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Opinião

Artigo | Tem Cruzeiro até no Piauí, mas a diretoria só enxerga BH

Cruzeiro é patrimônio imensamente maior do que o bando de desonestos que esteve à frente da administração do clube

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Uma pergunta sincera ao cruzeirense, ou ao mero leitor, que se depara com esse texto: alguém conhece o senhor com a camisa estrelada na foto? - Reprodução

Uma pergunta sincera ao cruzeirense, ou ao mero leitor, que se depara com esse texto: alguém conhece o senhor com a camisa estrelada na foto?

Talvez a maioria, ao menos mineira, não o conheça. Pois bem, esse senhor não nasceu, nem nunca viveu em Minas Gerais, mas, após ganhar o manto azul estrelado quando criança, no interior do Piauí, tornou-se cruzeirense. 

O referido senhor é o atual governador do Piauí, Wellington Dias, reeleito pelo Partido dos Trabalhadores. Mesmo estando em segundo mandato, mantém um alto índice de popularidade na gestão desse estado do Nordeste. Por que estou chamando a atenção para esse fato?

O objetivo deste artigo não é debater a carreira política de quem quer que seja, mas apontar o tanto que o Cruzeiro impacta em diversas figuras simbólicas do nosso país. Se assim é com um governador de um estado do Nordeste, sem relações familiares em Minas, imagine a força desse sentimento diante do cidadão comum.

A capacidade que o Cruzeiro tem de transpor fronteiras, mesmo estando fora do Eixo Rio-São Paulo, levando essa identidade e sentimento celeste, impressiona. Isso não pode ser menosprezado. Até porque, ao contrário de outros clubes, o Cruzeiro nunca teve os grandes veículos de comunicação ao seu lado ou uma rede globo para chamar de sua, mas, como já disse Samuel Rosa, é um clube que tem no seu DNA ser a oposição, nadar contra a maré para se afirmar.

Ninguém duvida que o Cruzeiro é um patrimônio imensamente maior do que o bando de desonestos que esteve à frente da administração do clube nos últimos anos. No entanto, para reconstruir o clube, nós precisamos mais do que discursos repetitivos e vazios ou de gestores sérios, mas pessoas que compreendam o tamanho real do Cruzeiro e da inflamada China Azul. Logo, a política do clube também deve ser pensada com “P” maiúsculo e executada para além das montanhas.

Diante disso, nos cabe refletir e indagar aos novos gestores do clube sobre alguns pontos fundamentais quando se pensa grande, como deve ser no caso do Cruzeiro. Soltaria somente três questões no ar que podem nos ajudar nessas reflexões:

1) Seria possível a diretoria, junto com a equipe de marketing do clube, trabalhar ações culturais em outros Estados, seja no formato de amistosos, atividades culturais e esportivas, fortalecimento das confrarias celestes Brasil afora, que associe a marca do clube a um sentimento nacional, capaz de extrapolar as Minas Gerais?  Ou continuaremos desperdiçando toda a visibilidade que o clube poderia alcançar em território nacional?

2) Por que não pensar um troféu simbólico, poderia ser uma espécie de “raposa de ouro” ou de algum cristal azul, que homenageasse aquelas figuras como cantores/as, atores, intelectuais, etc., que destacam o nome do Cruzeiro no cenário nacional e internacional?

3) E talvez a mais importante das reflexões: como uma diretoria, de um clube como o Cruzeiro, não pensa um sócio-torcedor com abrangência nacional? Mas não um plano que não ofereça absolutamente nada em contrapartida para quem paga, como tem ocorrido, mas seja atraente para um cruzeirense que está no meio da Amazônia, como o seu Lúcio, torcedor cego protagonista do filme Azul Escuro, e esse possa contribuir e se sentir parte do clube que ama. Essa contrapartida pode se dar de várias formas para esses milhares de potenciais sócio-torcedores, por exemplo: seja com uma parcela mensal mais modesta, mas que garanta a esse torcedor que vive longe, ter o direito a uma camisa do clube ao final de um ano de contribuição; ou possa resgatar um ingresso por semestre; e talvez, o que seria mais importante para aprofundar essa massificação do Cruzeiro em vários rincões do país, o direito ao voto do sócio torcedor. Seguir bons exemplos de outros clubes é fundamental, esse é um deles. Hoje, os planos de sócio torcedor só são interessantes para aqueles/as que moram em BH, nem quem é do interior tem boas razões para adquiri-lo, e só o fazem por amor ao clube.  

Uma diretoria séria, responsável e com uma equipe de markenting proativa, deve estar atenta a essas questões para pensar o Cruzeiro do tamanho que ele é, muito maior do que as fronteiras de Minas dão conta. A democracia é um caminho sem volta e urgente para os anseios de um gigante como o Cruzeiro. Chegou a hora de recolocarmos o clube no lugar que jamais deveria ter saído e reafirmá-lo não mais somente como o time do povo mineiro, mas também do povo brasileiro. 

Edição: Wallace Oliveira