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Faltam 7 dias, uma semana

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Bolívia, manifestação indígena
As eleições e os resultados na Bolívia e Chile, recentemente, com vitória da esquerda, do campo democrático-popular e do povo, e agora a eleição nos EUA, dão um gás extra - Créditos da foto: AFP
Nada está perdido no Brasil, na América Latina e no mundo. Nada é definitivo em lugar nenhum

Estou vivo.

Há duas semanas, sábado de manhã, visitei um casal de companheiros, Elton e Marione, em Venâncio Aires, RS: saber da saúde do Elton, que tinha sofrido um acidente, e conversar sobre a reta final da campanha eleitoral no município. Bela conversa, de alegria e esperança.

Três ou quatro dias depois eu soube que o Elton estava hospitalizado: suspeita de covid. Todos os sintomas indicavam isso: falta de paladar, dores no corpo, tosse, etc. Ficou internado no hospital.

Mil preocupações a partir de então, em primeiro lugar com ele, saber como estava, os sintomas e a gravidade do seu caso. Em segundo, comigo mesmo e minha família, a começar por mamãe, de 93 anos, os cuidados a tomar. Vai que estou com a covid, e o que isso significa. Não tomar mais chimarrão junto com família, álcool gel todo tempo, lavar eu mesmo todos os talheres, almoçar longe de todos, manter distância. E, claro, cancelar todos os desejos de ir pra rua, visitar pessoas e pedir o voto, mesmo tendo todos os cuidados sanitários.

Finalmente, na terça desta semana, depois do longo feriadão, Marione manda mensagem: “Notícias boas! O exame da covid do Elton deu negativo.” Ufa! As duas melhores notícias do ano. Elton está bem. Passadas quase duas semanas, ficando em casa quase todo tempo, longe de todos e de tudo fui fazer o teste, não tenho covid. E eu estou vivo, vivíssimo, pronto pra tudo.

Agora, é aproveitar os pouco mais de 7 dias que faltam para 15 de novembro. É pouco tempo para tudo que há por fazer. Conversar, conversar, conversar. Usar as redes sociais. Visitar, visitar, visitar, com todos os cuidados sanitários. Diálogo, diálogo, diálogo. Mostrar e trazer esperança. Dizer que pode-se acreditar na boa política e em tantas candidatas e candidatos que se colocam à disposição para estar a serviço na construção do bem comum, da mulher nova, do homem novo, da sociedade nova.

Convenci-me ao longo dos meses, eu que não apostava quase nada nestas eleições municipais do dia 15 de novembro, que elas são muito importantes. Mais importantes que eleições municipais costumam ser normalmente. Elas acontecem num momento importante. Podem ser o início do começo de uma virada e derrota do fascismo e do conservadorismo antidemocrata reinantes.

As eleições de 2020 têm um simbolismo semelhante às eleições municipais de 1988, as primeiras eleições diretas em capitais depois da ditadura, em meio à Constituinte. Foi quando foram eleitos Olívio e Tarso em Porto Alegre, Erundina em São Paulo, Vitor Buaiz em Vitória. São governos lembrados, reverenciados até hoje, porque deixaram marcas na história da democracia brasileira.  

As eleições e os resultados eleitorais na Bolívia e Chile, recentemente, com vitória da esquerda, do campo democrático-popular e do povo, de baixo para cima, e agora a eleição nos EUA (quando escrevo este artigo, o resultado final e vitória de Biden ainda não foram oficialmente declarados), dão um gás extra. Há elemento político-simbólico forte presente na vitória do democrata Biden. Não é apenas Trump e a direita americana que estão sendo derrotados. São derrotados também Bolsonaro e o bolsonarismo.

É preciso dizer tudo isso na reta final da campanha eleitoral municipal brasileira, traduzir esse sentimento: o povo consciente e organizado mudou o jogo na Bolívia e Chile, deu um tranco e basta em Trump. Há, pois, espaço para a democracia com a força do povo.

Nada está perdido no Brasil, na América Latina e no mundo. Assim como nada é definitivo em lugar nenhum na história. Nem o neoliberalismo, nem o Estado Mínimo, nem o mercado absoluto, nem a endêmica desigualdade brasileira.

Há de ser assim no Brasil dia 15 de novembro, com a força popular. Como sempre foi, em priscas eras, em tempos de longa ditadura, ou em tempos de neoliberalismo. Ou hoje, em tempos de democracia e soberania ameaçadas, com ódio, intolerância e preconceito. O povo brasileiro sempre soube reagir, sempre lutou, sempre foi pra rua, sempre se mobilizou por direitos, por participação social, por igualdade, por justiça. O povo brasileiro sempre gritou liberdade e democracia.

Não há de ser diferente em 2020. A voz e o voto do povo são soberanos. São dele a decisão, a palavra final. Cabe a nós democratas, libertários, militantes das boas causas e da boa luta, garantir, nestes 7 dias, uma semana que falta para 15 de novembro, este voto, esta voz, esta decisão e palavra última do eleitorado e povo soberanos.   

Edição: Katia Marko