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O caso da Cloroquina: uma pandemia de desinformação

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Alguns estudos sérios já têm mostrado que ela pode, na realidade, provocar mais danos que realmente ajudar as pessoas adoecidas pela COVID-19 - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
É preciso continuarmos seguindo as orientações que possuem real comprovação científica

A Pandemia do Coronavírus trouxe consigo também outro grave problema de nossos tempos: a pandemia de mentiras e as chamadas Fake News. Não bastasse todo o problema causado direta ou indiretamente pelos impactos da COVID-19 no Brasil e no Mundo, não é difícil encontrar a internet e as redes sociais com informações falsas sobre o problema. E já há estudos que evidenciam isso. Um deles, por exemplo, com o título "O YouTube como fonte de informação sobre o COVID-19: uma pandemia de desinformação?" aponta que mais de 25% dos vídeos nesta rede social continham informações mentirosas e boa partes destes estavam entre os mais visualizados no momento estudado.

Nestes meses já ouvi de tudo: desde a história que o vírus seria uma criação de determinado país para atingir outro até a suposta informação que o vírus, na realidade, não passaria de uma gripezinha. Mas tem um tipo de mentira que me incomoda um pouco mais. São as que se referem a supostos tratamentos para a COVID-19. Na realidade, para ser mais exato, é preciso tornar evidente que é normal em momentos agudos de crise, como o que vivemos, que a ciência e a medicina apostem nas mais diversas drogas e medicamentos com o objetivo de tentar descobrir uma possível cura para qualquer doença. Daí se experimentam substâncias muitas vezes usadas em outros tipos de problemas. Isso faz parte dos desafios científicos em momentos de pandemia. 

O que não deve ser normal é o que vem acontecendo com relação a Cloroquina, medicamento originalmente prescrito para outras doenças, como a Malária e a Artrite Reumatóide. Setores importantes da sociedade têm reproduzido a informação de que esta droga e seu derivado, a Hidroxicloroquina, seriam tratamentos eficazes para a doença provocada pelo atual Coronavírus. O problema é que isto não faz o menor sentido. Na realidade, alguns estudos sérios já têm mostrado que ela pode, na realidade, provocar mais danos que realmente ajudar as pessoas adoecidas pela COVID-19.

Enxergo nestes defensores da Cloroquina dois perfis: há um grupo que é mal-intencionado. Que provavelmente ignora qualquer conhecimento científico, mas repete que este medicamento é eficaz no tratamento como forma de fazer política e minimizar o tamanho da crise. É o típico exemplo do Bolsonaro e sua turma. De um outro lado, enxergo muita gente que na ânsia por informações positivas em um momento de crise, como o atual, se agarram a qualquer informação. É da natureza da mente humana construirmos mecanismos de fuga na busca de soluções para problemas que parecem insolúveis em determinado momento.

No fim das contas, estamos todos na torcida para que o mais cedo possível tenhamos boas notícias sobre qualquer que seja a droga, inclusive vacinas, para o tratamento desta doença. E pode ser que isso aconteça mais cedo do que se imagina, afinal, o mundo inteiro enfrenta este problema e são muitos os países que encampam pesquisas neste sentido. Enquanto isso, é preciso continuarmos seguindo as orientações que possuem real comprovação científica, como as medidas de isolamento e distanciamento social. Incluídas as medidas mais drásticas, como o lockdown, quando necessário em cada realidade. A ciência e a informação de qualidade são importantes e defendê-las é um papel de cada um e cada uma de nós. 

Assista a coluna em vídeo:
 

 

Edição: Marcos Barbosa