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Artigo | O Brasil de marcha a ré

Os gaúchos esquecem sua verdadeira vitória e comemoram a derrota

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Gaúchos lideraram revolução em 3 de outubro de 1930 - Reprodução

Há noventa anos, uma tropa de gaúchos, liderados pelo candidato derrotado nas eleições presidenciais, Getúlio Dornelles Vargas, amarrava os cavalos no obelisco da avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, sede do governo federal. 

Este foi o começo do fim da chamada República Velha e o início da criação da nacionalidade brasileira. Até então, cada estado tinha sua vida própria. Foi com a revolução de 1930 que se criou o conceito de economia nacional, uma política de substituição de importações, o processo de industrialização, pois as empresas do hemisfério Norte haviam falido com a crise de 1929. 

Nesse período, foram criadas as leis trabalhistas, inspiradas na Carta del Lavoro, do fascismo italiano, mas que introduziram direitos aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Nesta época, as mulheres adquiriram o direito ao voto, foi criado o sufrágio universal em nosso país, excluindo os analfabetos. Houve um avanço na educação pública e foram criadas as primeiras universidades brasileiras.

Iniciava-se um processo de desenvolvimento nacional que culminou na implantação da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, da Fábrica Nacional de Motores e na criação da Petrobrás, em 3 de outubro de 1953.

Este processo levou a quase um rompimento com os Estados Unidos e nos transformou em uma nação em desenvolvimento. Criamos a Previdência social, os institutos de pensão e aposentadorias, o salário mínimo, o 13º salário e muitas outras vantagens que davam sentido a vida de nosso povo sofrido. Muito ainda havia que se fazer para apagar as manchas da escravidão. A crise foi tão grande que levou Getúlio ao suicídio, cujo governo foi cercado pelos golpistas agrupados na União Democrática Nacional, a UDN, que de democrática e nacional só tinha o nome.

Mas o desenvolvimento estava lançado. E, no momento imediatamente posterior, no governo João Goulart, começaram as discussões sobre as reformas de base, como a agrária, a bancária, a tributária, todas com um cunho social para atender a maioria da população. Veio o golpe civil-militar de 1964, agora com a UDN apoiada por militares e assessorada pela embaixada dos Estados Unidos. 

Durante o domínio dos militares, um dos generais, Ernesto Geisel, adotou a proposta desenvolvimentista. Depois da redemocratização, com a vitória de Fernando Henrique Cardoso e do neoliberalismo em 1994, iniciou-se o que o próprio FHC chamou de “fim da Era Vargas”. Veio a privataria tucana e a venda do patrimônio nacional por moedas podres, barrada com a vitória de Lula em 2002 e a retomada do projeto desenvolvimentista que, durante 14 anos, implementou-se no país.

O golpe contra Dilma Rousseff interrompeu o crescimento da nação. Com a vitória de Bolsonaro, assessorado pelo guru da ultradireita, Steve Bannon, e com a utilização de fakenews, foi retomada a destruição. Criou-se uma política de terra arrasada, com a entrega da Petrobras, o desmantelamento de toda a política externa independente construída nos governos petistas, a reforma da Previdência, o fim de toda a política de proteção ambiental. Enfim, toda a devastação que está sendo realizada a um ritmo nunca visto anteriormente em nossa história. Fazendo o Brasil retornar à condição de colônia, especializando-se em exportação de commodities e importando tudo o que necessita.

A destruição também acontece na política de saúde afirmada na Constituição de 1988. Só foi travada em consequência da pandemia. Os quase cinco milhões de infectados impuseram a utilização dos recursos do SUS para combater a covid-19. Mas a ameaça persiste tanto que, na planilha de destruições do ministro Paulo Guedes, estão previstas as vendas dos maiores complexos hospitalares públicos do Estado, o Conceição e o Clínicas. É o Brasil de marcha a ré.

Edição: Ayrton Centeno