Rio Grande do Sul

Audiovisual

Produtora gaúcha conta como sobrevive há 13 anos sem acessar nenhum edital público

Zapata Filmes atravessa pandemia finalizando novo filme e fala sobre o futuro do cinema

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Uma vez em Veneza" já tem calendário de lançamento em festivais internacionais - Divulgação

A produtora gaúcha Zapata Filmes, do colombiano radicado no Rio Grande do Sul Juan Zapata e do norte-americano Douglas Limbach, está em fase de pós-produção de um novo longa. Os trabalhos não pararam desde o começo do ano, e o filme, que leva o nome de "Uma vez em Veneza", já tem calendário de lançamento em festivais internacionais e, como aconteceu em outras produções, conta com pedidos de distribuição em diferentes países.

Como isso é possível em tempos tão adversos? O segredo, segundo a produtora, é o modelo sustentável de negócio que sempre fez parte da rotina da Zapata Filmes. Há 13 anos no mercado, já são 13 filmes, entre eles longas (7), meias (2) e curtas-metragem (4), além de outras produções, todos feitos sem nenhum edital ou fundo estatal envolvido.

“Entendemos que o incentivo dos editais é importante para a arte, mas, pela configuração estrutural inicial da empresa, com dois estrangeiros e o sistema protecionista do mercado, sempre encontramos muitas limitações de acessar editais e fundos públicos. Diante disso, decidimos parar de nos frustrar e começamos a desenhar um modelo de negócio sustentável, que dependa 100% da comercialização. Focamos em conquistar e recuperar a credibilidade do investidor no cinema, mostrando resultados e a ambição de levar o bom cinema nacional e latino ao nível mundial”, comenta Douglas Limbach, produtor executivo da Zapata Filmes.

Douglas integra a equipe da Zapata desde 2013. Começou como produtor associado no filme 'Simone', primeiro longa de ficção do portfólio da produtora. Pouco tempo depois, Douglas se viu envolvido em buscar possibilidades de financiamento para viabilizar "Another Forever (2016)", um dos poucos filmes brasileiros feitos internacionalmente de forma independente a entrar no catálogo da Netflix mundial na época. "Fazer todo o esforço de investimento e chegar a mais de 120 países, além das experiências em Cannes, Guadalajara, Bogotá e tantos lugares que o filme transitou é algo que orgulha muito aos nossos financiadores", comenta.

O grupo que financia as produções da Zapata Filmes começou pequeno e hoje já conta com 11 pessoas, 70% gaúchas, todas de fora do mundo do cinema. São engenheiros, psicólogos, professores universitários, médicos, empresários de tecnologia, entre outros apaixonados pela sétima arte, que se reúnem semanalmente para pensar as produções de forma colaborativa. Apostam nas criações da equipe e se envolvem durante todo o processo criativo, além de, não raras vezes, acompanharem a rotina de gravações e também viagens com a equipe para festivais, festas vips e premiações.

Em 90% das vezes, os filmes produzidos com apoio do grupo de investidores percorrem circuitos internacionais classe A e conquistam reconhecimento. "Até hoje, em todos os filmes que vendemos, ao repassar os lucros para os investidores, ouvimos deles que não querem a verba, pois preferem seguir, reinvestindo no próximo filme", destaca Douglas.

“Nós investimos dinheiro, mas é evidente que nutrimos a esperança de ver o filme exitoso, ganhando prêmios e alimentando nosso ego artístico também. Mas não é isso que nos motiva, sobretudo nesse momento que vivemos, pois, sabemos o quanto é importante proporcionar entretenimento às pessoas e contribuir com boas histórias que façam a diferença. Eu amo cinema. Faço isso sem arrependimentos”, explica Edgar Martinez, colombiano e um dos mais novos investidores da Zapata Filmes.

Martinez sempre acompanhou, pela amizade com Juan Zapata, a história da Zapata Filmes e o sonho de Juan em fazer cinema. Ambos compartilhavam, desde a infância na Colômbia, a paixão de se envolver em roteiros e grandes produções. Apesar da carreira na Engenharia Sustentável, com um alto cargo executivo, Edgar Martinez sempre foi interessado por filmes e se empolga com as histórias. "O novo filme ("Uma vez em Veneza") é tudo o que precisamos para este momento: nos permitir estarmos sem máscaras sobre quem realmente somos, nos perdermos por um dia na história de outra pessoa, compartilhar a vida e os momentos do presente para seguir tendo esperança do futuro", argumenta Edgar sobre este novo apoio financeiro junto a Zapata.

Segundo Douglas, a relação entre investidores e produtores vai além da questão econômica no modelo de negócio da Zapata Filmes. "Eles contribuem com histórias, personagens, trilha sonora. O roteiro sempre é aberto para acomodar esse artista que existe dentro de cada um deles, buscando atingir o maior potencial do filme", afirma.

Edição: Marcelo Ferreira