Rio Grande do Sul

Educação

Protestos chamam atenção para possível nomeação de 3º colocado para reitor da UFRGS

Estudantes e entidades se manifestam contra uma possível intervenção federal na escolha do reitor da universidade

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Até o momento, o governo Bolsonaro interveio em pelo menos onze nomeações de reitores - Arquivo Pessoal

Representantes de diversas entidades de estudantes, técnico-administrativos e professores que compõem o movimento Eu Defendo a UFRGS realizaram, na manhã desta quarta-feira (26), ações em protesto contra a possível indicação do professor Carlos André Bulhões Mendes para ser o novo reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A ação foi mobilizada com intuito de dizer não a uma possível intervenção federal. Até o momento, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) interveio em pelo menos onze nomeações de reitores. Entidades representativas das categorias lançaram nota em defesa da autonomia universitária. 

Em julho, em consulta interna com a comunidade acadêmica da UFRGS, o atual reitor, Rui Oppermann, saiu como vencedor, ficando Bulhões, em terceiro lugar. Na ocasião, Bulhões teve um forte rechaço da comunidade acadêmica. Contudo, há cerca de de dez dias, o deputado federal Bibo Nunes (PSL) passou a articular sua nomeação junto ao presidente. Além disso, o terceiro colocado é ligado ao vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB).

Mesmo sendo, pela legislação nacional, uma prerrogativa do presidente da República indicar o reitor das universidades federais brasileiras, é de praxe que o mais votado nas consultas internas seja o indicado.

Com objetivo de defender a autonomia universitária, manifestantes estenderam faixas e cartazes nos campi do Vale, da Saúde e do Centro, em Porto Alegre. Na vizinhança do campus central, eles também realizaram uma mobilização durante a parada do semáforo com a exposição de faixas e cartazes contrários à “intervenção na universidade” e com o mote da campanha “Não queremos Bulhões”. Após a ação, também foi realizado um ato simbólico diante da Reitoria contra a nomeação do terceiro colocado nas eleições internas, que contou com a participação de cerca de 100 pessoas.

“A gente fez essa mobilização simbólica, porque estamos resguardando os nossos militantes, respeitando o distanciamento social e a quarentena. Teve uma série de falas, de professores e estudantes das mais diferentes correntes do movimento estudantil, defendendo a autonomia universitária, que é o que garante que a universidade produza conhecimento e pesquisa científica de maneira que atenda o interesse comum e não só o interesse de quem está bancando um projeto que representa um viés ideológico de destruição da universidade pública, de desrespeito com os estudantes, com os professores e com o funcionalismo público”, afirma Laura Barreras, integrante do Levante Popular da Juventude e direção da União Estadual dos Estudantes (UEE-RS), entidades que fazem para do movimento Eu Defendo a UFRGS.

Na mesma linha, a representante da União Nacional dos Estudantes (UNE) no RS, Gabriela Silveira, avalia que seria um “absurdo” a indicação de um candidato que recebeu menos de 2 mil votos em um universidade de mais de 15 mil pessoas que participaram da consulta interna da UFRGS. “Eles não podem interferir dessa maneira na autonomia da maior e melhor do estado. Nenhuma universidade, claro, merece ou deve ter sua autonomia desrespeitada, sua democracia desrespeitada, mas a UFRGS, que é um patrimônio do nosso estado, precisa servir de exemplo. Foi anunciado um corte de 18% no orçamento da educação para 2021, isso significa R$ 30 milhões a menos nos cofres da UFRGS, então nós achamos que a preocupação desses deputados com a universidade deveria ser com que não haja cortes no orçamentos”, diz.

Laura destaca ainda que o movimento seguirá mobilizado ao menos até o dia 20 de setembro, data limite para a indicação do novo reitor. “Se o cenário se cumprir com a indicação do Carlos Bulhões à Reitoria da UFRGS, a mobilização vai continuar, acredito, durante toda a gestão, inclusive, porque é um projeto que não representa os interesses de uma universidade pública”, ressalta.


Professor Carlos Bulhões foi o candidato menos votado entre professores, alunos e técnicos da UFRGS / Luiza Castro/ Sul21


Entidades reforçam defesa da autonomia universitária

“Muito antes desse governo, já nos posicionávamos nacionalmente contra a lista tríplice e a indicação presidencial, pois defendemos que o processo se encerre na própria instituição. Na UFRGS, ainda temos o resultado da eleição, o resultado da consulta e uma quebra entre quem recebeu mais votos absolutos e quem ficou em primeiro lugar, devido aos pesos 70/15/15 para as categorias que votam”, destaca a presidenta do ANDES/UFRGS, Rúbia Vogt. 

Na segunda-feira (24), a entidade lançou uma nota em defesa da autonomia universitária. “Diante dos fortes ataques à educação pública e gratuita, aos serviços públicos aos(às) servidores(as) públicos(as), e à Universidade, respondemos com o reconhecimento de que é necessário reforçar a democracia e a autonomia. Assim, defendemos a soberania da escolha da comunidade universitária”, expõe o texto. 

Assim como o Andes, a ASSUFRGS - Sindicato também saiu em defesa da autonomia universitária. “Diante dos votos depositados na consulta à Reitoria pelos três segmentos da UFRGS, ficou evidenciado que a comunidade universitária não quer a extrema direita no comando da Universidade. Nesse sentido, qualquer tentativa de Bolsonaro de nomeação que contrarie a vontade da comunidade da UFRGS será vista como uma afronta à Autonomia Universitária, evidenciando-se uma intervenção externa, à qual a comunidade da UFRGS resistirá com firmeza”, destaca a entidade.

Por sua vez a ADUFRGS-Sindical defendeu a nomeação do primeiro da lista como reitor da UFRGS. “A comunidade da UFRGS fez sua escolha e decidiu que o atual reitor Rui Vicente Oppemann deve ter mais 4 anos de mandato, para dar continuidade ao bom trabalho que vem realizando no cargo de reitor. Por mais que se respeite os demais candidatos, eles não foram os escolhidos e não possuem legitimidade para serem nomeados como reitor”, ressalta.  

*Com informações do Sul 21

Edição: Marcelo Ferreira