Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | A origem ocultada do Rock´n Roll

Mulher negra estadunidense, Sister Rosetta Tharpe é tida como a origem do rock and roll, na década de 1920

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Mesmo com toda a sua importância e influência sobre músicos como Elvis Presley, sua contribuição foi silenciada durante muitas décadas" - Reprodução

No dia 13 de julho é celebrado o Rock’n Roll, gênero musical profundamente diverso, constituído a partir da junção de inúmeros gêneros musicais como o blues, jazz, rhythm & blues e country, sendo os três primeiros partes integrantes da cultura negra estadunidense.

Naturalmente, quando se fala nas origens do Rock, logo pensamos em Elvis, aclamado mundialmente como o “Rei do Rock”, mas será que não existia Rock’n Roll antes de Elvis?

Vamos ao começo de tudo… Não dá para falar sobre Rock’n Roll sem citar o Blues, que, por sua vez, se desenvolveu especialmente do canto dos escravizados das lavouras de algodão do sul dos Estados Unidos. Foi também nessas lavouras, em 1915, que Rosetta Nubin nasceu, na cidade de Cotton Plant, Arkansas, às beiras do rio Mississippi. Seus pais, Katie Bell e Willis Atkins, eram colhedores de algodão. Não se sabe muito sobre seu pai, que pouco participou de sua vida, além do fato de que ele sabia cantar. Enquanto sua mãe foi a pessoa mais presente ao seu lado, até falecer em 1968.

Assim, a origem do rock and roll é creditada a uma mulher negra estadunidense, Rosetta Nubin, conhecida pelo nome artístico Sister Rosetta Tharpe, que já na década de 1920 era uma das poucas mulheres negras a tocar guitarra. Seu primeiro hit gravado foi Rock Me, em 1937, e a música que é considerada a primeira do rock and roll se chama Strange Things Happening Every Day. Com 25 anos, ela estava entre os melhores músicos populares da época e havia se acostumado a tocar com nomes como Lucky Millinder, Cab Calloway, Duke Ellington e outros.

Sua carreira começou na igreja, pois sua mãe era pastora evangélica. Sister Rosetta unia o profano e o sagrado em sua forma de tocar que, aliado à sua voz marcante, nos mostra a resistência de uma mulher negra nos Estados Unidos no século passado, pois foi uma das poucas a tocar guitarra na época nas primeiras décadas do século XX.

Sua morte ocorreu em 9 de outubro de 1973, com 58 anos. Mesmo com toda a sua importância e influência sobre músicos como Elvis Presley, sua contribuição foi silenciada durante muitas décadas. Apenas no século XXI o resgate por sua memória foi mais efetivo com a publicação do livro Shout, Sister, Shout, em 2007, da escritora Gayle Wald. Em 2008 o governador da Pensilvânia Edward Rendell, declarou o dia 11 de janeiro como o dia de Sister Rosetta Tharpe no estado. Por fim, em 2011, foi realizado o documentário The Godmother of Rock & Roll: Sister Rosetta Tharpe, do diretor Mick Csáky.

Existem inúmeros exemplos de músicos negros do rock ou de gêneros que o antecederam que gravaram músicas que só alcançaram sucesso quando foram regravadas por artistas brancos. Willie Mae Thornton, mais conhecida como Big Mama Thornton, gravou a música Hound Dog na década de 1950, mas quem fez mais sucesso foi Elvis Presley ao regravar a mesma música alguns anos mais tarde.

Muitas são as ocultações, silenciamentos e invisibilidades impostas à cultura negra e suas influências, especialmente na música, na literatura e expressões artísticas no geral. É preciso, sempre, o constante processo de busca pelo ocultado nas sociedades construídas sobre as bases racistas estruturantes, como a norte-americana e brasileira. É preciso fazer o constante resgate e exercício de dar visibilidade a nossa cultura e as influências que impactam as sociedades onde estamos inseridos, de maneira a combater a apropriação cultural e garantir o acesso de nosso todas e todos a história das populações negras em diáspora.

Referências:

APARECIDA, Juliana Aparecida. A origem negra do rock. Disponível em https://matracacultural.com.br/2019/07/19/a-origem-negra-do-rock/#:~:text=A%20origem%20do%20rock%20and,mulheres%20negras%20a%20tocar%20guitarra.

* Michele Corrêa é Feminista Negra, graduanda em Filosofia na UFPel, assessora da Pastoral da Juventude (PJ) e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Edição: Marcelo Ferreira