Rio Grande do Sul

COVID-19

Governador do RS estende decreto de fechamento da maioria do comércio até o dia 30

Contudo flexibiliza a liberação de abertura em regiões menos afetadas pelo coronavírus

Sul 21 | Porto Alegre |
eduardo leite governador rio grande do sul
Prefeitos de regiões menos afetadas pelo novo coronavírus e com menor interdependência econômica podem autorizar o relaxamento das restrições - Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Em pronunciamento transmitido ao vivo nas redes sociais na tarde desta quarta-feira (15), o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou a prorrogação até o dia 30 de abril do decreto que determinou o fechamento da maioria do comércio e de diversos setores da atividade econômica em todo o Rio Grande do Sul.

No entanto, abriu as portas para que prefeitos de regiões menos afetadas pelo novo coronavírus e com menor interdependência econômica, o que exclui as regiões da Grande Porto Alegre e da Serra, possam autorizar por conta própria o relaxamento das restrições em suas cidades, desde que respeitados protocolos que minimizem os riscos.

O governador afirmou que o objetivo é que, a partir de maio, possa migrar para uma política de “distanciamento controlado”, o que significa modular o nível de restrições e de abertura a partir do monitoramento contínuo do número de casos e de internações hospitalares em decorrência da Covid-19, a doença do novo coronavírus. Ele frisou que essa abertura se dará a partir do respeito a protocolos de higiene e distanciamento social.

Leite afirmou que essa etapa do distanciamento controlado será possível quando todos os cerca de 300 hospitais do Estado estiverem conectados com o sistema de monitoramento em tempo real já implementado pelo governo. Segundo ele, 36 hospitais ainda não estão conectados.

Apesar de afirmar que a ideia é se encaminhar para uma reabertura do comércio seguindo certos protocolos para minimizar os riscos, Leite não descartou a possibilidade de, a partir do registro de novos picos de contaminação, impor medidas ainda mais restritivas do que as implementadas até agora, como o chamado lockdown, em que há proibição expressa para a circulação de todas as pessoas de uma cidade em atividades que não sejam consideradas essenciais. Além disso, frisou que será mantido um monitoramento constante de riscos, a partir de 44 indicadores de saúde, econômicos, de mobilidade, educação, segurança, etc., que irá subsidiar a tomada de decisões.

O governador disse que o objetivo é aproveitar esses 15 dias de prorrogação do decreto para estruturar o sistema de saúde para uma possível progressão de fase, o que significa, entre outras medidas, a compra de insumos, de equipamentos de segurança e a abertura de novos leitos. Segundo Leite, o objetivo é que o RS tenha 1 mil leitos de UTI dedicados ao coronavírus.

Embasamento científico

Em diversos momentos durante a coletiva, o governador afirmou que as decisões do Estado estão sendo baseadas no acompanhamento científico da evolução do coronavírus no RS e saudou o fato de que, até agora, o Rio Grande do Sul tem registrado um crescimento menor da epidemia e do número de óbitos. Destacou, por exemplo, que o RS chegou a ter mais casos proporcionais do que os demais estados da região Sul, mas que já foi superado por Santa Catarina e Paraná, sendo que este último estado já registra aproximadamente o dobro de mortes atribuídas ao coronavírus.

Leite afirmou que a progressão para a etapa do distanciamento controlado será baseada, principalmente, em um estudo que está sendo desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para medir a prevalência de casos no Rio Grande do Sul. Isto é, para tentar compreender qual é o total de pessoas que já contraíram o vírus, visto que, devido à subnotificação, o número real de casos é bastante superior ao dos confirmados até aqui.

A apresentação destes dados foi feita pelo reitor da UFPel, Pedro Cury Hallal, que destacou que os casos confirmados são apenas a “ponta visível de um iceberg”. Para tentar traçar um panorama mais realista dos níveis de contaminação, o estudo testou, entre os dias 11 e 13 de abril, 4.189 pessoas em nove cidades do Estado — Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Ijuí e Uruguaiana –, que representam 31% da população e permitem traçar um panorama da situação no Estado.

Hallal aponta que o estudo tem quatro objetivos: estimar o percentual de gaúchos que já desenvolveram anticorpos para a doença, portanto já foram contaminados; avaliar a velocidade de expansão da infecção ao longo do tempo; determinar o percentual de infecções assintomáticas; e possibilitar cálculos precisos de letalidade. Quanto a este último ponto, o reitor deixou claro que os atuais índices de letalidade não podem ser seguidos porque são referentes ao total de casos confirmados, quando precisariam levar em conta o total de pessoas contaminadas, o que inclui os casos assintomáticos, que são a maioria, mas praticamente não estão sendo testados no momento.

O estudo apontou que duas das 4.189 pessoas testaram positivas para o vírus, o que, extrapolando para a população total, significaria 0,05% dos gaúchos e 1 infectado a cada 2 mil habitantes. Apesar de ser um número pequeno, significaria um número várias vezes superior ao de casos já confirmados, uma vez que seria equivalente a 5.650 pessoas contaminadas. Para comparação, o RS tinha, em 13 de abril, 685 casos confirmados, cerca de 8 vezes menos do que a projeção do estudo.

Contudo, Hallal alertou que estimativas baseadas em amostragens pequenas têm de ser observadas com cuidado e que, como a ideia é repetir o levantamento a cada duas semanas entre abril e maio, um panorama mais preciso será possível ao final do próximo mês.

Edição: Sul 21