Pernambuco

ENTREVISTA

Deputado federal Carlos Veras (PT) protocola PL para debater fake news nas escolas

Veras aponta a necessidade de debater mídias sociais no ambiente escolar e fala da democratização do acesso à internet

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Carlos Veras foi presidente da CUT Pernambuco e atualmente é deputado federal
Carlos Veras foi presidente da CUT Pernambuco e atualmente é deputado federal - Gustavo Bezerra

No Brasil, três em cada quatro brasileiros acessam a internet, o que equivale a 134 milhões de pessoas, segundo a pesquisa TIC domicílios 2019. A maioria usa as mídias digitais como Facebook e Instagram como fonte de informação. 

Foi pensando no impacto das redes sociais na vida das pessoas que o deputado federal Carlos Veras (PT-PE) protocolou o Projeto de Lei 5597/2020, que inclui o conteúdo sobre a influência das mídias digitais na sociedade nos currículos do ensino fundamental, por meio de alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).  Por isso, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou o deputado para entender melhor o propósito e as questões que envolvem o tema. Confira:

BdF PE: Deputado, como o senhor chegou a esse tema e porque ele lhe chama atenção?

Carlos Veras: Nós temos avançado nesse debate no Congresso Nacional e na sociedade com o combate às fake news, mas isso por si só não é suficiente. Precisamos debater no corpo da sociedade e da comunidade escolar os efeitos que as mídias sociais têm na vida dos estudantes. Há dados que apontam que elas levam à depressão e à mudança do comportamento das pessoas. Por isso, o parlamento não pode ficar fora desse debate, porque as novas ferramentas de comunicação são importantes para aproximar as pessoas, mas temos que debater sobre tudo que elas podem fazer e isso tem causado transtornos na sociedade. Por isso apresentamos o PL, para que a comunidade escolar possa debater e preparar os jovens e crianças para lidar com essas mídias sociais para que elas não caiam em armadilhas, golpes e não seja atraídas para esses espaços que promovem e reproduzem as fake news.

BdF PE: Qual o papel do legislativo nesse processo?

CV: Eu apresentei o Projeto de Lei e ele vai para a mesa para ser aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado para entrar na grade curricular e nas escolas para que os estudantes e professores possam se debruçar sobre esse tema. O que cabe à gente é poder aprovar esse projeto para que o debate aconteça no corpo escolar. 

BdF PE: Como o senhor imagina esses debates nas escolas e porque nas escolas? 

CV: Porque a escola é um espaço de formação e transformação dos estudantes e tem que ser lá porque é nesse espaço que também acontecem as interações nas mídias sociais. A escola é o principal espaço de debate, de esclarecimento e de conscientização para utilizar essas mídias com responsabilidade para que não haja dependência, porque ela prejudica a saúde, a vida pessoal, e profissional... Se isso não é feito na escola para educar os nossos jovens e crianças, o que será da nossa população? O espaço ideal e adequado para se fazer esse debate é a escola.

BdF PE: Na sua avaliação, alguma coisa seria diferente se já tivéssemos essa abordagem sobre as redes sociais nas escolas? Como teriam sido, por exemplo, as eleições de 2018?

CV: Não tenho dúvidas de que seria diferente. As pessoas não iam cair nas fakes news e em tantas mentiras. O Brasil não teria escolhido um presidente que tinha uma pauta e implantou outra rapidamente em cima das mentiras. É muito importante as pessoas saberem que nem tudo que aparece nas redes sociais é verdadeiro, há todo um processo de filtrar as informações e se esse debate já existisse no mundo escolar a posição e a decisão da população nas eleições seriam totalmente diferentes, tanto nas eleições de de 2018 como agora em 2020.

BdF PE: Nesse contexto de pandemia entramos em contato com muitas desigualdades. Uma delas é a dificuldade de acesso à internet e várias escolas públicas tiveram dificuldade na participação dos alunos por conta disso. Como debater redes sociais em um país onde nem todo mundo tem acesso à internet de qualidade?

CV: Exatamente, por isso se torna cada vez mais importante, porque muitos grupos econômicos e empresariais começam a utilizar dessa ferramenta para monopolizar seus produtos. É um debate que envolve vários setores, inclusive as empresas fornecedoras de internet e desenvolvedores de aplicativos. A gente vê propagandas que condicionam o acesso a algumas redes e isso é errado, não se pode obrigar uma pessoa a ter acesso a apenas alguns canais de informação. Por isso é importante o debate. Garantir que na rede pública [de educação] e nas periferias chegue internet, que os estudantes possam ter um aparelho para acessar os conteúdos. Esse debate é necessário e urgente porque a pandemia nos mostrou que não dá pra ter aulas remotas porque nem todo mundo tem acesso à internet, porque os pacotes de texto não suportam os programas. Esses debates precisam ser feitos com certa urgência para garantir o acesso à informação para toda a população e com responsabilidade. 

 

Edição: Monyse Ravena