Rio Grande do Sul

PANDEMIA

Defender a democracia e a humanidade, uma luta dentro do isolamento

O governador Flávio Dino, Manuela D'Ávila, Tarso Genro e Céli Pinto participaram de painel online do INP

Porto Alegre | BdF RS |
Debate estava programado para ser presencial, com a vinda confirmada do governador Flávio Dino a Porto Alegre - Divulgação

A formação de uma Frente Ampla para a defesa intransigente da democracia no país foi a principal conclusão do debate ao vivo (live) realizado pelo Instituto Novos Paradigmas (INP) no final da tarde desta terça-feira (19). O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT), a professora emérita da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Céli Pinto e a pré-candidata à Prefeitura da capital gaúcha Manuela D’Ávila debateram durante uma hora e meia o tema Pandemia e Democracia – Crise política e defesa da humanidade, sob a coordenação do Diretor do INP, Professor Jorge Branco.

O primeiro a falar foi o governador Flávio Dino que apresentou sua solidariedade aos familiares e doentes acometidos da covid-19. Para ele esta é a principal prioridade no Brasil atualmente, com a reafirmação de um isolamento social como única forma de combate à doença com evidência cientifica até o descobrimento de uma vacina ou medicamento eficaz. Defendeu ainda o auxílio econômico às famílias necessitadas e criticou a forma da agenda econômica do governo que priorizou o auxílio aos bancos e empresas antes das pessoas. Dino concordou com a necessidade de uma queda nos juros e um aumento da carência para empréstimos a pequenas e microempresas manterem seus trabalhadores, porém criticou a lentidão no atendimento das propostas. Destacou a importância dessas medidas para que não haja um colapso nas cadeias produtivas levando à falência “setores inteiros da economia brasileira”.

Por fim defendeu a tese federativa para a agenda democrática. “Tem uma série de temas a ela articulados, mas eu quero mencionar apenas um que é a agenda federativa na medida em que o Bolsonaro é um déspota pouco ou nada esclarecido e que por isso tenta aniquilar todos os mecanismos que fazem contraste com as suas vontades unilaterais”, afirmou, lembrando que  a divisão entre os poderes é um instrumento constitucional para servir de peso e contrapeso aos interesses de cada um dos setores.

Paulo Guedes representa o projeto neoliberal

A professora e cientista política Céli Pinto, por sua vez, colocou algumas questões sobre a atual crise política, que segundo ela “iniciou quando Aécio Neves contestou o resultado eleitoral em 2014, passou pelo golpe contra a presidente eleita Dilma Rousseff e culminou com a eleição de Jair Bolsonaro”. Ela explicou que se trata de um projeto da direita neoliberal para tirar a esquerda do poder e realizar as chamadas “reformas necessárias”. Conforme Céli este projeto deixou de apostar na extrema direita de Jair Bolsonaro e é representado pelo projeto de Paulo Guedes no atual governo. Ela entende que seus apoiadores não aceitam mais os exageros protofascistas do atual presidente, mas de forma nenhuma aceitariam uma volta ao poder de um programa diferente. Por isso ela alerta a esquerda que embora pareçam aliados no momento os opositores de direita concentrados na grande imprensa que pretendem a saída de Bolsonaro, não o são. “Eles pretendem a manutenção de seu projeto sem o custo político e de legitimidade criado pela atual liderança”.

Manuela D’Ávila colocou dois outros pontos na discussão, o enfrentamento que o governo norte-americano e seus aliados estão fazendo à Venezuela, na busca da hegemonia no continente e a agenda ambiental. Conforme a candidata à Prefeitura da capital gaúcha o novo mundo a ser construído para se conviver com uma endemia do coronavírus por algum tempo “que poderá ser bastante longo” precisará levar em conta estes aspectos para que a humanidade tenha uma vida prolongada sobre o planeta.

“A ação enterrou a filosofia”

O ex-governador Tarso Genro defendeu o viés humanístico e planetário da crise. Para ele, a pandemia evidenciou que “não existe problema local que não seja global”. Lembrou que a origem da pandemia está incrustrada no modo de vida desenvolvido pelo capital no planeta. Falou ainda sobre o avanço do protofascismo e da anticiência e citou a frase de Benito Mussolini: “A ação enterrou a filosofia”. Tarso disse que Mussolini era um fascista que pensava e “nós vivemos numa situação de loucura, um presidente que é um tenente reformado por questões psiquiátricas”. Segundo ele, “aqui a ação enterrou a ciência e desprezaram um laudo psiquiátrico a partir dessa visão que antagoniza o Brasil”. A esquerda brasileira tem que brigar por uma unidade de dois andares, uma universal a favor da ciência, apoiar governadores de qualquer partido, mas não perder a perspectiva de que nossa frente é outra; realizar uma mudança política no país, criando uma nova maioria política.

Afirmou ser uma “parada dura, o que está sendo construído como saída antibolsonaro não aceita ir além do centro-direita. Um centro que pode ser levado onde nem todo mundo é progressista e nem todo mundo é democrático, as dificuldades são muitas, mas não podemos fazer do isolamento social um refúgio para não lutar”, concluiu.

Edição: Katia Marko