Paraíba

FEMINICÍDIO

População realizou protesto pedindo justiça para Pâmela Bessa, neste domingo (20)

Quinto ato em apenas 13 dias, vítima estava grávida e foi espancada até a morte; Delegado liberou o marido de imediato

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Reprodução - Foto: Reprodução

Desde o último dia 7 de setembro, quando Pamela do Nascimento Bessa foi vítima de feminicídio em Poço José de Moura, uma onda de protestos emergiu na cidade do alto sertão paraibano. Neste domingo (20) ocorreu um ato público na Praça da Matriz, no Poço José de Moura. 


Ativista declama poema / Foto: Mirian Oliveira

O ato deste domingo foi o quinto ato em treze dias e foi realizado em conjunto com mulheres de Poço José de Moura, de Cajazeiras, São João do Rio do Peixe e Triunfo. Mais de 150 pessoas estavam presentes cobrando justiça para Pâmela às autoridades e em defesa da vidas das mulheres. Também foi feito um memorial na praça com faixas, velas e flores.  


Memorial com velas e flores / Foto: Mirian Oliveira

O principal suspeito de assassinar Pâmela é o seu marido, Hélio José de Almeida Feitosa, que está foragido. A vítima foi espancada e veio óbito antes mesmo de dar entrada no hospital. O suspeito foi levado para prestar depoimento na delegacia de Cajazeiras, mas liberado após negar agressões e dizer que a vítima tinha desmaiado e machucado a perna ao cair. Após o laudo, a Polícia Civil de Cajazeiras afirmou que a versão do suspeito é mentirosa. O homem também é suspeito de ter provocado um aborto em Pâmela devido a agressões no começo desse ano.


Mulheres posicionam faixas no ato / Foto: Mirian Oliveira Oliveira

Diante do ocorrido, as mulheres do Poço José de Moura formaram um coletivo chamado ‘Mulheres à Bessa’, como forma de homenagear Pâmela, lutar contra a violência doméstica e em defesa da vida das mulheres. 


Foto: Mirian OliveiraOliveira

"Os vizinhos escutavam a Pâmela apanhar e não falavam nada então é o caso de dizer que em briga de marido e mulher se mete a colher, sim. Estamos juntas para fazer o que for preciso para continuarmos vivas", destaca A.M.S, do Coletivo Mulheres à Bessa.


Ativistas em vigília / Foto: Mirian Oliveira

Bruna Roberta do Nascimento, irmã de Pâmela comenta que a luta é por todas as mulheres: “Eu queria agradecer a todos que comprar essa briga junto comigo para fazer justiça por Pâmela, uma inesperada perda da minha irmã. A manifestação desse domingo em que eu estive presente é para fazer justiça não só por ela, mas por todas aquelas mulheres que são agredidas diariamente pelos companheiros", disse ela.


Foto: Mirian Oliveira

Para o Coletivo Mulheres à Bessa, a polícia cometeu um grave erro por não ter decretado prisão preventiva ao principal suspeito de assassinar Pâmela. Segundo elas, o próprio delegado, Sr. Glauber Fontes, da Delegacia de Homicídios de Cajazeiras, afirmou em audiência pública na última terça-feira (15) que, ao raiar do dia, a versão do assassino já não se sustentava mais pois surgiram novas provas e testemunhas. 


Foto: Mirian Oliveira

"O delegado liberou mesmo sendo ele o principal suspeito. Então foi uma decisão muito bem posicionada e muito consciente da parte do delegado de liberar esse assassino", afirma A.M.S, do Coletivo Mulheres à Bessa.

A justificativa por ter liberado Hélio foi a de que não haveria lesões aparentes que confirmassem o feminicídio.no entanto, a denúncia foi formalizada pelos próprios profissionais do hospital de São João do Rio do Peixe devido a marcas de estrangulamento e ao fato da vítima estar com a perna quebrada.


Varal poético para leitura espontânea no ato / Foto: Mirian Oliveira

As mulheres têm se manifestado desde o dia do ocorrido, tendo, inclusive, conseguido através de manifestações em frente à câmara municipal do Poço José de Moura, o afastamento do sargento da cidade, que é primo do suspeito e está sendo acusado pela população de tê-lo ajudado a fugir. 


Foto: Mirian Oliveira

As mulheres fizeram um abaixo-assinado para que o sargento seja também investigado  e conseguiram assinaturas de diversos vereadores e da prefeita da cidade. O caso está em investigação. Para as mulheres do coletivo “Mulheres à Bessa”,  o ato serviu para a tomada de consciência da sociedade sobre a importância da denúncia já que muitos casos de violência doméstica continuam acontecendo na cidade. O mais importante é que as mulheres saibam que não estão sozinhas e que terão ajuda no que for necessário.


Foto: Mirian Oliveira

Neidinha Alves, da Marcha mundial das Mulheres de Cajazeiras, aponta falhas da justiça: “Nós entramos nessa luta por pedido de Justiça para Pâmela Bessa, para cobrar que as autoridades paraibanas, Polícia Civil e Polícia Militar encontrem Hélio e o coloquem na cadeia. Nós não podemos admitir que mais mulheres sejam assassinadas simplesmente por serem mulheres e com a crueldade que Pâmela foi assassinada, com os erros cometidos por parte do sistema. Pâmela precisa de Justiça nós mulheres precisamos de Justiça”, afirma ela.

"Esses atos são educativos para a tomada de consciência de que é preciso estar em diálogo com essas mulheres. Vemos grande resultado em poucos dias porque mulheres de diferentes idades, momentos da vida e níveis de consciência estão participando dos atos e se emocionam já que, inclusive, elas têm casos de violência doméstica em seus lares. Então tem sido uma comunicação expansiva e todos estão indignados: mulheres, crianças, homens", destaca A.M.S, do Coletivo Mulheres à Bessa.

 

Edição: Maria Franco