Rio Grande do Sul

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Artigo | Quando faltam as palavras

Nosso povo sofrendo, jovens sendo assassinados, guerreiros e guerreiras tombando e uma corja toma conta desse país

Porto Alegre | BdF RS |
Se tiverem estômago assistam toda a reunião, para que tirem suas conclusões. Não fiquem somente com as partes divulgadas pela mídia. - Marcos Corrêa/PR

Eu tô sem palavras, dificilmente elas me faltam.

Somos parceiras de longa data, elas me ajudam a externalizar as indignações e denúncias ou demandas por direitos, uma missão que cumprimos juntas, eu e as palavras. 

Mas quando o absurdo salta aos olhos, a perversidade salta aos ouvidos numa estratégia que se conformou com a eleição com o que há de pior, me faltam as palavras. Nosso povo sofrendo, nossos jovens sendo assassinados, nossos guerreiros e guerreiras tombando e uma corja (me faltam palavras) toma conta desse país. 

Penso em alguns palavrões para descrever essa reunião interministerial, mas não acho que não vá contemplar ou somar com a análise, e ainda me faltam palavras para descrever. 

Se tiverem estômago (sim todos temos, mas é um modo de avisar que o conteúdo gera náuseas) assistam toda a reunião, para que tirem suas conclusões. Não fiquem somente com as partes divulgadas pela mídia. Olhem o todo, aqueles seres desprezíveis sentados em suas cadeiras confortáveis, sendo servidos com café torrado e moído na hora, nos altos de 22 graus de temperatura. 

Escutem o que diz Onix, Weintraub, Damaris, Salles e a cereja do bolo de horrores, o presidente. Esses seres trabalham pela Casa Civil, Educação, Assistência Social, Meio Ambiente e no cargo máximo desse país... São tantos absurdos, tantos crimes, que faltam palavras. Todos esses recortes das falas que estão aparecendo nas mídias são verdadeiras, mas ver no conjunto da obra é repugnante.

"Divulgar essa reunião não vai adiantar de nada" me dirão alguns, "os que aprovam esse desgoverno vão continuar apoiando", me dirão outros. Pois, lhes digo que os crimes cometidos por essas "pessoas de bem" está gravado e registrado na história, juntamente com o ódio que sentem pelo povo, pelos povos tradicionais, pelo Estado justo e democrático, pelo meio ambiente, pela Constituição desse país. São provas de crimes sim! Várias! Vão levar ao impeachment? Sinceramente, creio que não. Enquanto for lucrativo, enquanto as milícias precisarem de "proteção". 

Bem, parece contraditório a chamada desse texto com as suas várias linhas que o descreve, mas ainda não consegui encontrar palavras para descrever o resumo da obra dessa reunião. Elas não saem e os sentimentos apertam o peito e dói. Em meio a isso, as notícias dos assassinatos dos jovens negros dessa semana, da semana passada, de 520 anos. Vem o desespero das mães que não estão conseguindo acessar o auxílio de renda básica, ecoa na minha cabeça o barulho de panelas vazias, o desespero das pessoas perdendo seus queridos e queridas para uma doença que não faria tanto estrago se tivéssemos um governo trabalhando para o povo. 

Não somos imorais para dizer "se virem", não fomos nós que elegemos esse que aí está! Temos responsabilidades enquanto povo e não fugimos da luta! Aqui estamos, caindo, levantando e seguindo. Coletivamente organizados e do lado certo da história! 

O alento desse país está na solidariedade do povo organizado, nas toneladas de alimentos doados, nas centenas de lives formativas e informativas, na mobilização pelo #AdiaEnem, na força tarefa para auxiliar na solicitação de auxílios, nas denúncias que ocorrem diuturnamente, nas reflexões, nas várias formas de ajudar e fazendo arte, cultura e música.

Desse povo organizado e mobilizado pela classe trabalhadora falaria por horas! Quanta lindeza, quanta humanidade, "com uma bagagem de sonhos cada vez mais cheia", como diriam nossos companheiros do Grupo Unamérica. 

De tudo, que as indignações e injustiças gerem ações, juntamente com a ternura e amor pela humanidade que nos movem! Faltam palavras para descrever os horrores, mas que não nos falte força para seguirmos!

Edição: Katia Marko