Rio Grande do Sul

Eleições 2020

Eleições no Rio Grande do Sul mantêm velhas tradições

Apesar do aumento do número de candidaturas, maioria ainda é de homens brancos, entre 40 e 59 anos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Eleições desse ano escolhem prefeitos, vice-prefeitos e vereadores - TSE

O Brasil passa por transformações visíveis. No plano econômico e institucional, os movimentos recentes dos governos e agentes foram no sentido de modificar radicalmente as estruturas conhecidas. Avançaram sobre os poderes constituídos frações do poder público como o Judiciário e os militares, da mesma forma que o pensamento neoliberal tem comandado as ações econômicas e governamentais. De qualquer forma, as eleições são um momento muito importante na vida política do país, propiciando a reflexão sobre os rumos tomados e, em certa medida, a possibilidade de reavaliação e mudança de rumos.

Mesmo se tratando de eleições do plano municipal, a importância do pleito não diminui, pois, pensar a cidade não exclui a necessidade de ter a nação em perspectiva. Ao contrário, é muito coerente que se reflita sobre o local e o regional tendo em mente o que se pretende para o país como um todo. Nesse sentido, muitos novos atores e novas discussões têm ganhado espaço e isso irá refletir nesta campanha.

As candidaturas no RS

No sábado, dia 26 de setembro, terminou o prazo para os partidos políticos fazerem o registro de suas candidaturas na Justiça Eleitoral. Ainda existe a possibilidade de, até o dia 1º de outubro, ocorrer o registro individual de candidatos em locais onde os partidos não fizeram o registro de candidatura. Apesar dessa possibilidade existir, é provável que seja em número muito pequeno.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, no estado, os partidos políticos que mais apresentaram candidaturas foram siglas de direita. Juntos, MDB e PP apresentam quase um terço dos registros, cerca de 5 mil cada um. Em 3° lugar, aparece o PDT, com cerca de 4 mil candidatos. O partido de esquerda que mais apresenta candidaturas está em 4° lugar nesta lista, o PT, com pouco mais de 2.700. Somadas, as candidaturas dos partidos declaradamente de esquerda são pouco mais de 10% do total. Além disso, o PSL, por exemplo, novidade no campo da direita que ganhou força com a eleição de Bolsonaro, aparece com um aumento de candidaturas no estado, cerca de 900.

Aumento no número de candidatos

No Rio Grande do Sul houve um aumento de candidaturas em relação ao pleito de 2016, em torno de 4 mil a mais. Serão, ao todo, pouco mais de 33 mil candidatos concorrendo. Destes, 1.352 são concorrentes nas 497 prefeituras, 1.354 concorrem como vices e 30.028 concorrem à uma vaga dentro das câmaras municipais. Nesse sentido, a proporção é de quase três candidatos para cada prefeitura, e de pouco mais de seis candidatos para cada vaga de vereador. Entre todos estes candidatos, apenas 975 estão tentando reeleição. Essa minoria pode indicar um cenário de renovação de nomes ocupando os cargos. Resta saber se as posturas e políticas serão renovadas também.

Nome social

Uma informação que também configura uma minoria é a relação dos que, na candidatura, declararam o seu nome social. Direito garantido apenas em 2018, a utilização do nome social na candidatura é uma reivindicação da população transgênero. Nas eleições no estado, este ano, apenas quatro candidaturas foram registradas com seu nome social. Essa baixíssima ocorrência pode demonstrar como essas populações ainda são bastante excluídas do cenário da política representativa.

Gênero e raça

Outro marcador de desigualdades que permanece no estado é o de gênero: cerca de dois terços dos candidatos são homens, mulheres são 34%. Mais desigual ainda é o marcador da raça: declaram-se como brancos cerca de 87% do total. Negros, pretos e pardos são em torno de 12%. Candidatos que se declaram indígenas são apenas 128, menos de 1% do total.

Este cenário no estado contrasta com a realidade nacional, onde o TSE informa haver uma desigualdade menor. Este ano, no Brasil, cerca de 47% dos candidatos se declaram brancos, enquanto pretos, negros e pardos são em torno de 50% (um cenário muito mais condizente com a realidade da população brasileira). Tais números exigem a reflexão sobre o racismo no estado do Rio Grande do Sul e como ele se reflete no ambiente da política representativa.

Idade e escolaridade

Outro número revelado pelas estatísticas do TSE é de que a maioria dos candidatos no RS têm entre 40 e 59 anos (mais de 57% do total). Candidatos com mais de 60 representam cerca de 15%, e apenas um candidato em todo o estado tem mais de 90 anos. Os candidatos com 29 anos ou menos serão em torno de 8% do total, sendo 34 destes com 18 anos completos.

Sobre o tema do estudo formal, cerca de 33% possui o ensino médio completo e cerca de 24% o superior completo. Ainda, cerca de 11% completou o ensino fundamental e outros cerca de 15% não completou. 981 candidatos declararam somente serem alfabetizados.

 

Edição: Marcelo Ferreira