Rio Grande do Sul

Opinião

Carta aberta a deputados e deputadas do RS sobre a liberação de agrotóxicos proibidos

"Quais os motivos tão importantes que justificariam uma atitude dessas? E por que o regime de urgência?"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
No ano de 2014, despejaram no Brasil 360 mil toneladas de agrotóxicos e, só no RS, foram 30 mil toneladas - Ilustração: Guilherme Peters/Agência Pública

Senhoras(es) deputadas(os),

No ano de 2014, despejaram no Brasil 360 mil toneladas de agrotóxicos e, só no RS, foram 30 mil toneladas, o segundo maior volume no país. Em 2017, o Brasil sofreu 539,9 mil toneladas e nesses cálculos todos não foram incluídos os venenos contrabandeados.

Entre os impactos já comprovados desses pesticidas estão os suicídios e, ainda no RS, encontram-se três das quatro cidades com maior índice no país (a imprensa fala em “epidemia de suicídios”). Para além, tem-se cada vez mais mães amamentando seus filhos com agrotóxicos no leite; o índice de contaminação por venenos nos alimentos é altíssimo; em alguns locais até a água do nosso chimarrão já tem venenos; está comprovado que esses químicos agrícolas causam cânceres, malformações fetais, autismo, Alzheimer, desequilíbrios hormonais, além de outras doenças não menos importantes, com grande gravidade e sofrimentos.

Mesmo assim, e apesar dos fatos acima, o Executivo enviou um projeto de lei (PL-260) para ser votado em regime de urgência na Assembleia Legislativa, para permitir que agrotóxicos proibidos nos seus países de fabricação, possam ser aplicados no RS. Em outras palavras, o governador quer usar no RS venenos tão potentes que foram proibidos nos países onde foram produzidos.

A primeira e óbvia pergunta é: por quê?

Quais os motivos tão importantes que justificariam uma atitude dessas?

E por que o regime de urgência?

Existe, por acaso, alguma razão inconfessável ou sigilo inenarrável que não possa ser compartilhado?

Entretanto, todos sabemos que qualquer argumento, qualquer justificativa, qualquer ideário apresentado na defesa desse projeto de lei formata-se com ardil, trapaça, engodo, lorota…

E as(os) deputadas(os), enquanto representantes do povo, irão votar sobre tal assunto!

Importante ressaltar que um governo é dito democrático não só pela forma como foi eleito, mas fundamentalmente pela conduta que tem sobre questões de interesse coletivo e na relação para com toda a população. Nesse sentido, a atitude de não discutir, de voltar as costas para a sociedade, de desconsiderar órgãos de classe, desdenhar ministérios públicos e rechaçar pareceres de universidades, somam-se com outros fatos incontestáveis para comprovar que vivemos um dos momentos mais obscuros da democracia gaúcha. O tal “regime de urgência”, o mesmo do Código Ambiental, continua sendo usado como reles manobra para impor projetos antidemocráticos, um engodo na defesa de interesses particulares, um subterfúgio para evitar o debate público e, no presente caso, uma atitude inominável para o emprego de venenos que fatalmente estarão nos alimentos e na água da população!

As(os) senhoras(es) estão de acordo com isso? Seus votos estarão seguindo orientação de cordéis de gabinetes e de empresas, ou terão como referência o que será melhor para as pessoas e, inclusive importantíssimo, para os animais e meio ambiente?

A mão com a qual irão votar, poderá ou não ser a mão que aponta para suicídios! A verbalização do voto, poderá ou não ser a voz que condena crianças ao sofrimento por toda uma vida! A atitude parlamentar levará ou não angústias às famílias gaúchas! Mas no todo é certo que a manifestação do voto indicará os interesses que defendem, o caráter que possuem e formatarão a consciência que os acompanhará pelo resto de suas vidas!

Senhoras(es) deputadas(os), o que se apresenta está longe de ser uma simples votação mas, muito antes, as(os) senhoras(es) terão a oportunidade de defender a cidadania, de postarem-se contra um projeto de Brasil colônia, de não ficarem agachados para interesses da indústria do veneno, de mostrarem respeito ao povo gaúcho, de evidenciarem um mínimo bom senso, intelectualidade e de humanidade!

Assim, pelo presente exige-se o respeito para com a nossa população e meio ambiente, aguardando-se o voto contrário a esse projeto de lei, ou qualquer outro projeto de lei que deprecie a verdade e agrida a vida!

(*) Dr. Althen Teixeira Filho é professor titular do Instituto de Biologia, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::


SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Marcelo Ferreira