Rio Grande do Sul

Produção

Pressão funciona e Porto Alegre vai manter parceria que apoia a agricultura familiar

Caso fechasse o escritório da Emater-Ascar, centenas de famílias perderiam serviços e vínculos de trabalho com entidade

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Município regularizou sua participação no convênio que não vinha sendo pago desde 2016 - Reprodução

A pressão dos agricultores da periferia de Porto Alegre funcionou e a prefeitura da capital reavaliou sua posição e vai manter a parceria com a Emater-Ascar. O convênio existe desde 1958 encaminhando créditos e dando assistência técnica à atividade. No dia do aniversário de 65 anos de fundação da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural, a Ascar, o presidente da Emater-Ascar, Geraldo Sandri, informa que acabou de acertar os ponteiros com a administração municipal.

Sandri diz ainda que Porto Alegre resolveu regularizar sua participação no convênio que não vinha sendo pago desde 2016, o que motivara a possível desativação do escritório. Cerca de 400 famílias - 150 de agricultores/as, 150 de indígenas, 200 de pescadores e profissionais artesanais, assim como 24 de quilombolas - perderiam a prestação de serviço e os vínculos de trabalho estabelecidos com a Emater-Ascar.

Feira virtual já tem 800 agricultores


Emater-Ascar lançou canal digital entre consumidores e produtores / Reprodução

Conta que o escritório opera há mais de seis décadas participando de projetos que apoiam o trabalho da agricultura familiar e urbana na capital. A soberania alimentar é um direito humano básico que é garantido por meio de cadeias de produção de alimentos que sejam ambientalmente sustentáveis e socialmente justas. “Em tempos de pandemia – assinala – suspender o serviço de uma organização do tipo seria uma decisão inadequada quando é preciso manter fluxos de promoção da saúde humana e ambiental por meio da alimentação”.

Por causa do avanço da covid-19, desde o dia 14 de abril está funcionando um aplicativo de relacionamento entre produtores e consumidores. É a Feira Virtual da Agricultura Familiar, a FEVAF-RS, que já tem mais de 800 agricultores cadastrados em todo o Rio Grande do Sul. Para os consumidores basta baixar o aplicativo Feira Virtual Emater no celular, começar o relacionamento com produtores e agroindústrias familiares e fazer as compras online.

Mais demanda para hortas

Segundo a equipe de trabalho do escritório de Porto Alegre, existem muitas demandas de apoio para instalação de hortas em comunidades, unidades de saúde, unidades de assistência social, escolas, presídios, centros de recuperação de dependentes e ainda hortas domésticas.

“Neste momento de pandemia, onde vemos que a saúde e a alimentação tem que ser priorizadas, o estímulo ao cultivo agroecológico é fundamental, com produção de hortaliças e frutas, plantas alimentícias não convencionais e plantas medicinais, nos terrenos urbanos também”, argumenta Ademir Santin, que coordena a sede regional da Emater/RS em Porto Alegre.


Horta comunitária da Lomba do Pinheiro é um dos projetos apoiados na capital / Reprodução

Coordenador do Fórum Gaúcho de Agricultura Urbana e Periurbana Sustentável, Mário Sander Bruck enumera os projetos da Emater-Ascar no município que seriam paralisados com a suspensão: Coletivo vivo – Fruto dos trabalhos do Fórum da Agricultura Urbana, proposto pela Secretaria do Trabalho e Assistência Social/RS, para beneficiar seis unidades com equipamentos para implantação de hortas urbanas, cujo projeto prevê assistência pela Emater; SEDUC – BANRISUL: Projeto da Secretaria Estadual de Educação e do Banrisul, onde 6 escolas receberam sementes orgânicas para desenvolver sua hortas, com o apoio da Emater Municipal; apoio a horta comunitária da Lomba do Pinheiro, que é um local de inspiração para outras hortas urbanas, com rico conhecimento popular e científico no cultivo e uso de plantas, assim como distribuição de sementes e mudas.

Produzindo alimentos na própria cidade

Porto Alegre já teve a maior área rural entre as capitais brasileiras, quando seu abastecimento de produtos agrícolas procedia, em boa parte, desse ambiente. A configuração espacial e da paisagem mudou, mas não mudou o desejo das pessoas produzirem alimentos na própria cidade a que são destinados.

A Ascar foi transformada em Emater/RS-Ascar em 1977. Ao longo desse tempo, incorporou novos valores e conceitos para atender às demandas diárias de seu público, formado por agricultores familiares, quilombolas, pescadores artesanais, indígenas, assentados. É um contingente superior a 250 mil famílias de assistidos distribuídas por 480 municípios e 9.550 comunidades rurais, assistidas por dois mil técnicos. Também atua na integração do jovem no meio rural. Repassa conhecimentos e experiências através de oito eventos que promove diariamente ou de programas em rádios e tevês.

As tarefas do quadro funcional incluem a capacitação dos agricultores e jovens rurais e a identificação de saneamento básico como instrumento de saúde pública, ações que promovem proteção à saúde das populações e à preservação do meio ambiente. A agenda diária coloca em prática um conjunto de ações educativas e concretas que resultam no abastecimento de água para consumo humano, na disposição adequada dos esgotos domésticos e dos resíduos sólidos das propriedades rurais e iniciativas que asseguram a segurança alimentar dos públicos assistidos, entendida principalmente como a produção de alimentos saudáveis.

Edição: Ayrton Centeno