Rio Grande do Sul

SOLIDARIEDADE

Comitê Popular distribui alimentos para campanha de combate à violência doméstica

Foram doadas mais de uma tonelada de alimentos a entidades que atuam no direito e proteção às mulheres em Porto Alegre

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Junto das cestas básicas, foram entregues panfletos da campanha que explica como fazer denúncias relacionadas à violência - Divulgação

Mais de uma tonelada de alimentos e produtos de higiene foram doados a entidades que atuam no direito e proteção às mulheres e no combate à violência doméstica em Porto Alegre. A ação, realizada nesta quinta-feira (14), numa parceria do Comitê Popular em Defesa do Povo e Contra o Coronavírus com a Força-tarefa de Combate aos Feminicídios do RS e o Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul (Sintergs), serviu também para promover a campanha “Rede de vizinhos e vizinhas contra a violência: vizinha, eu te escuto, eu te protejo, eu denuncio!”. Junto das cestas básicas, foram entregues panfletos da campanha que explica como fazer denúncias relacionadas à violência.

Conforme a coordenadora da Força-Tarefa, Ariane Leitão, as doações foram feitas para duas casas-abrigo, a Mirabal e a Viva Maria, para a entidade Maria Mulher e a Associação de Mulheres Solidárias da Vila Cruzeiro (Assmusol). Ariane destaca a importância de ajudar famílias chefiadas por mulheres, que em regra são as famílias mais pobres, e de dar visibilidade para a questão da violência contra a mulher, que ficou ainda mais grave durante a pandemia. Ela explica que a ação contribui para levar informações sobre como denunciar casos de violência, “sobretudo para as mulheres que muitas vezes são as vítimas e também para as mulheres mais vulneráveis, as que não têm acesso à internet e às informações que nós estamos passando pelas redes sociais”.


Sede da Maria Mulher e da Assmusol / Divulgação

Ariane chama atenção para o aumento do feminicídio no Rio Grande do Sul, criticando o abandono dessas mulheres pelo Estado. Confirme os dados divulgados nesta quinta-feira (14) pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), o número de mulheres assassinadas no RS, entre janeiro e abril, aumentou 71,4% em relação ao mesmo período de 2019. “Foram 21 mulheres mortas no ano passado nesse período e 36 nesse ano. Ou as mulheres morrem pelo abandono do Estado brasileiro e do Estado gaúcho, que não dão nenhuma condição para essas famílias sobreviverem durante a pandemia, sem auxílio emergencial, sem Bolsa Família, sem coisa nenhuma, ou as mulheres morrem de violência doméstica, através do feminicídio, como está mostrando os números do próprio governo Eduardo Leite”, afirma.

“Nossa ideia é dar visibilidade para esse abandono social, a total ausência de proteção social que o Estado brasileiro e o Estado gaúcho vêm deixando as mulheres, expostas a todo tipo de violência”, afirma Ariane. Sem a devida proteção do Estado, destaca, resta à sociedade civil se mobilizar para auxiliar essas famílias. “É uma situação muito difícil de ataque permanente às nossas vidas e nós ficamos muito felizes de poder estar atendendo essas entidades e casas de abrigo que estão precisando de ajuda”, conclui.


Casa de Referência da Mulher - Mulheres Mirabal / Divulgação

A coordenadora do Comitê Popular em Defesa do Povo e Contra o Coronavírus, Silvana Conti, lembra que 70% dos trabalhadores da Saúde em todo o mundo são mulheres, fato que as expõe a um maior risco de infecção pelo novo coronavírus. Além disso, entre os idosos há mais mulheres vivendo sozinhas e com baixos rendimentos.

Silvana destaca ainda que a estrutura machista e racista do Estado brasileiro coloca as mulheres como as primeiras a serem demitidas e as últimas a se recolocarem no mercado de trabalho. “A dupla jornada e a desigualdade salarial são dois dados chocantes da situação das mulheres trabalhadoras no Brasil, que se completa com a triste constatação de que a precarização, a terceirização, o trabalho informal e o desemprego tem rosto de mulher e em sua maioria o rosto das mulheres negras”, disse.

A diretora do Sintergs, Angela Antunes, destaca a importância do Sindicato de participar do Comitê Popular e poder contribuir também nas ações de solidariedade. O Sintergs representa muitos dos servidores que estão na linha de frente do combate à pandemia. “Estamos em um momento onde as ações coletivas e a conscientização são fundamentais, tanto em relação ao combate à fome, quanto à violência. As mulheres, principalmente as negras, são as mais afetadas nas crises e pela falta de políticas públicas”, constata.

 

Edição: Marcelo Ferreira