Rio Grande do Sul

SUBNOTIFICAÇÃO

Número de mortes por covid-19 no RS pode ser seis vezes maior do que afirma o governo

Óbitos por SRAG aumentaram 2.000% no estado, que está entre os que menos realizam testes entre as unidades da federação

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Além de não fazer testes em massa, RS tem flexibilizado restrições de isolamento a cada semana - Paulo Desana/Dabakuri/Amazônia Real

Dados compilados pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, da Fiocruz, indicam que o número de mortes no Rio Grande do Sul por covid-19 pode ser até seis vezes maior do que o informado pela Secretaria da Saúde.

Entre 8 de março e 9 de maio, o estado contabilizou 669 mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Dessas, apenas 106 tiveram a causa identificada como covid-19. Mas a média do período, nos últimos dois anos, é de 33 mortes.

São, portanto, 636 mortes acima da média, das quais 530 não têm um diagnóstico preciso. Trata-se de um aumento de quase 2.000% no número de óbitos esperados para o período.

Estado está entre os que menos realizam testes

Parte da explicação para os óbitos genericamente classificados como SRAG pode estar na falta de exames realizados no estado. Levantamento publicado pelo G1 no dia 15 de maio demonstra que o Rio Grande do Sul ocupa a 23º posição no número de testes de covid-19 entre todas as unidades da federação.

São 90 exames por 100 mil habitantes, patamar que coloca o estado à frente apenas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Os dados da Fiocruz também traduzem essa defasagem. Entre 19 e 25 de abril, foram 107 óbitos por SRAG. Mas, no gráfico abaixo, vemos que apenas 32 foram diagnosticados como covid-19. Outros cinco aguardam resultado e seis estão classificados como “outros”.

No entanto, 61 mortes permanecem sem diagnóstico. Sequer foram testadas.

É consenso científico que uma estratégia de combate eficaz ao novo coronavírus passa pela adoção de testes em massa, bem como a busca ativa e o isolamento de infectados(as).

Além de não seguir estes protocolo, o Rio Grande do Sul tem – semana a semana – flexibilizado as restrições à circulação de pessoas e ao funcionamento de comércios e serviços.

Reabertura precipitada

Para o médico gaúcho Armando de Negri Filho, especialista em Medicina de Emergências e mestre em Epidemiologia, o governo se precipita ao permitir um movimento de reabertura.

“Entre as três etapas da pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas, o que se observa é a aceleração do contágio. Podemos entrar em uma difusão que é exponencial. Para além da escalada gradual, o inverno está chegando. É o período do ano no qual notoriamente aumenta a pressão sobre o sistema de saúde”, avalia.

"Para além da escalada gradual, o inverno está chegando" / Divulgação CPERS

Desde que foi lançado, o plano de “Distanciamento Controlado” de Eduardo Leite (PSDB) só recebeu atualizações que afrouxaram o isolamento social, apesar do contágio não mostrar sinais de recuo no território.

Para Negri, o governo tergiversa ao atribuir um verniz científico ao plano, uma vez que a pesquisa tem como mensagem principal o alerta de que o vírus circula em ritmo de expansão.

“Estranhamos como o resultado objetivo da pesquisa é interpretado como um elemento para tranquilizar. Deveríamos continuar insistindo no isolamento e na adoção de medidas que protegessem econômica e socialmente a população. Não há controle e segurança. Testar um plano em um ambiente assim é um risco enorme”, reflete o médico.

Sem condições de retorno às aulas presenciais

Há outras fontes que demonstram uma defasagem generalizada no registro dos dados pela Secretaria Estadual da Saúde. Em Porto Alegre, por exemplo, o número de casos confirmados pela Prefeitura era de 934 na sexta-feira. Segundo o Estado, são 603 casos, uma diferença superior a 50%.

Armando Negri lembra que, apesar dos números absolutos parecerem baixos em contraste com o total de casos e óbitos do país, a flexibilização açodada pode pôr abaixo os ganhos iniciais.

“O isolamento precoce no Estado deslocou para frente a possibilidade de um pico. Mas a intenção não deveria ser adiar o pico, e sim não ter pico. O ideal é permanecer em uma curva achatada. Deveríamos estar ganhando tempo e desenhando uma estratégia mais apropriada. A gente pode atravessar esse período difícil de forma mais tranquila ou cruzar um tempo de muitos traumas e perdas”, conclui.

Para o CPERS, a falta de testes e a insegurança quanto ao real cenário da doença no Rio Grande do Sul inviabilizam qualquer possibilidade de retorno às aulas presenciais em curto ou médio prazo. Na próxima quinta-feira (28), o Sindicato realizará um debate ao vivo no Facebook e no Youtube sobre a questão. Fique atento e participe.

 

Fonte: CPERS Sindicato

 

Edição: Marcelo Ferreira