Pernambuco

SEGURANÇA

Saiba como meninas e mulheres podem se proteger contra o assédio online

77% das brasileiras sofrem assédio pela internet; comunicadora explica como detectar e denunciar casos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Entre os tipos de assédio, o mais comum é o da linguagem abusiva e insultuosa, em que 58% das meninas relataram já terem vivido - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Ser mulher e estar nas redes sociais é estar sujeita a sofrer assédio online. É o que aponta a pesquisa: Liberdade On-line? Como meninas e jovens mulheres lidam com o assédio nas redes sociais, feita pela ONG Plan International. Em um estudo em que 500 brasileiras foram consultadas, 77% declararam terem sido assediadas em um ambiente virtual. Esse número é maior que a média global, que é de 58%. Além disso, outro ponto da pesquisa chama atenção: o início precoce do assédio. A maioria das meninas afirmou ter começado a sofrer assédio nas redes sociais entre os 12 e 16 anos.

Ainda de acordo com a pesquisa, dentre os tipos de assédio, o mais comum é o da linguagem abusiva e insultuosa, em que 58% das meninas relataram já terem vivido ou conhecerem meninas que enfrentaram a situação. Em seguida, o body shaming, que é direcionado ao corpo da mulher, com uma porcentagem de 54%. E com 52%, o constrangimento proposital. Outros tipos de assédio também foram relatados, como ameaças de violência sexual, comentários lgbtfóbicos, racistas ou perseguição. 

Para tratar sobre o tema, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou a doutora em Comunicação e professora universitária, Nataly Queiroz, também integrante do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social. A comunicadora analisa o fenômeno e aponta maneiras de proteção para meninas e mulheres. Confira os principais trechos da entrevista:

Assédio online contra meninas jovens

A comunicadora explica que o retrato on-line nada mais é que um reflexo do que acontece na vida offline. Ela ressalta que é importante entender que a vida na internet não é plena de direitos e com segurança pelo simples fato de ser acessada fisicamente desde a própria casa. “Uma das grandes características da violência sexista que existe no país está manifestada no número de meninas que são vítimas de violência sexual. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais da metade dos casos de mulheres vítimas de violência sexual entre 2017 e 2018, aconteceu com meninas de 13 anos de idade. Obviamente, essa marca da violência sexual é um sintoma gravíssimo do sexismo e na internet não vai ser diferente”, aponta a Nataly. 

Uma vez que esse assédio se manifesta tão cedo na vida dessas meninas, Nataly aponta que é imprescindível o monitoramento de responsáveis adultos sobre quais tipos de conteúdo a criança está consumindo e quais páginas estão sendo frequentadas. “O controle de tudo realmente não vai ser possível, mas a boa forma de prevenção é aquela que começa com a conversa, com a educação para o uso das mídias, compreendendo que as mídias virtuais são espaços que podem haver riscos”, explica e reitera que é essencial estabelecer formas de diálogo que possam fazer com que os adultos possam detectar práticas de violência. A comunicadora aponta também o uso de filtros para evitar o acesso a conteúdos para maiores de 18 anos e uma educação quanto ao uso dessas mídias. 

Educação sexual

Outro fator que pode contribuir, tanto na hora de detectar a violência sofrida, quanto para prevenir a situação, é a educação sexual. “Nesse momento em que há tanta mistificação e tanto obscurantismo, fortalecer a educação sexual para meninos e meninas não é estimular a sexualidade precoce, é compreender o corpo e compreender, junto com as crianças e os adolescentes os limites, as práticas que podem ser inseguras para eles e para elas”, defende. Ao ter esse conhecimento, as crianças estarão mais aptas é estabelecer uma comunicação com os responsáveis sobre o assunto. 

Especialmente em um cenário de pandemia, o uso dessas redes se torna ainda mais frequente. E com isso, maior a exposição e vulnerabilidade. O mais importante, segundo Nataly, é manter a ponte do diálogo aberta. “Não é proibir, porque a gente vive ainda mais nesse momento um momento de extremo vínculo de crianças e adolescentes com os espaços virtuais devido a restrição de circulação. É educar para as mídias e sexualmente”, finaliza. 

Como se proteger

Um grande problema relatado pelas meninas consultadas na pesquisa é a ineficácia das ferramentas de denúncia das plataformas digitais. A comunicadora explica que, para além de efetuar a denúncia nesses espaços, é essencial que as mulheres se apropriem de outros instrumentos legais. “Existe a Delegacia de Crimes Cibernéticos, que aqui em Recife fica no centro da cidade. Existem casos de assédio que podem ser registrados nas Delegacias da Mulher, existem práticas que podem ser registradas [em órgãos] de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esses mecanismos institucionais e legais existentes devem sim ser acionados”, explica. 

Ela alerta para o fato de que o serviço fornecido por esses órgãos ainda enfrenta problemas para oferecer um atendimento completamente eficaz, mas que é necessário fazer o registro. “Existem sérias críticas às formas de funcionamento e a insuficiência dos recursos existentes para garantir uma correta aplicação das finalidades, mas é preciso compreender que para além das ferramentas virtuais existentes nas plataformas, existem também essas delegacias e elas precisam ser acionadas”, completa e indica também que essas meninas e mulheres possuem direito a atendimento psicológico e assistência jurídica em centros de referência, a depender do tipo de violência sofrida. Esses locais podem fornecer suporte e indicar como proceder em cada situação. 

 

Edição: Vanessa Gonzaga