CAMPO PROGRESSISTA

Nas eleições municipais, esquerda ensaia unidade e amadurece diálogo

União em torno de Boulos, em São Paulo, e Manuela D’Ávila, em Porto Alegre, mostra potência da articulação política

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Apoio a candidatos centro-esquerdistas que podem ser eleitos no domingo deve progredir para um diálogo mais amplo em 2022 - Fotos: Agência Câmara

A união da esquerda e centro-esquerda no segundo turno das eleições municipais, em capitais importantes como São Paulo, Porto Alegre, Belém e Vitória, mostra uma espécie de “ensaio” para 2022.

O campo progressista pode finalmente ter entendido que, sem unidade na esquerda, não há saída. Na opinião de deputados federais de oposição ao governo de Jair Bolsonaro, o apoio a candidatos centro-esquerdistas que podem ser eleitos no domingo deve progredir para um diálogo mais amplo, caso as forças preocupadas com a democracia queiram derrotar o projeto instaurado no país em 2018.

Em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) é apoiado por PT, PCdoB e PDT. Essa recepção da esquerda unida a um projeto de mudança “significa que a candidatura do PSOL virou um fato nacional, de unidade da esquerda, de convergência política, de simbologia contra o bolsonarismo”, diz o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP). “Juntar o Ciro, o Lula, a Marina e o Dino tem uma sinergia muito grande”, diz.

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Em São Paulo, Boulos tem 45% (eram 42% na última pesquisa), segundo o Datafolha, em estudo divulgado nesta terça (24). Bruno Covas caiu de 58% para 55%.

Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), o movimento unitário da esquerda “antecipa algo muito necessário para 2022, porque tem compromisso com a defesa de direitos da população, contra o fascismo e pela democracia”.

“Ainda que Recife não tenha uma unidade de esquerda, de todo o setor popular, considero Porto Alegre, São Paulo e Recife como símbolos de importante mudança no quadro político brasileiro, porque significa uma mudança. Uma postura muito mais crítica e até indignada com o governo Bolsonaro começa a se fortalecer na sociedade”, acredita a parlamentar gaúcha.

Na capital de Pernambuco, Marília Arraes (PT) está na frente na corrida pela prefeitura com 54% das intenções de voto, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em parceria com a Folha de Pernambuco. João Campos (PSB) tem 46%

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Em entrevista à Deutsche Welle no Brasil, Marcelo Freixo  (PSOL-RJ) observou que “Recife é um capítulo à parte”. “Mas Porto Alegre, São Paulo, Vitória e Belém são cidades onde uma frente de esquerda começa a ser criada, (com) um debate mais amplo da esquerda”, acrescenta.

“Um bom ensaio”

Para Jandira Feghali (PCdoB-RJ), as esquerdas fazem “um bom ensaio com esse processo de unidade e mostram que essa unidade é possível, com mais humildade e grandeza de todo mundo, compreendendo o que está em jogo em 2022″.

A deputada federal destaca lamentar que o PSB, tanto em Porto Alegre como em São Paulo, não se some “objetivamente e nem formalmente à unidade que se construiu em São Paulo e Porto Alegre”.

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O cenário nessas capitais, na opinião da deputada do PCdoB, mostra que Bolsonaro perdeu força, o que se evidencia com a derrocada de Celso Russomanno (Republicanos), em São Paulo, e de Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, apoiados explicitamente pelo presidente. Mesmo os que, de alguma forma, têm ligação com Bolsonaro, evitam citá-lo nas campanhas.  

Para Jandira, o diálogo representa “um aprendizado importante” para a construção da unidade da esquerda com vistas às eleições nacionais daqui a dois anos. “É importante Ciro Gomes ter entrado na campanha de Manuela e de Boulos, com uma postura diferente de 2018, quando se ausentou.”

Fake news contra Manuela

Em Porto alegre, segundo pesquisa Ibope divulgada pela RBS nesta terça-feira (24), Sebastião Melo (MDB) lidera a corrida eleitoral com 49%. Manuela D’Ávila (PC do B) tem 42%. A candidata comunista é apoiada por PT, PSOL e PDT. O maior desafio da candidata da esquerda são as fake news, aponta Maria do Rosário.

“Entre a eleição de 2018 e de agora, o TSE e os tribunais não fizeram nada contra disparos em massa e fake news. É lamentável que não tenham feito nada. É muito grave o que acontece contra Manuela. Não é uma eleição normal, com democracia.

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Em Belém, Edmilson Rodrigues é candidato da coligação “Belém de Novas Ideais” (PSOL, PT, PCdoB, Rede, PDT e UP). De acordo com pesquisa do Ibope/TV Liberal, ele está tecnicamente empatado com o delegado federal Eguchi (Patriota). O psolista aparece com 45% das intenções de voto, contra 43% do adversário.

Em Vitória, João Coser (PT), com 43%, vem tirando a diferença em relação ao candidato bolsonarista Delegado Pazolini (Republicanos), que tem 48%. Há uma semana, a diferença era de 15 pontos percentuais.