Minas Gerais

JUSTIÇA

Despejo do Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, pode continuar nesta quinta (13)

Governador se manifestou no Twitter, mas tropas permanecem na área. Hoje, escola e barracão já foram despejados

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
Trabalhadores rurais resistiram durante todo o dia (12) - Comunicação MST

O governador de Minas Gerais demorou todo o dia de quarta-feira (12) para confirmar que o governo estadual é contra a ação de despejo das famílias e da Escola Eduardo Galeano no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Campo do Meio, sul de Minas Gerais. O anúncio público foi recebido como vitória, mas despejo pode recomeçar nesta quinta (13).

É o que relata a coordenação do acampamento Quilombo Campo Grande. O comandante da ação teria avisado ao movimento que o despejo continua a partir das 6h, caso não receba a ordem de suspensão de forma oficial. Os policiais militares mantém suas tropas do local. A ação começou nas primeiras horas de quarta-feira (12) e teve intensa mobilização pelo cancelamento do despejo.

Posicionamento tardio de Zema

Segundo a assessoria de imprensa do governador, a solicitação para suspender o cumprimento da reintegração foi feita na terça (11), juntamente com outras entidades, entre elas a Comissão de Direitos Humanos da OAB e o Conselho Estadual de Direitos Humanos. Porém, a suspensão não foi aceita e o despejo teve início, cumprindo determinação da Comarca de Campos Gerais.

Porém, somente após o anúncio público do governador as tropas policiais paralisaram a reintegração. Zema completou que a Secretaria se disponibiliza para dar suporte técnico aos gestores de assistência social do município.

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Também pelo Twitter, a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) rebateu o governador. “Não tem apoio técnico que repare o que você fez com as famílias hoje. A reintegração começou no início da manhã. Está atrasado. Te procurei tem dias, assim como o deputado André Quintão e Rogério Correia e você manteve a violência praticada hoje!”.

João Pedro Stédile, da coordenação nacional do movimento, também se manifestou no Twitter. “Depois de mobilizar um batalhão inteiro, em tempos de pandemia, com seus cachorros e coquetéis judiciários, felizmente criaram juízo e suspenderam o despejo em Minas. Mais uma vez, nesta pandemia, foi a solidariedade e a humanidade quem venceu os genocidas”.

Mobilização

O posicionamento do governador aconteceu depois de um dia de intensa mobilização virtual, política e de resistência dos acampados na área. Nas redes sociais, inúmeros parlamentares publicaram vídeos solicitando a suspensão da reintegração de posse, assim como movimentos populares e setores da Igreja Católica. A tag #salvequilombo foi uma das mais comentadas do dia no Twitter. O movimento organizou ainda uma petição online e o envio de mensagens ao site do Tribunal de Justiça de MG.

O Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), 66 parlamentares e o presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos chegaram a solicitar uma reunião emergencial com Romeu Zema.

Quarta-feira de luta

Durante todo o dia, trabalhadores rurais tentaram impedir o avanço da Polícia Militar dentro do acampamento. Além da escola, um barracão coletivo onde moravam três famílias foi despejado. O MST denuncia, ainda, que o endereço do local para onde as famílias deveriam ser encaminhadas não existe.

Outras seis famílias também estavam em risco iminente. Os sem terra avaliam que a ação é porta de entrada para o desmonte do Acampamento Quilombo Campo Grande, que há vinte e três anos é local de trabalho e moradia para mais de 450 famílias.

Edição: Rafaella Dotta