Rio Grande do Sul

DESCASO

Hospitais psiquiátricos gaúchos têm surto de covid e já registram mortes

Trabalhadores do Hospital São Pedro denunciam falta de testes, EPIs e protocolos de prevenção na instituição

Brasil de Fato | Porto Alegre |
No São Pedro, já foi registrada a morte de um morador e dezenas de contaminados, além de servidores infectados - Divulgação

Dois hospitais que cuidam de pessoas em sofrimento psíquico em Porto Alegre registram surtos de coronavírus. Até o final desta quinta-feira (23), conforme relato de trabalhadores das instituições, o Hospital Psiquiátrico São Pedro já tem 37 moradores contaminados e um óbito confirmado. Entre servidores, 20 já testaram positivo para covid-19. Já no Hospital Colônia Itapuã, foram cinco mortes entre moradores, além de oito servidores positivados para a doença e outros 15 com suspeita de contaminação. As duas instituições são administradas pela Secretaria Estadual da Saúde.

O Brasil de Fato RS conversou com um grupo de três servidores de diferentes áreas do São Pedro, que concordaram em falar mediante anonimato. Segundo eles, há um descaso com os usuários do serviço e com os trabalhadores por parte da direção, que não tem um plano de contingência organizado para combater a contaminação. Eles afirmam que não são realizados testes para todos os trabalhadores que contatam com pacientes com covid-19, faltam protocolos gerais de biossegurança tanto internamente quando em novas internações, equipamento de segurança individual (EPI) como máscaras e aventais são insuficientes e distribuídos de forma aleatória, não houve capacitação para uso dos EPIs e não há reposição dos profissionais afastados.

O Hospital São Pedro é composto por diversas unidades. É referência para 88 municípios da região Metropolitana (aproximadamente cinco milhões de pessoas) e vem de um histórico de precarização e tentativas de privatização. Atualmente, atende cerca de 70 pacientes moradores, além dos residenciais terapêuticos, e possui leitos de internação para pacientes agudos, que chegam em surto psiquiátrico. Conforme relato dos servidores, um dos problemas é a internação de pacientes agudos, que durante a pandemia continuam chegando dos serviços especializados municipais, mas não passam por isolamento antes de entrar no convívio com os demais.

Pacientes contaminados em enfermaria lotada

No início da pandemia foi montada uma enfermaria clínica onde os novos pacientes agudos fariam um período de quarentena. Com 16 vagas, atualmente essa enfermaria está lotada de usuários com covid-19. “Esses pacientes estão na enfermaria com pouquíssimos profissionais porque muitos da equipe se afastaram, adoeceram, e as pessoas estão sendo realocadas de qualquer jeito. O pessoal chega para trabalhar na sua unidade, daí dizem ‘não, tu vais trabalhar na enfermaria agora’. Daí o pessoal não tem a roupa ou o EPI adequado, mesmo com essa negociação, que a diretoria diz que vai comprar EPI, mas isso não está acontecendo ainda”, relata um dos servidores.

“Os pacientes chegariam da rua e ficariam nessa unidade de enfermaria com os protocolos de área infectada e não infectada, para evitar que tivessem contato com pacientes que estivessem internados e transmitissem a covid. Isso aconteceu por uma ou duas semanas. Depois, não tinha trabalhadores suficientes e isso mudou”, afirma. Foi quando passaram então a ficar em observação por alguns dias no Serviço de Atendimento e Triagem. “Ficavam por três dias e iam para a unidade. Ultimamente, me parece que nem tem um período mais, estavam indo direto para a unidade por falta de pessoal.”

Os servidores relatam que não existem respiradores na enfermaria. Quando um paciente teve muita falta de ar, tentaram utilizar um cilindro de oxigênio, que não funcionou. Os casos mais graves deveriam estar em um sistema que pleiteia vagas em hospitais gerais – o Gerenciamento de Internações (Gerint). “Ontem fiquei sabendo que na verdade eles não foram colocados no Gerint, não foram candidatos a uma vaga”, denuncia um deles.

Situação é "gravíssima"

Segundo eles, a paciente que faleceu, no início de julho, uma idosa com outras comorbidades, ficou mal o dia inteiro. O médico foi chamado, mas só pôde vir no final da tarde, praticamente junto com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), porque já começava a passar muito mal. “Fizeram massagem cardíaca e a levaram ao hospital onde acabou morrendo.”

Outra denúncia é o uso de medicamentos não comprovados cientificamente para o combate à covid-19. “Colegas de outra unidade pediram ajuda para ver se encontravam algum médico para receitar azitromicina, para fazer tratamento junto com ivermectina. Outro detalhe é que a maioria dos médicos se aposentou, estamos com quatro ou cinco médicos e psiquiatras, isso num hospital psiquiátrico”, critica.

Para os servidores, a situação é gravíssima. Com os novos pacientes entrando em convívio interno sem a realização de testes, todos ficam expostos. Além disso, é grave a falta de protocolos claros e capacitação entre os trabalhadores, que muitas vezes circulam em diferentes unidades, ou chegam da rua ou de outros hospitais, e não trocam suas roupas ou EPIs, o que aumenta ainda mais o risco de contaminação.

Para além do alerta que a situação já teria em um hospital convencional, tem o agravante da dificuldade prática de manter o isolamento devido à realidade de sociabilização do paciente psiquiátrico. O risco se estende aos trabalhadores, que sem os EPIs adequados e sem ampla testagem, ficam sujeitos à contaminação, podendo adoecer ou ser um vetor de contaminação entre pacientes ou mesmo fora da instituição, junto de familiares.

Sem testes e EPIs

Conforme contam, os protocolos viriam conforme a “cara do freguês”, enquanto alguns colegas que tiveram contato direto com positivados fizeram o teste, outros não. “Uma colega foi positivada, fizeram o teste e foi afastada. Os colegas que trabalhavam com ela, até ontem, não tinham conseguido fazer o teste (RT-PCR, o exame que identifica o vírus e confirma a covid-19). Outro colega que teve contato com paciente que testou positivo está pleiteando, disseram que não, que só tem o teste rápido, dos anticorpos, que só acusa a doença depois de dez dias”, conta.

Outro servidor afirma que em uma das unidades, onde diversos pacientes testaram positivo, todos os servidores e pacientes foram testados. Em outra unidade, não houve relato de testes tanto em pacientes quanto em servidores. Já numa terceira, um paciente chegou de um abrigo que tinha o registro de três casos contaminados. Foi feito o teste e confirmada a contaminação, mas os servidores da unidade tiveram de esperar quatro dias para fazerem o teste rápido.

Trabalhadores perdidos

O grupo destaca que no dia 24 de março foram criados os primeiros protocolos de prevenção à covid-19 no São Pedro, onde a diretoria se comprometeu a implantar medidas e distribuir EPIs, com previsão de treinamento para enfermeiros e técnicos terceirizados. Mas em seguida foram suspensas as reuniões presenciais, para evitar aglomerações. “Então passaram pelo WhatsApp um calhamaço de coisas para ler e algumas imagens. Quer dizer, ninguém leu. Houve tentativa, mas não foi efetiva, não teve uma apropriação desses protocolos.”

O grupo afirma sentir-se perdido, sem uma chefia que desenvolva um plano em conjunto. “Não existem mais aqueles representantes das chefias nas unidades. Parece ser o avanço da terceirização. A gente não tem alguém, por exemplo, que vai fazer acontecer na unidade a implementação de uma normativa, que vai capacitar e supervisionar se isso está sendo bem feito. É uma prática educativa, do cotidiano, e tem uma ausência nesse sentido”, desabafa um deles.

Falta de pessoal

Os trabalhadores também pleiteiam o aumento de pessoal, principalmente de enfermeiros, que são terceirizados. Além dos 20 servidores que se afastaram por covid-19, há a necessidade de repor a redução por conta da escala de trabalho, visto que os trabalhadores estão indo em dias alternados.

“Teríamos que ter um contrato emergencial ou realocação de técnico de enfermagem. Está sobre-humano para essas pessoas ficarem atendendo esses pacientes diuturnamente sem condições adequadas”, destaca um servidor, exemplificando que na manhã anterior à entrevista, haviam dois técnicos na enfermagem, e no dia da conversa, tinham três.

“Completamente desigual. Dá pra ver em outras enfermarias covid em Porto Alegre. Esses pacientes são muito dependentes. É desesperador, alguma coisa tem que ser feita. Para além dos cuidados com a doença em si, eles têm o cuidado assistencial, têm que ser alimentados na boca muitas vezes. Ontem uma colega contou que sozinha teve que dar banho em dez pacientes. Ela saiu da internação tão atordoada e com dor no corpo que se afastou por 14 dias”, relata.

O que diz a Secretaria Estadual da Saúde

Questionada sobre a situação no Hospital Psiquiátrico São Pedro e no Hospital Colônia Itapuã, a Secretaria Estadual da Saúde retornou, através de sua assessoria de comunicação, com algumas informações a respeito do São Pedro. Os números são inferiores ao relatado pelos trabalhadores. Confira a nota:

Hospital Psiquiátrico São Pedro

Três moradores dos residenciais terapêuticos testaram positivo para covid-19. Eles foram isolados na enfermaria covid-19 do HPSP e tratados, com quadro estável e sem complicações. Caso necessário, serão removidos para Hospitais com Leitos Clínicos Covid via Central de Regulação de Leitos do Estado.

Uma outra paciente, que apresentou sintomas suspeitos, foi imediatamente transferida para Hospital Vila Nova no dia 6 de julho, onde foi a óbito após uma semana de internação.

Todos pacientes moradores contactantes realizaram teste RT-PCR, conforme prevê protocolo da instituição. Atualmente há dois funcionários afastados por testarem positivo.

Funcionários sintomáticos são afastados imediatamente e encaminhados para testagem. O hospital dispõe de termômetro infravermelho, todos os funcionários assinaram termo de recebimento dos EPIs, que são distribuídos conforme as necessidades de cada setor, há testes rápido de anticorpo e RT-PCR disponíveis no hospital, realizados seguindo protocolos da instituição.

A área de internação hospitalar mantém-se sem casos de covid-19. Por precaução, as visitas estão suspensas desde 31 de março. Os pacientes desta ala estão sendo testados com RT-PCR ao ingressar no hospital e permanecem 72 horas na triagem para serem avaliados clinicamente e acompanhados até o encaminhamento às respectivas unidades.

Entidades cobram medidas urgentes


Pórtico do Hospital Colônia Itapuã, que também registra óbitos de moradores / Guilherme Santos/Sul21

Ao tomar conhecimento da situação nos hospitais psiquiátricos estaduais, a presidenta do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Sindsepe/RS), Diva Costa, fez duras críticas. “O descaso e a falta da implementação de políticas que efetivamente consigam controlar a pandemia no RS pelo governador Eduardo Leite ficam cada vez mais claras. O estado bate seu próprio recorde a cada dia. A própria Secretaria da Saúde não implementa protocolos de segurança sanitária que proteja a vida os servidores e servidoras que continuam na linha de frente atendendo à população, nem dos pacientes.”

Segundo Diva, o Sindsepe-RS solicitou com urgência uma audiência com a secretária da Saúde, Arita Bergmann, “para exigir a testagem de todos os servidores e servidoras, o fornecimento imediato de EPIs adequados e suficientes de modo a proteger a vida destes trabalhadores e trabalhadoras”. O sindicato enviou ainda uma série de reivindicações à direção do Departamento de Coordenação dos Hospitais Estaduais, ressaltando a “grande preocupação com a proteção e preservação das vidas dos (as) servidores (as), dos seus familiares e dos pacientes que são atendidos na instituição”.

O Fórum Gaúcho de Saúde Mental (FGSM) também pede providências. Parte integrante do Conselho Estadual da Saúde (CES), o Fórum enviou um documento aos representantes do Conselho solicitando que sejam requeridas uma série de informações aos gestores do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Providências urgentes foram pedidas “dadas as condições de aglomerações características de instituições asilares como esta, assim como a precariedade de estrutura e equipamentos disponíveis para atender situações graves e complexas de saúde”.

A psicóloga Fátima Fischer, integrante do FGSM, militante da luta antimanicomial há 30 anos e ex-coordenadora de desinstitucionalização do São Pedro durante o governo de Tarso Genro (2011-2014), conta que o CES foi acionado, bem como a Defensoria Pública, visto que “são instituições que podem exercer pressão e cobrança institucional sobre a responsabilidade desse governo frente ao adoecimento e óbito ocorrido por conta do coronavírus”.

Segundo Fátima, em conversas com amigos da rede, há relatos de que os pacientes indicados para a enfermaria têm muito medo de não voltarem mais e os trabalhadores estão apavorados com a iminência de morte. “O coronavírus é mais grave em pessoas com situação de maior vulnerabilidade e nossos usuários e moradores lá já são pessoas com alguma idade, mas principalmente com comprometimentos de doenças pulmonares”, acrescenta. Ela explica que o FGSM questiona que medidas estão sendo tomadas, se os protocolos de informar a vigilância sanitária são cumpridos, se estão repondo trabalhadores afastados, entre outras.

Para o presidente do CES, Claudio Augustin, “é assustador” o surto de covid-19 no Hospital Psiquiátrico São Pedro. “Já temos em torno de 60 positivados entre pacientes e servidores. A contaminação decorre da falta de EPIs adequados aos servidores e pacientes, falta de local adequado para higienização, falta de testagem e do precário isolamento existente. A Secretaria Estadual de Saúde tem o dever de tomar as medidas necessárias para garantir o atendimento dos contaminados e estancar a contaminação. É inaceitável que a direção do hospital e a Secretaria Estadual de Saúde tenham permitido que tamanho absurdo esteja ocorrendo.” O CES também solicitou reunião com a Secretaria da Saúde.

Ex-secretária da Saúde no governo de Tarso, Sandra Fagundes avalia que esse surto é resultado de invisibilidade e de uma política “com a qual não concordamos, que é das pessoas viverem e serem tratadas em hospitais psiquiátricos”. Ela destaca que desde a reforma psiquiátrica, a proposta deveria ser de criação de uma rede de cuidados incluindo acompanhamento 24 horas, mas com serviços nos territórios e comunidades, com atenção básica na cidade, com centros de convivência, moradia, Centros da Atenção Psicossociais (CAPS) e uso de hospitais gerais.

“Manter as pessoas em hospitais psiquiátricos é um equívoco assistencial, agravado agora pela covid e o modo com que as autoridades têm lidado com essa questão. Em especial essa necropolítica, que provoca o contágio, com menos ênfase na ciência, provocador desse grave problema de adoecimento e morte”, opina. Segundo ela, é óbvio que onde tiver aglomeração, gente que entra e sai de ônibus, sem proteção, vai haver contaminação. “Agora se deu visibilidade para a questão dos pacientes psiquiátricos, embora tenha sido alertado pelo movimento de saúde mental em todo o Brasil há quatro meses. Não é diferente aqui no Rio Grande do Sul e só agora, quando aparece o contágio e uma possível morte, é que o governo se dirige para ações, mas depois do estrago feito.”

Precarização e risco de privatização

O Brasil de Fato RS teve acesso ao relatório final de um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde, datado de março de 2020, com vistas à entrega do São Pedro. Realizado por uma instituição hospitalar privada, é denominado “Apoio ao equilíbrio econômico-financeiro de instituições de saúde - Hospital Psiquiátrico São Pedro” e faz um “relatório econômico-financeiro assistencial com plano de intervenção e monitoramento para melhoria dos pontos críticos da Instituição”. Traz análise de mercado, avaliação de desempenho, de infraestrutura, entre outros aspectos.

“Nos preocupa muito nessa iniciativa desse governo estadual o fato de não apresentar alternativas para os moradores. Não fala no projeto de privatização de que forma vão cuidar dos atuais moradores. Na nossa visão esses moradores têm direito a essa área e deveria se pensar alternativas capazes de dar conta de uma melhor qualidade de vida e de inclusão social na rede e na vida na cidade”, afirma Fátima.

Ela recorda que praticamente a cada mudança de gestão estadual há um movimento privatista. “Em relação ao prédio do São Pedro, sempre foi uma discussão muito difícil e complexa porque envolve os interesses econômicos com a loucura e os interesses do patrimônio daquela área toda, que hoje é praticamente uma área no centro de Porto Alegre”. Ela aponta que até a construção de um shopping no local foi cogitada, mas que a maioria tentou criar centros de especialidade de psiquiatria, o que não faz parte das diretrizes da reforma psiquiátrica.

A reforma psiquiátrica como norte de dignidade

A reforma psiquiátrica foi aprovada em 2001 no Brasil, fruto de uma luta que iniciou nos anos 1980. Prevê a desativação gradual dos manicômios e criação de estratégias para quem sofre de transtornos mentais possa conviver livremente na sociedade. O Rio Grande do Sul foi o primeiro estado a aprovar uma lei nesse sentido, ainda em 1992. “Foi aprovado por unanimidade pela experiência que muitos prefeitos já tinham da possibilidade do cuidado em liberdade em seus municípios. Quando se aprova lei, se faz o projeto São Pedro Cidadão, que é um norte em relação às mudanças propostas para o hospital”, explica Sandra.

No período de 2011, começou a desinstitucionalização, com a criação de residenciais terapêuticos, onde os usuários voltavam a uma vida integrada com a sociedade. Nas gestões posteriores, porém, muitos desses locais foram fechados e os pacientes retornaram ao São Pedro. “É uma falta muito grave, é essa discussão que o Fórum Gaúcho de Saúde Mental e a luta antimanicomial nacional tem feito. São retrocessos nos governos municipais e estaduais, e especialmente o nacional, que volta a redirecionar as verbas então para os residenciais terapêuticos e de outras medidas de rede substitutiva para os manicômios, voltando a apostar em hospital psiquiátrico como parte da assistência”, ressalta Sandra.

Nau da Liberdade


Grupo de trabalhadores, estudantes e pacientes da Nau da Liberdade, quando o projeto estava vinculado ao estado / Divulgação/ Secretaria da Saúde

Fátima destaca ainda as experiências de tratamento através da arte, trazendo a experiência do Nau da Liberdade, um grupo de teatro criado em 2013, dentro do projeto de desinstitucionalização da loucura. Fez parte dessa política de saúde mental que instituía o cuidado em liberdade, onde a saúde integralizava os cuidados em diretrizes com a educação, habitação, assistência, cultura.

Conforme Sandra, a criação do grupo de teatro foi um marco histórico. Nasceu numa parceria com o grupo teatral italiano Accademia Della Follia, mas no início do governo Sartori, em 2015, “foi expulso do hospital”. Como conta Fátima, o trabalho foi encerrado sem motivos, mas, desde 2015, segue se mantendo de forma autônoma, seguindo “na ampliação de vida, produzindo arte, formação, festa e alegria, fundamental no que entendemos por saúde mental”.

Luta por melhorias e não pela extinção

Os defensores da reforma psiquiátrica entendem que o Hospital São Pedro precisa ser transformado em um local de acolhida, e não de confinamento e abandono, para a mesma população que hoje está lá. Na avaliação de Sandra, a privatização do SUS já aconteceu e uma das tarefas do “novo normal” é desprivatizar a saúde, “que está nessa direção desde o golpe de 2016”.

“Não é estranho que o São Pedro esteja nesta leva”, avalia. Ela defende que o hospital não se mantenha como está, mas muito menos que vá para outras funções e que “vire um grande condomínio de saúde privatizada, ou onde a população pobre com transtorno mental, o bairro e a comunidade, em especial, não possam ali desfrutar ou ter uma qualidade de vida”.

De modo urgente, no atual momento de aumento de casos e mortes em decorrência da pandemia no estado, todos os entrevistados pela reportagem fazem um apelo a fim de sensibilizar a sociedade, o governo estadual e demais instituições para que providências sejam tomadas a fim de preservar a vida dos usuários dos hospitais psiquiátricos, dos seus trabalhadores e familiares.

Edição: Katia Marko