Rio Grande do Sul

CORONAVÍRUS

Para SRGI, Distanciamento Controlado aumenta propagação da covid-19 no RS

Entidade aponta agravo da pandemia e diz que existem incertezas e lacunas para se flexibilizar medidas de isolamento

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Centro de Porto Alegre tem mostrado grande movimento de pessoas após diversas flexibilizações do isolamento - Luiza Castro / Sul 21

“Existem incertezas e lacunas de informação epidemiológica para se flexibilizar medidas de isolamento”. “Redução do isolamento implicará na maior circulação viral e aceleração de novos casos. Não deve ser adotada na fase de aceleração da epidemia e antes de seu ‘pico’”. Essas são algumas das recomendações observadas pela Sociedade Rio-grandense de Infectologia (SRGI) no posicionamento em que a entidade critica o Distanciamento Social Controlado adotado pelo governo Eduardo Leite (PSDB) para lidar com a ameaça do coronavírus.

Assinado pelo presidente em exercício da SRGI, Diego Rodrigues Falci, o documento divulgado nesta terça-feira (2) aponta que o agravamento da pandemia não permite ainda que sejam colocadas em prática medidas de flexibilização do isolamento social. “As experiências de outros países mostraram que o isolamento social guarda relação inversa com a aceleração da epidemia: reduzir isolamento acelera a propagação da epidemia”, exemplifica.

“Recentemente, o governo estadual apresentou o plano de Distanciamento Social Controlado, estabelecendo gradientes de risco entre os municípios. Propôs retorno das atividades de trabalho presencial, resultando na diminuição do isolamento social”, constata a entidade. Aponta que, enquanto o Brasil já ultrapassa a marca dos 500 mil infectados e atingiu uma velocidade de mais de mil mortes diárias desde 26 de maio, o Rio Grande do Sul “teve, no período de 27 de abril até o final de maio, aumento de cerca de 1.500 para aproximadamente 10 mil casos confirmados de COVID-19, representando uma elevação em 15 vezes o número de casos em apenas 4 semanas”.

Chama a atenção também para a notificação de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que “aumentou 7 vezes comparando-se o mesmo período de 2019 (cerca de 100 casos) e 2020 (cerca de 700 casos), o mesmo ocorrendo em relação a óbitos devido a SRAG com aumento em 10 vezes no número de óbitos”. Destaca ainda a não realização de testagem em pacientes não hospitalizados; as expressivas diferenças na detecção de casos, incidência e mortalidade em alguns municípios; e os surtos registrados em grandes hospitais de Porto Alegre e em estabelecimentos como frigoríficos pelo interior do estado.

Conforme lembra a SRGI, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que a flexibilização das medidas de isolamento pode ocorrer, desde que alguns critérios tenham sido observados. Entre eles, que a transmissão viral esteja controlada; que surtos em locais de risco (como hospitais) tenham sido controlados; que o sistema de saúde seja capaz de diagnosticar e isolar os contatos de casos confirmados.

Por isso, afirma que monitorar a evolução da epidemia apenas com informação de disponibilidade de leitos hospitalares e em UTI, como é praticado no modelo de Distanciamento Controlado, reduz a sensibilidade para identificar mudanças na propagação da doença. E “desconsidera o impacto social e individual decorrente do aparecimento de novos casos, do aumento de mortes e da ocorrência de surtos entre profissionais mais expostos, como no caso de profissionais de saúde e suas famílias”.

A SRGI afirma que “o monitoramento da epidemia deve utilizar ferramentas de alta sensibilidade, permitindo analisar sua dinâmica de propagação, com isso detectar modificações em sua incidência e identificar áreas de maior expansão”. Além disso, assinala que medidas de redução do isolamento só podem ser praticadas se “acompanhadas de ampla testagem diagnóstica, incluindo o desenvolvimento de indicadores de cobertura de testagem considerando-se a população, e não apenas o número de casos confirmados.”

CES/RS afirma que modelo tem ilegalidades e pede sua anulação

“Ilegal e temerário” são os termos usados pelo Conselho Estadual de Saúde/RS (CES/RS) para condenar o “Distanciamento Controlado” adotado pelo governo Eduardo Leite. Por isso mesmo, exige a anulação de todos os instrumentos legais que apoiam o modelo, denunciando a ausência de “embasamentos técnicos e científicos, além de eivados de ilegalidades”. Em nota lançada no dia 28 de maio, o Conselho acusa a medida de terminar com o isolamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e “praticado por todas as nações que defendem a vida de seus cidadãos”. Acrescenta que os países que praticaram o isolamento fortaleceram-se economicamente em relação aos que o ignoraram. Ressalta que as medidas previstas integram as políticas públicas de saúde e, como determina a lei, o CES/RS deveria ter sido consultado, o que não ocorreu.

 

Edição: Marcelo Ferreira