Rio Grande do Sul

Especial 1° de Maio

A história de luta do 1º de Maio: Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Neste ano, o 1° de Maio será comemorado com ato virtual, por conta do coronavírus, organizado pelas centrais sindicais

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Não se trata do "dia do trabalho", e sim do "dia de luta do trabalhador", reforça historiador - Reprodução

A partir das 11h30 desta sexta-feira (1°), trabalhadores de qualquer parte do Brasil poderão assistir à live nacional organizada de forma unitária pelas Centrais Sindicais - CUT, Força, UGT, CSB, CTB, CGTB, NCST, Intersindical, A Pública -, com o apoio das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Solidariedade, saúde, emprego, renda e democracia são as principais bandeiras definidas pelas centrais em âmbito estadual e nacional. À noite, às 20h, será realizado um panelaço para aumentar o barulho nas janelas e nas calçadas pelo Fora Bolsonaro. O presidente é uma ameaça aos direitos da classe trabalhadora, ao Estado Democrático de Direito e à Constituição. 

Conforme o Jornal O Estado de São Paulo, neste 1° de Maio, Lula e FHC dividirão o mesmo palanque, depois de 31 anos. Além deles, Ciro Gomes, Dilma, e o presidente do STF Dias Toffoli, da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Alcolumbre, além dos governadores João Doria e Wilson Witzel. Será um ato em defesa da democracia, pela internet, na comemoração do Dia Internacional do/a Trabalhador/a, organizada pelas centrais sindicais.

O governador maranhense Flávio Dino (PCdoB) também estará presente. Ele é um dos articuladores deste agrupamento que vem sendo chamado de Frente Ampla pela Defesa da Democracia.


Divulgação / Card

Memória

Foi aqui em Porto Alegre que se deu em 1892 a primeira comemoração do 1° de Maio em praça pública no Brasil. Um ano depois da II Internacional Socialista ter decidido que seria um dia de luta em todos os países. Quem lembra este fato é o historiador Raul Carrion. Ele acrescenta ainda que este ano completa 70 anos do assassinato, em Rio Grande, pela Polícia, de quatro lideranças operárias ligadas ao Partido Comunista do Brasil. Em uma manifestação de 1° de Maio, eles lutavam pela reabertura da União Operária de Rio Grande que havia sido fechada há oito meses pelo ministro da Justiça.

Foram mortos a tecelã Angelina Gonçalves, o portuário Honório Couto, o ferroviário Osvaldinho Correia e o pedreiro Euclides Cunha. Outro grande líder operário e vereador comunista Antônio Recchia foi baleado na coluna e ficou paraplégico. Também foram baleadas outras lideranças operárias, entre as quais os operários Osvaldino Borges Dávila e Amabílio dos Santos. Nesta ocasião, governava o Rio Grande do Sul o ex-juiz e ex-promotor Walter Jobim, do PSD (avô do ex-ministro Nelson Jobim).

Logo após a morte destas lideranças, houve o enterro destes operários num grande féretro onde os trabalhadores em caminhada usaram suas golas levantadas para simbolizar o seu apoio aqueles mártires e as suas causas. Cinco mil pessoas participaram do cortejo. “Isto nos mostra, em primeiro lugar qual o significado histórico, simbólico, dos primeiros de maio, algo que de certa forma, talvez até por desconhecimento, esteja se perdendo”, ressalta Carrion.

As origens

Por isso, reafirma Carrion, ao contrário do que se diz, o 1° de Maio não é o dia do trabalho, um feriado festivo, onde patrões e operários confraternizam. Mas, o Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores. Sua origem está na luta da classe operária pela redução da jornada de trabalho. No século XIX, início do século XX, era de 16, 14, 12 horas de trabalho diárias. Sem direito a descanso remunerado, sem direito a férias, aposentadoria, seguro acidente ou seguro doença. Com o surgimento em 1864, sob a inspiração de Karl Marx da Associação Internacional dos Trabalhadores, a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias se tornou a principal bandeira da classe operária mundial.

Os trabalhadores norte-americanos, aprovaram, então, a realização de uma grande greve geral pela jornada de oito horas. Como diziam eles, sem distinção de sexo, ofício ou idade. E marcaram a data de 1° de maio de 1886. A greve se iniciou na data marcada, se estendeu a mais de cinco mil fábricas e a cerca de 240 mil trabalhadores. Em muitos lugares os patrões cederam, reduziram a jornada de trabalho. Porém em Chicago, que era a segunda maior cidade dos EUA, houve um grave confronto. Já dias antes, a chamada livre imprensa colocou-se a serviço dos patrões e nos dias que antederam a greve, o Chicago Times, por exemplo, dizia: “A prisão e o trabalho forçado, são a única solução para a questão social, o melhor alimento para os grevistas será o chumbo”.


Em maio de 1886 trabalhadores norte-americanos deflagaram uma grande greve geral pela jornada de oito horas. Muitos lugares os patrões cederam. Porém em Chicago, houve um grave confronto. / Reprodução

Logo, a greve atingiu grandes proporções em Chicago, sucederam-se grandes atos de rua e, além dos confrontos que foram ocorrendo, no dia 4 de maio os trabalhadores foram atacados com grande violência pela polícia. Foram mortos e feridos dezenas deles. Foi declarado estado de sítio, os sindicatos foram fechados, e milhares de operários presos pelo crime de defenderem oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de estudo.

Não satisfeitos com essa repressão violenta, os patrões exigiram ainda o julgamento e a condenação dos líderes do movimento. Foi montada então uma farsa jurídica e selecionadas oito das principais lideranças grevistas. Na sua maioria anarquistas. Destes, sete foram condenados à morte e um deles a 15 anos de prisão. Pouco depois, outros dois tiveram suas penas de morte transformadas em prisão perpétua. Terminado o processo, que demorou um certo tempo, em fins de 1887, quatro deles – Spies, Fischer, Engels e Parsons, foram enforcados, o quinto apareceu morto na sua cela. Seis anos depois, o processo foi anulado por conta de todas as suas irregularidades e os três que ainda estavam presos foram libertados.

Em 1891, a II Internacional Socialista, aprovou no Congresso de Bruxelas que no dia 1° de Maio haveria demonstração única para todos os trabalhadores, de todos os países, com caráter de afirmação de luta de classes e reivindicação de oito horas de trabalho. Em os primeiros de maio que se seguiram houve greves, manifestações, choques com a polícia, e não era feriado.

Isto levou a uma situação em que as próprias elites burguesas decidiram que o melhor caminho seria tirar este caráter de luta, revolucionário, do 1° de Maio. E procuraram, nos diversos países, transformar em feriado que denominaram Dia do Trabalho e, desta forma,  procurar que estas mobilizações que se davam com grande combatividade fossem transformadas em meras festas.

Edição: Katia Marko