Bahia

LEITURA

Irmã Outsider ensina a transformar o silêncio em linguagem e ação

Audre Lorde convida à escrita, a usar a poesia como instrumento de luta, sobrevivência e ocupação de espaços negados

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
A indicação de leitura é “Irmã Outsider”, da escritora norte-americana Audre Lorde, feminista negra e lésbica. - Divulgação/Arquivo Pessoal

Fazendo hoje uma reflexão: “se pudesse indicar apenas uma leitura de autora negra, qual indicaria”? Me encontrei numa dúvida, de natureza diferente, que possivelmente não teria alguns anos atrás. Não mais pela falta de opção ou conhecimento, mas pela dificuldade de eleger apenas uma. Então fui traçando ideias sobre qual me afeiçoa mais no agora. Indico assim, a leitura de “Irmã Outsider: Ensaios e conferências”, da escritora norte-americana Audre Lorde, feminista negra e lésbica. Assim como eu.

A obra se trata de um compilado de textos, entre ensaios e poesias, que vão trazendo temas acerca da sua existência. Nas palavras de Conceição Evaristo, poderia ser a sua "escrevivência": uma mulher negra, lésbica e mãe, de descendência caribenha e que vive nos EUA, no Harlem, um bairro com um grande contingente de pessoas negras, demarcado pelas culturas afro-americanas.

Lorde não se considerava teórica, mas seus poemas ultrapassam uma linha, que talvez nem deveria existir, que separa literatura de política. Em seus textos, ela nos impulsiona a transformar o silêncio em linguagem e ação. A explorar a potência que há na raiva, que de forma quase que caricata, é destinada às mulheres negras. Além disso, enxergar os usos do erótico como ferramenta de poder, não o limitando como práticas sexuais, mas como um movimento contínuo interno, que requer o exercício constante do autoconhecimento e auto acolhimento.

Para além desses pontos, ela nos convida à escrita. Usar a poesia como instrumento de luta, de sobrevivência, e de ocupação de espaços negados, seja na sociedade em geral ou até mesmo dentro dos movimentos que construímos. 

Audre me marca muito em suas motivações de escrita. Seja nos poemas que refletem o cuidado e companheirismo entre nós, mulheres pretas, seja nos relatos do exercício de sua profissão como professora, e nos corres de sobrevivência e sustento de sua família, além da luta para romper o silêncio que o racismo nos imputa.

*Larice Ribeiro é militante do Levante Popular da Juventude em Vitória da Conquista, diretora LGBTQ+ da União dos Estudantes da Bahia (UEB), e graduanda em Ciências Sociais.

Edição: Jamile Araújo