes os que estão rodeados de amor na hora do almoço e da ceia.

Felizes os que abençoam todas e todos os que sofrem de dor e solidão.

Felizes os que sabem se retirar em ‘tempos de cólera’ e entrar em meditação.

Felizes os que têm fé e espalham a Boa Nova em todas as esquinas e periferias.

Felizes os que não soltam a mão de ninguém.

Felizes os que são capazes de cantar e sofrer junto.

Felizes os que amam a democracia.

Felizes os que cantam e festejam a esperança.

 

Ai que vontade de rever as amigas e os amigos e festejar a vida em comunhão.

Ai que vontade de chegar na Lancheria do Parque e beber todas, sendo bem servido pelos amigos garçons de décadas.

Ai que vontade de estar em duzentas mil reuniões presenciais no CAMP, do Fé e Política, do Núcleo de Reflexão Política da Lomba do Pinheiro, do CONSEA RS.

Ai que vontade de ir no Luizão beber meia dúzia de cevas enquanto torço pelo São Luiz de Santa Emília.

Ai que vontade de zanzar por aí ao vento, olhando as pessoas circulando por todos os cantos do Portinho alegre.

Ai que vontade abraçar e beijar companheiras e companheiros.

Ai que vontade de estar junto, de comemorar rodeado pelas melhores companhias, e celebrar a vida, o prazer e o amor.


Bem-aventurados os puros de alma e coração!

Bem-aventurados os que alimentam o corpo e o espírito no silêncio!

Bem-aventurados os que festejam abraçados a felicidade e a paz!

Bem-aventurados os perseguidos que continuam lutando pela igualdade e pela justiça!

Bem-aventurados os que participam sem medo das revoluções!

Bem-aventurados os artistas da liberdade!

Bem-aventurados os pedreiros e serventes construtores da utopia do Reino!

Bem-aventurados os que enfrentam com coragem a paixão e a morte e acreditam na vida.

Bem-aventurados os que ressuscitam todos os dias, e são gente, e são povo, e são luz e verdade!

 

Edição: Marcelo Ferreira