Pernambuco

SAÚDE MENTAL

Em Pernambuco mobilização do Dia Nacional de Luta Antimanicomial terá debate virtual

Rede de Atenção Psicossocial está funcionando durante pandemia, mas com a quarentena, o ato de hoje acontece na internet

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Organizações da luta antimanicomial da Região Metropolitana do Recife organizam, desde 2013, a Semana de Luta Antimanicomial - Divulgação/Libertando Subjetividades

Hoje, 18 de maio, é celebrado o Dia Nacional de Luta Antimanicomial. A data surgiu em referência à I Conferência Nacional de Saúde Mental, considerada um marco na luta profissionais de saúde, usuários, familiares e pessoas que pautaram a necessidade de uma reforma psiquiátrica no Brasil ainda na década de 1980. Considerada um serviço essencial justamente por traçar estratégias que diminuem o sofrimento mental, durante a pandemia de coronavírus a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) continua funcionando. 


“O atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) está seguindo com todas as orientações de segurança, mas é claro que houve uma redução porque as atividades nos CAPS era muito centrada em atividades coletivas, que não estão acontecendo mais. As avaliações caso a caso, os teleatendimentos, consultas por telefone, e quando necessário, a visita domiciliar, seguem acontecendo” explica Catarina Albertim, Terapueta Ocupacional da RAPS Recife e militante da luta antimanicomial pelo Núcleo Libertando Subjetividades. A RAPS abrange desde casos considerados simples, até os de alta complexidade, indo das Unidades Básicas de Saúde até os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) e hospitais psiquiátricos.


Na luta por uma sociedade sem manicômios, as várias organizações da luta antimanicomial da Região Metropolitana do Recife (RMR) organizam desde 2013 a Semana de Luta Antimanicomial, com uma série de atividades que incluem debates, exibição de filmes, seminários, atividades lúdicas e um “passeATO” com militantes, profissionais de saúde, usuários, amigos e familiares para cobrar a efetivação de políticas de reorganização do modelo de atenção em saúde mental e denunciando a violação de direitos de pacientes psiquiátricos do sistema convencional. 


Neste ano, com as medidas restritivas para evitar a disseminação do coronavírus, a manifestação acontece nas redes, como explica Catarina “Com a pandemia, foi tudo diferente. A gente começou com a proposta das manifestações virtuais, onde as pessoas puderam mandar sua manifestação em forma de texto, vídeo, música, tudo pela internet. Foi importante pra dizer que os militantes da luta antimanicomial estão isolados, mas não estão sozinhos, porque nossa bandeira é exatamente essa, a da inclusão e sociabilidade”. Nesta segunda (18), também acontece uma transmissão ao vivo no Youtube com o tema “A defesa do SUS e a construção de redes de resistência e solidariedade”. Organizada pelo Núcleo Libertando Subjetividades, o debate acontece com Jose Nilton Monteiro, usuário da RAPS e com a psiquiatra Erotildes Leal. O debate acontece a partir da 20h no canal do Youtube do Núcleo.

Isolamento social e encarceramento


Dadas as circunstâncias de isolamento social, é possível traçar um paralelo entre esse momento e política de encarceramento e privação de liberdade e autonomia das pessoas que são colocadas em manicômios “o encarceramento foi tido como cuidado por muitos anos no Brasil e no mundo, mas desde a década de 1970 nós temos observado que isso não é cuidado, é tortura e violação dos direitos humanos”, explica a terapeuta. 

Ela explica que é favorável ao isolamento e que existem muitas diferenças entre a política manicomial e a quarentena, mas que esse momento pode servir como um convite à reflexão da efetividade destes tratamentos “E ainda assim, durante o isolamento, as pessoas estão nas suas próprias casas, com acesso à alguns familiares, então não é uma comparação direta, porque nos hospitais e unidades terapêuticas as pessoas não têm acesso a muitas coisas, mas fica a reflexão sobre o que significa esse tipo de isolamento que não é produtor de saúde. Nós sempre falamos que estar sozinho e não ter acesso à serviços básicos, à comunidade e ao seu território é adoecedor”, pontua.

Edição: Vanessa Gonzaga