Rio Grande do Sul

Tecnologia

Egressos da UFRGS criam vale alimentação sustentável que se tornou app de pagamento

App Papayas tem se tornado popular como forma de para pagamentos em feiras orgânicas de Porto Alegre

Jornal da Universidade | Porto Alegre |
Aplicativo foi criado pelas nutricionistas Constance Oderich e Nicoli Bonalume e pelo engenheiro da computação Filipe Souza dos Santos - Papayas/Divulgação

Possibilitar uma alimentação sustentável aos trabalhadores com o uso da tecnologia é o propósito da startup Papayas, criada no ano passado pelas nutricionistas Constance Oderich e Nicoli Bonalume e pelo engenheiro da computação Filipe Souza dos Santos, todos egressos da UFRGS. Idealizado para oferecer às empresas um vale alimentação que servisse para a compra dos colaboradores em feiras orgânicas, o aplicativo também passou a ser uma plataforma de transações financeiras para negócios sustentáveis durante a pandemia. E sem nenhuma taxa para quem vende ou quem compra.

Basta colocar créditos na plataforma por boleto bancário ou TED e, para comprar, escanear o QR Code do produtor ou do estabelecimento. A facilidade de pagamento e a segurança de não precisar tocar em dinheiro ou cartão de crédito, objetos que podem estar contaminados com o coronavírus, fez com que o número de usuários do app crescesse 15 vezes. Dos 50 cadastros antes da pandemia, a plataforma agora conta com 750 clientes. 

Já do lado dos empreendimentos, a startup possui atualmente mais de 100 parceiros cadastrados, todos do comércio local e sustentável. Constance explica que só são aceitos produtores de alimentos orgânicos e negócios de impacto socioambiental, como a Amada Massa, clube de assinatura de pães produzidos por pessoas em situação de vulnerabilidade social.

“Há uma visão preconceituosa sobre o uso da tecnologia pelos produtores. Nos disseram que eles não iriam usar o aplicativo. Outro preconceito que ouvimos era de que as pessoas idosas teriam dificuldade para aderir à ferramenta, mas elas representam um grande percentual dos nossos usuários atualmente”

Constance Oderich

Ideia surgiu durante a faculdade

Constance, que se formou no final de 2018, conta que a ideia de criar um negócio de impacto socioambiental e que tivesse ligado aos propósitos da alimentação saudável e sustentável surgiu quanto ela e Nicoli, que se graduou no início de 2019, ainda estavam na faculdade. Primeiro pensaram em criar uma consultoria para empresas, mas depois identificaram que a pouca aceitação dos vales alimentação tradicionais nas feiras e nos pequenos comércios era um grande problema para quem queria ter um consumo consciente. 

“Eu sempre frequentei feiras orgânicas, mas, mesmo ganhando vale alimentação no meu estágio, tinha que comprar nelas com dinheiro, porque o cartão não era aceito. E o vale refeição também não era aceito em muitos restaurantes sustentáveis. Foi esse problema que a gente quis resolver”, explica Constance.

Segundo ela, após conversarem com muitos restaurantes, identificaram que os menores não aceitavam esses cartões porque as taxas eram muito caras. “Era preciso descentralizar o consumo e fortalecer os pequenos comércios locais”, completa. Foi aí que começou a Papayas, em março de 2019.


Durante a pandemia, o Papayas virou uma forma de pagamento digital sem taxas para evitar o contato físico de produtores e clientes com dinheiro ou cartão / Papayas/Divulgação

Empresa de tecnologia foi a primeira cliente da Papayas

Também criada por egressos da UFRGS, a empresa de tecnologia Mconf foi a primeira cliente da Papayas, antes mesmo da criação do aplicativo. Para testar a ideia do vale alimentação saudável, o sócio-fundador da empresa responsável pela criação do sistema de webconferências usado pela UFRGS Felipe Cecagno topou dá-lo como benefício adicional ao tradicional cartão de vale alimentação ou refeição fornecido aos colaboradores. Com isso, 14 funcionários puderam passar a comprar também em feiras de alimentos orgânicos e comércios de impacto socioambiental por meio de um carnê. 

Constance explica que, para essa fase de validação da startup, foram feitas parcerias com 20 produtores e estabelecimentos comerciais sustentáveis, como a Cooperativa e Armazém Girassol e a Loja da Reforma Agrária. “Esse teste com os carnês foi muito legal porque muitas pessoas descobriram fornecedores que não conheciam para além das feiras, como os serviços de entregas de alimentos orgânicos em casa. É um benefício que não faz bem apenas para a saúde do colaborador, mas também para o mundo, porque promove a sustentabilidade e o consumo consciente”, comenta Felipe.

Com a ideia validada, a Papayas desenvolveu o aplicativo, lançado em dezembro do ano passado, e ganhou o programa Startup RS, do Sebrae. “Ficamos muito felizes com a vitória, porque participamos ao lado de outras 10 empresas, a maioria de pessoas mais velhas. Eu tenho 26 anos e a Nicole e o Filipe têm 28. Além disso, éramos a única proposta com impacto socioambiental e com mulheres na liderança”, comemora Constance.  

Após testar o Papayas com os carnês, para não onerar a empresa, a MConf passou a oferecer o vale alimentação sustentável de forma fixa para os colaboradores que quisessem trocar parte do valor do cartão tradicional pela nova plataforma. Metade dos funcionários aderiu. 

Além disso, os colaboradores da empresa de tecnologia também participaram de rodas de conversa com as nutricionistas da Papayas sobre alimentação saudável e sustentável. “Foram oportunidades em que paramos uma hora para conversar, e isso engajou muito os funcionários, porque essas questões de saúde e meio ambiente seguidamente são temas das conversas”, completa Felipe.

Em junho deste ano, a Papayas iniciou sua pré-incubação no Centro de Empreendimentos em Informática (CEI) da UFRGS e, para o futuro, planeja prospectar outras empresas para aderirem ao vale alimentação. Isso porque a startup não monetiza com as transações financeiras feitas durante a pandemia, já que optou por não cobrar taxas. “Cobramos atualmente apenas das três empresas que aderiram ao vale alimentação”, explica a empreendedora.

Edição: Jornal da Universidade UFRGS