Rio Grande do Sul

Posicionamento

Ordem dos Frades Menores publica Carta ao Povo Brasileiro

Franciscanos manifestam posição acerca do momento sanitário, político, econômico, religioso e social que atravessamos

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Carta foi publicada no site https://franciscanos.org.br - Reprodução

A Ordem dos Frades Menores, de matriz Franciscana, emitiu no dia 12 de junho um documento público onde demarca posição acerca do do momento sanitário, político, econômico, religioso e social que o Brasil atravessa. Denominada "Carta da CFMB ao Povo Brasileiro", a publicação foi disponibilizada a partir do site franciscanos.com.br, vem assinado pelo presidente da Conferência Ministros Provinciais do Brasil e subscrita pelas respectivas entidades que a compõem. Leia a carta na íntegra:

 


Carta da CFMB ao Povo Brasileiro

“Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe?” (Mt 7,9-10)

São Paulo, 12 de junho de 2020.

 

Estimados irmãos e irmãs, Paz e Bem!

Exatamente no dia compreendido entre duas datas centrais para a vida da Igreja e para a história franciscana, quando acabamos de celebrar a Festa Eucarística de Corpus Christi e estamos às vésperas de comemorar Santo Antônio, nós, Ministros Provinciais e Custódios das entidades da Ordem dos Frades Menores (OFM) no Brasil, decidimos nos manifestar a todo o povo brasileiro sobre o momento sanitário, político, econômico, religioso e social que todos estamos vivendo. O compromisso irrenunciável com o Evangelho pelo qual escolhemos reger as nossas vidas é vínculo que nos impele a este pronunciamento em data tão significativa.

Partindo da provocação que Jesus apresenta no Evangelho de Mateus, é muito desolador perceber o quanto nosso país tem recebido pedras e pedradas duras e dolorosas daqueles que deveriam lhe oferecer o pão. Igualmente penoso é notar que aqueles cujo o compromisso seria o de possibilitar a pesca em situação de “maré baixa” preferem investir no desmando e na desorganização, gerando medo e insegurança. E o que é mais grave: muitas vezes tais inversões se realizam em nome da fé em Deus.

É célebre a exortação de Santo Antônio proferida em um Sermão por ocasião de Pentecostes: “O falar é vivo quando falam as obras. Peço-vos: cessem as palavras e falem as obras”. É claro que o santo se utiliza deste jogo de palavras para abordar positivamente a importância da coerência no testemunho cristão, quando palavra e ação devem caminhar juntas. No entanto, em nosso país esta lógica foi virada do avesso e, nas ações e opções daqueles que nos dirigem, percebemos uma sólida e sórdida coerência de quem, com a boca, pronuncia palavras de descaso para com a vida – já bem conhecidas e divulgadas – e que, na prática, promove disputas mesquinhas, desencontros, ambiguidades e falta de coordenação e planejamento nas ações, tornando ainda mais letal a força do vírus. Além do avanço exponencial do número de mortes, ainda temos de lidar com frequentes ameaças à democracia, com o desprezo à ciência, com a destruição desenfreada do meio ambiente, com o agravamento da situação de pobreza e miséria e, para completar, com o clima de ódio e beligerância que volta a ganhar fôlego no país.

Também nos machuca profundamente o oportunismo corrupto daqueles que, diante da emergência do momento, aproveitam-se para lucrar criminosamente à custa de compras superfaturadas na aquisição de materiais que nunca chegam e de obras que jamais terminam. Em vez do pão do cuidado e da proteção da vida, oferecem-nos as pedras da indiferença, do egoísmo e da agressividade.

Manifestam-se ainda como chaga dolorosa também as inúmeras demonstrações de racismo e preconceitos de diferentes ordens e origens. Cada gesto desta natureza representa uma derrota para a humanidade inteira. Na qualidade de herdeiros de São Francisco no seguimento do Evangelho, nosso posicionamento diante de qualquer forma de racismo ou preconceito, pontual ou estrutural, deve ser de repulsa imediata e inegociável, a fim de fazermos jus à consagração que abraçamos livremente.

Santo Antônio destacou-se em sua vida como o homem da generosidade e da esperança. Também nós, frades menores, desejamos nos esforçar para encontrarmos, em meio a tantos sinais de morte e medo, a força do Espírito de Deus que, na Paixão do Filho, fez nascer da cruz – a “árvore” da dor e do sofrimento – o fruto maduro que trouxe ao mundo a paz e a salvação. Como irmãos e menores, em nossos pecados e limites, em espírito de comunhão e fidelidade à Igreja e ao Papa Francisco, colocamo-nos à disposição de todos aqueles e aquelas que, preocupados com a gravidade do momento que vivemos, desejem dialogar na busca de possíveis caminhos de superação da ampla crise que estamos atravessando.

 

Frei César Külkamp, OFM (presidente da CFMB)

Entidades que compõem a Conferência Ministros Provinciais do Brasil (CFMB): Custódia Franciscana das Sete Alegrias de Nossa Senhora; Custódia Franciscana do Sagrado Coração de Jesus; Custódia São Benedito da Amazônia; Província do Santíssimo Nome de Jesus do Brasil; Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil; Província Franciscana da Santa Cruz; Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil; Província Franciscana de São Francisco de Assis; Província Franciscana Nossa Senhora da Assunção.

 

Edição: Marcos Corbari