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Marchezan e Leite ainda tem moral para impor um lockdown?

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Em Porto Alegre, Orla do Guaíba e parques fechados foram bloqueados, mas parques abertos seguem registrando aglomeração - Prefeitura de Porto Alegre
Quando não há reserva moral, a alternativa é acionar as forças de repressão do estado. Veremos!

Há muitas maneiras do povo acatar as decisões de um governante, as mais evidentes são as leis e normas estabelecidas que ajudem a organizar estado e sociedade e buscam garantir previsibilidade, estabilidade e segurança. As leis e normas são obedecidas quando os cidadãos as reconhecem como o correto a ser seguido. Todavia, é normal que governantes lancem mão de outros instrumentos para se fazer ouvidos e acatados, tais como medidas de repressão ou liderança carismática assentada na reserva moral que mantêm junto à população.

Hoje, mais de quatro meses após o diagnostico do 1º caso de covid-19, Porto Alegre enfrenta a fase mais crítica da pandemia, com superlotação dos hospitais, taxas de óbitos e números de infectados em crescimento acelerado. O poder público digladia-se com setores organizados da sociedade civil na iminência da necessidade de um fechamento mais radical e restritivo. Os hospitais de Porto Alegre abrigam pacientes da cidade e pacientes de outros municípios do estado, fato que contribui para a superlotação. Logo, Marchezan e Eduardo Leite, os dois principais líderes governamentais do estado, dividem o ônus do efeito sanfona que optaram. Marchezan com o abre e fecha que desorganizou ainda mais a vida da cidade e Eduardo Leite com as bandeiras que não sobrevivem à mínima pressão dos prefeitos e do empresariado local.

Após todos esses meses, o prefeito da principal cidade do estado e o governador enfrentaram a crise sanitária com lives, comunicados e medidas aquém das expectativas da população. Pelo contrário, o período foi marcado por denúncias de ônibus superlotados, desmantelamento da Atenção Primária à Saúde, falta de água recorrente em comunidades periféricas, gasto de recursos do fundo municipal de saúde de Porto Alegre para propaganda publicitária, escândalo da agropecuária pelotense contratada para realizar testes da covid-19, ausência do poder público na construção efetiva de políticas públicas de caráter emergencial que possam socorrer famílias em risco de vulnerabilidade social e pequenos empresários, e nenhum programa de distribuição de renda.

O menor índice de distanciamento social registrado na última semana é sintomático. A falta de ação dos governantes em criar as condições objetivas para o fechamento, antes e agora, lhes desgastou moralmente. Quando a liderança não guarda mais reserva moral para impor medidas de alto impacto social e econômico, como é o caso do lockdown, a última alternativa é acionar as forças de repressão do estado. Veremos!

Edição: Marcelo Ferreira