Rio Grande do Sul

Povos Indígenas

“Mãe não se vende, Mãe não se troca, Mãe não se privatiza!”

Nota técnica da APIB defende a Retomada Indígena Xokleng Konglui na Floresta Nacional São Francisco de Paula/RS

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Povo Xokleng Konglui reconhece o território da Floresta Nacional de São Francisco de Paula como parte de sua história e tradições - Reprodução

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) lançou uma nota técnica preliminar sobre o movimento de retomada de terra do Povo Indígena Xokleng Konglui, em uma pequena porção da Floresta Nacional de São Francisco de Paula (FLONA). A FLONA é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, considerada a primeira Unidade de Conservação (UC) no Estado do Rio Grande do Sul.

Segundo a APIB, a nota técnica "contém informações preliminares de natureza etnohistórica e socioambiental relacionadas ao movimento de retomada ancestral do Povo Xokleng Konglui", o que significa que foram analisadas a história deste povo indígena relacionado com sua situação social e com o território em questão. Mais especificamente, o especialista que compôs a nota parte da situação presente deste povo, baseado na sua relação com a FLONA. Segundo a nota, o Povo Xokleng Konglui reconhece o território da Floresta Nacional de São Francisco de Paula como parte de sua história e tradições.

A nota considera ainda o despacho de reintegração de posse, emitido no dia 24 de dezembro, tornando necessário que se levantem subsídios para justificar a presença daquele povo indígena naquela região. Entre essas provas, estão os próprios relatos do Povo Xokleng, que vem sendo expulso de suas terras principalmente graças à atividade madeireira na região:

" [...] considerando o velamento histórico em que seus antepassados foram condicionados no processo de descimento, esbulho e genocídio sobre seus corpos e territórios a partir do empreendimento de colonização e expansão das frentes madeireiras entre as terras baixas dos vales litorâneos e os campos de cima da serra, ao longo dos séculos XIX e XX".

A nota se propõe ainda a elencar alguns motivos que justificam a permanência indígena naquele território, lastreado por uma perspectiva de uma sociedade de Bem Viver, e propondo ainda ser um subsídio para o diálogo entre os órgãos competentes, visando o reconhecimento institucional e a gestão pacífica dos conflitos. Entre os elementos elencados estão:

  • O extenso conhecimento publicado em literatura especializada sobre a presença do povo Xokleng na região Meridional nos Campos de Cima da Serra no sul do Brasil. Entre eles, a arqueologia sobre “os buracos de bugres” de José Alberione dos Reis, a história dos ancestrais Botocutos Xokleng de Lauro Pereira Cunha, os trabalhos antropológicos da etnografia dos Xokleng Laklanõ de Silvio Coelho dos Santos, e também os mais recentes estudos de elementos linguísticos realizados pelo antropólogo indígena Nanblá Gakran, da etnia Xokleng;

  • O registro de 45 Sítios Arqueológicos no Cadastro Nacional de Sítio Arqueológicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (PHAN) para a região do Município de Francisco de Paula, incluindo registros na área da FLONA com remanescentes dos Povos Indígenas;

  • O reconhecimento de processos demarcatórios de Terras Indígenas da FUNAI pelo Estado do Rio Grande do Sul, como consta no Atlas Socioeconômico (2020), em “processo de estudo”, relacionados à Etnia Xokleng, no Município de São Francisco de Paula;

  • O processo jurídico envolvendo a Terra Indígena Ibirama, no Estado de Santa Catarina, a qual tramita no Supremo Tribunal Federal (ACO 1100), aguardando julgamento;

  • O contexto de concessões de parques e florestas à iniciativa privada, sem que os povos indígenas sejam consultados;

  • Da mesma forma, o Despacho Nº 11, em que a gestão da Floresta Nacional de São Francisco de Paula aprovou o Plano de Uso Público, sem a consulta e reconhecimento dos Povos Indígenas, especialmente da etnia Xokleng, mesmo que essa demanda estivesse registrada formalmente desde o ano de 2011 perante o Ministério Público Federal, conforme informações dispostas no Inquérito Civil n. 1.29.002.000553/2020-21;

  • O “I Seminário sobre Unidades de Conservação e Conflitos Etnoambientais”, realizado no período de 8 a 10 de dezembro de 2010, no Hotel São Sebastião, em Florianópolis (SC), organizado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade (CNPT-SC) e a Coordenação Regional 9 (CR9), com o apoio da Diretoria de Extrativismo/Gerência Indígena do MMA e da Gerência de Gestão Socioambiental/Coordenação de Conflitos, do ICMBio, para discussão e a elaboração de estratégias a fim de solucionar os conflitos etnoambientais entre UC e comunidades indígenas, onde participaram representantes de UCs envolvidas em conflitos com comunidades indígenas, direta e indiretamente, incluindo gestores da Floresta Nacional de São Francisco de Paula;

Acesse a nota técnica completa aqui


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Edição: Katia Marko